- Centre de Recherches Latino-Américaines
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- FRANCE
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Este acervo reúne cerca de 4 000 folhetos, o que constitui a maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira, ainda que também possua alguns folhetos de outros países como Portugal e França.
A ela soma-se o arquivo pessoal de Raymond Cantel, composto de cartas, manuscritos, recortes de jornais, slides, vídeos, gravações sonoras de repentistas... – os quais enriquecem sobremodo o conjunto, visto que reveladores do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil.
Os folhetos serão os primeiros documentos do acervo acessíveis na Biblioteca Virtual Cordel; o resto do acervo está em vias de digitalização.
Nos seus primórdios, ao longo dos anos 1930, os estudos sobre a literatura de cordel tinham como objetivo principal valorizar a riqueza cultural de uma expressão popular muito presente no nordeste brasileiro. A partir dos anos 1950, esses estudos ficaram marcados por análises filológicas, intertextuais, semiológicas, ideológicas, sociológicas e morfológicas. Estas abordagens relacionaram a literatura de cordel brasileira com outras literaturas que revestiam características similares do ponto de vista formal e temático, tal como a literatura medieval europeia.
Fora algumas exceções, este período também se caracteriza por abordagens herméticas, por vezes redutoras e folclorizantes, que não dão a devida importância ao fenômeno literário e à questão da autoria. Se, a partir dos anos 1990, se multiplicam os estudos sobre cordel nas mais variadas áreas, em particular em antropologia, história e comunicação, a sua dimensão propriamente literária continua pouco estudada.
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade da Sorbonne. Entre os anos 1950 e 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, e diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2002, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
Nesse conjunto, a noção de “literatura de cordel” remete hoje para uma constelação de expressões dentro da qual a “cantoria” ocupa um lugar central desde o século XIX, o que confere às gravações sonoras e aos vídeos do acervo Raymond Cantel um valor essencial.
Foi em grande parte graças ao trabalho de Cantel que a literatura de cordel ganhou reconhecimento internacional e passou a ser vista como tema digno de estudo por pesquisadores do mundo inteiro. A Universidade de Poitiers desempenhou desde os anos 1990 um papel decisivo na divulgação deste trabalho e na revalorização do cordel em Poitiers, enquanto, paralelamente, começava no Rio de Janeiro a digitalização do acervo da Fundação Casa Rui Barbosa.