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Text
LEANDRO
GOMES
DE
BARROS
Proprietárias: Filhas de José Bernardo da Silva.
HISTORIA
DO
CACHORRO DOS MORTOS
f
��Leandro Gomes de Barros
Proprietárias.- Pilhas de José
Bernardo" da Silva
Cachorro los Mortos
Os nossos antepassados
eram muito prevenidos
diziam: matos têm olhos
e paredes têm ouvidos
os crimes são descobertos
por
mais
que sejam
escondidos
Em oitocentos e seis
na província da Bahia
distante da capital
3 léguas ou menos seria
Sebastião de Oliveira
ali num canto vivia
Ele, a mulher e duas filhas
e um filho já homem feito
o rapaz era empregado
e estudava Direito
o velho não era rico
mas vivia satisfeito
As duas filhas eram moças
honestas, trabalhadoras
logravam na capital
o nome de encantadoras
chamavam atenção de todos
as grandes tranças tão loura
�Esse velho era ferreiro
e ferreiro habilitado
vivia do seu oficio
plantando e criando gado
pro três vezes enjeitou
o cargo de delegado
Havia um vizinho dele
Eliziário Amorim
esse tinha um filho único
da espécie de Caim
enquanto o espanhol velho
até não era ruim
O filho desse espanhol
era uma fera carniceira
veio provocar namoro
com as filhas de Oliveira
uma delas disse a ele:
de nós não há quem o queira
Ele disse: tu não sabes
que meu pai possui dinheiro? .
em terras e criações
é o maior fazendeiro?
ela disse: o meu é pobre
planta, cria e é ferreiro
—Minha mãe tece de ganho
nós vivemos de ct-stura
meu pai vive de sua arte
e de sua agricultura
meu irmão é empregado
para que maior ventura?
�O sedutor conhecendo
seus planos serem debaldes
e só podia vencê-la
por meio de falsidade
que é a arma mais própria
aonde existe a maldade
Saiu dali Valdivino
fedendo a chifre queimado
e Angelita ficou
com o coração descansado
nem disse aos outros de casa
o que tinha se passado
Ele pensou em forçá-la.
mas pensou no resultado
devido o pai de Angelita
ser muito considerado
o filho pelo governo
era bem conceituado
Exclamava ele consigo:
oh! Angelita és tão bela
eu não sossegarei mais
e nem me esquecerei dela
farei tudo pra vencé-la
porem não caso com ela
Mas Valdivino temia
o pai dela e o irmão
que o governo da provincia
tinha-lhes muita atenção
o rapaz era empregado
e tinha consideração
�Valdivino inda pensou
que matando Floriano
podia calçar som ouro
todo governo baiano
ainda que entrasse em jùri
não passava nem um ano
Ou poderia matá-lo
oculto numa emboscada
pois ninguém vendo o crime
ele não sofria nada
defunto não conta historia
estava a questão acabada
Havia ali um engano
entre Vitória e Bahia
a divisão das províncias
ali ninguem conhecia
Sebastião de Oliveira
era o único que sabia
O governo da provincia
tendo aquela precisão
disse um dia: Floriano
você vá em comissão
chamar seu pai para vir
mostrar a demarcação
Valdivino de Amorim
viu Floriano passar
escolheu o lugar próprio
onde pudesse emboscar
dizendo dentro do si:
ele não pode escapar
�A fera foi emboscá-lo
onde havia uma capoeira
carregou um bacamarte
fez duma arvore trincheira
distante um quarto de légua
da fazenda de Oliveira
O rapaz chegou em casa
o velho tinha saido
ver se achava um jumento
que havia se sumido
um amigo lhe escreveu
que lá tinha aparecido
O Floriano chegou
depois que o velho saiu
nesta tarde não voltou
com a familia dormiu
deu o recado a mãe dele
de madrugada seguiu
Calar, um cachorro velho
que Sebastião criou
quando Floriano saiu
Calar o acompanhou
Floriano o quis voltar
porem Calar não voltou
Passava ali Floriano
a fera então enfrentou-o
disparou o bacamarte
sem vida em terra lançou-o
Calar partiu ao sicário
o assassino amarrou-o
�As moças lá na fazenda
ouviram o estampido
Angelita se assustou
dizendo: que terá sido?
o tiro foi para o lado
que seu irmão tinha ido
Angelita aí convidou
a sua irmã Esmeralda
dizendo: vamos aqui
a passeio pela estrada?
aquele tiro que deram
deixou-me sobressaltada
No sertão naquele tempo
podia uma moça andar
passavam 2 ou 3 meses
sem nenhum homem passar
por isso foram elas duas
não tinham o que recear
Iam ali conversando
sobre a aragem matutina
disse Esmeralda a irmã:
olha para o céu, menina
estás vendo aquelas estrelas
como têm a luz tão fina?
Chegaram aonde o irmão
estava morto na estrada
o criminoso, do mato
atirou em Esmeralda
e enfrentou Angelita
dizendo: não diga nada
�Angelita muita pálida
sem estar esmorecida
vendo os 2 irmão já mortos
por uma mão homicida
lhe disse: monstro tirano
eu morro e não sou vencida!
Ele disse: Angelita
com tudo isto sou teu;
foi dar-lhe uni beijo nos lábios
mas Angelita o mordeu
ele cravou-lhe o punhal
e ela esmoreceu
Pondo a mão na punhalada
disse: monstro desgraçado
aquele velho cachorro
que está ali amarrado
descobrirá estes crimes
e tu serás enforcado!
Olhou para a gameleira
que tinha junto a estrada
dizendo tu, gameleira
viste este cena passada?
és uma das testemunhas
quando a hora for chegada!
Já na última agonia
exclamou: monstro assassino
tiraste agora 3 vidas
e não sacias o destino?
isso hei de te lembrar
perante o Juiz Divino!
�— N ã o julgues que
fique impune
este sangue no deserto
tu não vês três testemunhas,
que estão aqui muito perto?
estas perante ao público
dão depoimento certo!
Disse Valdivino: és louca
quem viu o que foi passado?
disse Angelita: esse cão
que está ali amarrado
a gameleira e as flores
dirão no dia chegado
Olhou para o cão e disse:
olha, meu velho Calar
tu dirás tudo ao juiz
sem ele te perguntar
essa velha gameleira
fica para te ajudar
—Essas flores que por elas
há festa aqui todo ano
há de tirar a justiça
duma suspeita ou engano
dirá ao juiz: venha ver
quem matou a Floriano!
—As 3 vidas que roubaste
pagarás com tua vida
tu hás de te arrepender
depois da causa perdida
uma lágrima de dor
será por teu pai vertida!
�—Contudo, monstro, perdôo-te
porque fui e sou cristã
a morte do meu irmão
a minha e de minha irmã
tu hoje matas a mim
outro te mata amanhã!
E pondo a mão sobre uma
das punhaladas que tinha
disse a Calar: se fugires
consola a minha mãezinha
e diga-lhe que abençoe
os pobres filhos que tinha!
—Embora que tu não fales
pois não te foi concedido
mas um olhar bem olhado
dá idéia dum sentido
um uivo e um olhar
pode ser compreendido
E ali cerrando os olhos
quase a sorrir expirou
o assassino olhando-a
chorando se retirou
depois pensou: isto é nada!...
com toda calma voltou
Já estava frio o cadáver
porem nas faces mimosas
via-se perfeitamente
desenho de duas rosas
como se fossem pintadas
por mãos das mais curiosas
�Em Esmeralda se via
o sangue ainda saindo
vestígio de zombaria
como quem morre sorrindo
como criança que brinca
finge que está dormindo
O rapaz banhado em sangue
bem no meio da estrada
à esquerda de Angelita
à direita de Esmeralda
com uma mão na ferida
e a outra mão estirada
Valdivino tinha à noite
escrito numa carteira:
«eu hoje hei de matar
«Floriano de Oliveira
«se não matá-lo me mato
«será minha derradeira»
Datou-a e assinou o nome
pegou a arma e saiu
se .encostou na gameleira
e a carteira escapuliu
havia um ôco na árvore
nele a carteira caiu
A fera, não se lembrou
da testemunha ocular
perdendo aquela carteira
alguem podia a achar
ela na mão da justiça
quem poderia o salvar?
�Porem uma força oculta
permitiu que ele perdesse
e a mesma força impôs
que dela ele esquecesse
para dizer a seu tempo:
o assassino foi esse!
Calar, o velho cachorro
que aquele espetáculo via
soltando uivos enormes
que muito longe se ouvia
rosnava e filava os olhos
debalde a corda mordia
Valdivino ali puxando
um facão muito afiado
descarregou no cachorro
um golpe encolerizado
errou e cortou-lhe a corda
com que estava amarrado
Valdivino ficou triste
vendo o cachorro correr
lembrou-se do que Angelita
disse antes de morrer
porem disse: ele não fala
como poderá dizer?
Calar chegou na fazenda
uivando desesperado
D. Maria da Glória
já tinha se levantado
quando viu o cão uivando
aí cresceu-lhe o cuidado
�E foi procurar os filhos
onde ouviu os estampidos
Calar foi adiante uivando
com enormes alaridos
D. Maria da Glória
ia aguçando os ouvidos
Como não foi seu espanto
quando chegou no lugar
onde achou os filhos mortos
sem nada ali atinar?
Calar sabia de tudo
mas não podia falar
Voltou Maria da Glória
num triste e penoso estado
já Sebastião em casa
a esperava sentado
não sabia da desgraça
que há pouco tinha se dado
Perguntou pela família
ela não pode contar
disse apenas: morreu tudo!.,.
e apontou para o lugar
estendeu-se para um lado
sem nada mais atinar
Sebastião de Oliveira
foi por onde a mulher veio
achou a poça de sangue
os filhos mortos no meio
olhou para o céu e disse:
oh! meu Deus que quadro feio!
�Foi perguntar à mulher
como aquilo foi se dado
ela apenas lhe contou
o que tinha se passado
deixando o pobre ancião
aflito e impressionado
Montou um burro e saiu
dali para a capital
quando chegou na cidade
foi ao quartel general
lá falou mais duma hora
e nada disse afinal
Depois de muita insistência
o presidente entendeu
perguntou por Floriano
ele lhe disse: morreu
ele a a familia toda!..
e contou o qne se deu
A justiça foi atrás
ver o que tinha se dado
encontrou os 3 cadáveres
no chão em sangue banhados
Calar estava uivando
junto dos mortos deitado
Foram à casa de Oliveira
ver se Maria da Glória
dava 1 roteiro que ao menos
se calculasse uma historia
ela contou essa mesma
qu'eles guardam na memória
�D. Maria da Gloria
dois dias depois morreu
Sebastião de Oliveira
com três dias enlouqueceu
dentro de duas semanas
tudo desapareceu
A justiça da Bahia
não cessou de procurar
espalhou por toda parte
secretos a indagar
não havia uma pessoa
que dissesse: eu vi matar
Dava dez contos de réis
na moeda que quisesse
á pessoa que chegasse
e seriamente dissesse
teria mais um terreno
e pessoa que soubesse
Porem o crime se deu
quando ali ninguem passava
Calar sabia de tudo
porque no crime ele estava
se falasse descobria
desejo não lhe faltava
Impressionava a todos
habitantes da cidade
como deu-se aquele crime
naquela localidade
Floriano de Oliveira
todos lhe tinham amizade
�Atribuiu-se a um roubo
por algum aventureiro
mas o rapaz costumava
a não andar com dinheiro
questão de moça não era
ele era justiceiro
Os moradores de perto
eram todos conhecidos
compadres dele e do pai
e por eles protegidos
tanto que se dando o crime
todos ficaram sentidos
Eliziário era um desses
abortos que têm havido
desses que o pão que come
o considera estruído
fazer-lhe o mal é pecado
fazer-lhe o bem é perdido
Esse era fazendeiro
porem dali não saía
nem era bem conhecido
no comércio da Bahia
só aonde vendia lã
alguem lá o conhecia
E o dono do açougue
onde ele vendia gado
o banco onde ele tinha
dinheiro depositado
tanto que deu-se esse crime
e dele não foi lembrado
�I
I I B H H H i a
(16)
Sentiu e chorou bastante
a morte do camarada
e não foi a missa dele
por não ser madrugada
pois só tinha uma camisa
e esta estava rasgada
Tambem procurou saber
qual seria o assassino
não sei se pelo dinheiro
ou pelo proprio destino
mas nunca lhe veio à mente
ser seu filho Valdivino
Onde deu-se o crime havia
duas estradas em cruz
diziam que ali se achavam
umas flores muito azuis
formando uma lapa igual
a do Menino Jesus
Os baianos costumavam
desde a antiguidade
fazerem uma grande festa
naquela localidade
véspera e dia de ano
ali era novidade
Na capital da Bahia
não havia outro festim
havia missa campal
orquestra e botiquim
bailes naquelas latadas
bem cobertas de capim
Mi,
�Em oitocentos e nove
estava a festa a terminar
um velho que ali passava
passou naquele lugar
atrás desse caçador
vinha o cachorro Calar
Abrigou-se numa sombra
vinha muito esbaforido
foi cheirar o pé da cruz
que o senhor tinha morrido
cheirou a das duas moças
e depois soltou um ganido
Estava ali o general
o bispo e o presidente
com o chefe da policia
homem muito experiente
todos ficaram daquilo
impressionadamente
O general perguntou
de quem era aquele cão
respondeu o velho Pedro:
este cachorro, patrão
é do defundo Oliveira
que Deus dê-lhe a salvação
— Este cachorro é o rei
dos cachorros caçadores
ainda adora o lugar
que mataram seus senhores
se fosse de madrugada
seus uivos faziam horrores
�Disse o chefe de policia
inda não se descobriu
a morte de um patriota
que tanto a patria serviu?
foi logo nesse deserto
em horas que ninguem viu
Disse ali o presidente:
se ainda se descobrir
o autor dessas 3 mortes
eu juro a Deus o punir
serei o carrasco dele
quando ele a forca subir
—Sebastião de Oliveira
era um pobre acreditado
a familia deu exemplo
o filho, um rapaz honrado
era um rapaz distinto
por todo mundo estimado
Então disse o general:
isso ainda é descoberto
o crime foi muito oculto
feito aqui neste deserto
mas quando chegar o dia
há de saber-se per certo
- Se eu vivo for nesse tempo
serei o algoz mais forte
serei um dos que conduz
para o teatro da morte
com a minha própria mão
amolo o ferro que o corte
�O cachorro ouvindo aquilo
ergueu-se muito contente
foi aos pés do general
festejou o presidente
como quem dizia; o crime
é punido certamente
Disse o bispo: esse cachorro
é testemunha ocular
ele viu quem fez as mortes
só falta é ele apontar
se ele visse o criminoso
podia lhe denunciar
Disse o velho: esse cachorro
fez uma coisa esquesita
tinha uma cobra enroscada
onde mataram Angelita
ele despedaçou-a a dentes
quase que se precipita
Disse o velho: este cachorro
nos pés das cruzes se lança
solta um uivo muito triste
como quem pede vingança
como quem pede debalde
sem ter daquilo esperança
Nisto chega um cavaleiro
Valdivino de Amorim
andava fora, inda vinha
ver se alcançava o festim
vinha num burro possante
alvo de côr de marfim
�Assim que o cachorro viu
Valdivino se apear
rosnou e partiu a ele
querendo lhe estraçalhar
só não rasgou-lhe a garganta
devido o velho o pegar
Tremia o queixo e babava
fitando ali Valdivino
uivava como quem já
tivesse perdido o tino
só faltava era dizer:
eis aí o assassino
E foi para o pé da cruz
e ali pegou a uivar
fitando os olhos ao céu
como quem quer suplicar
como quem dizia: ó Deus
vens que não posso falar!
O bispo disse: Valdivino
você está descoberto
o senhor foi o autor
das mortes neste deserto
aquele cachorro deu
um depoimento certo
O monstro viu o perigo
fez tudo para negar
o bispo disse: meu filho
não há mentira em olhar
os olhos são verdadeiros
não podem nada ocultar
�Os olhos tambem se queixam
um olhar diz o que sente
ameaça ou traição
punição severamente
declara mágoa ou a dor
porem o olhar não mente
- O olhar daquele cão
está demostrando a dor
o sentimento profundo
da morte de seu senhor
ele só falta falar
e apontar o matador
Naquilo duas crianças
que estavam em brincadeira
uma delas se trepou
no galho da gameleira
tirando um ninho de rato
achou nele uma carteira
O leitor deve lembrar-se
dum verso que aqui já leu
veja na vespera do crime
o que Valdivino escreveu
que no tronco da gameleira
a carteira se perdeu
Ali trouxeram a carteira
entregaram ao general
o bispo disse: senhor
o que lhe disse afinal
não lhe disse que os olhos
só dizem o que é legal?
�Valdivino descobriu tudo
em sua interrogação
Calar ali demonstrou
ter grande satisfação
pulava um metro de altura
e rolava pelo chão
Corria escaramuçando
como que estava em folia
festejou o general
com desmarcada alegria
como quem dizia: nesse
encontrei o que queria
O povo todo da festa
quis a Valdivino linchar
o bispo e o presidente
trataram de acomodar
garantindo que a justiça
havia de o castigar
Saiu preso Valdivino
Calar o acompanhou
o velho Pedro chamava
n a s ele não escutou
voltou quaado Valdivino
preso nos ferros deixou
O general ao sair
ordenou ao cozinheiro
que desse ao velho Calar
um bom lombo de carneiro
porque muito merecia
aquele bom companheiro
�O criado deu o lombo
Calar nem pra ele olhou
saiu o povo de festa
e o lombo lá ficou
o cachorro veio comer
à noite quando voltou
A mulher de Eliziário
sabendo o que aconteceu
deu-lhe uma ataque tão forte
que no chão se estendeu
passou a noite sem fala
no outro dia morreu
Juvenal, um espanhol
parente de Eliziário
chegando lá disse ao velho:
você é milionário
compre 3 ou 4 médicos
que provem ele está vário
—Porque ele estando vário
não poderá ser julgado
o processo fica invalido
não pode ser condenado
aí o senhor procura
o melhor advogadc
Eliziário pensou
aquilo se? acertado
do contrário, Valdivlno
ia ser executado
e tinha toda certeza
ele morrer enforcado
�Dirigiu-se à capitai
procurou um advogado
esse arrumou cinco médicos
sendo o réu examinado
provaram que há 4 anos
ele era tresloucado
O bispo e o presidente
consultaram ao general
mandaram vir 4 médicos
do reino de Portugal
e fizeram na Bahia
uma junta especial
Vieram de Portugal
4 médicos escolhidos
que por dinheiro sem conta
não serism iludidos
esses homens de caráter
jamais seriam vendidos
E examinaram o réu
e cada um de persi
depois disseram que nunca
houve tal loucura ali
nem sequer nervoso havia
todoe juraram aí
Fizeram novo processo
depois dele examinado
estando pronto o processo
Valdivino foi julgado
a sentença que pegou
foi para ser enforcado
�Não havia mais recurso
estava tudo consumado
o réu dali a três dias
ia ser executado'
não tinha mais o que apelar
já tinha sido julgado
O velho quase sem jeito
sem nada mais conseguir
tentou o último meio
a fim do filho fugir
mas só dos degraus da força
podia se escapulir
Então soube que o carrasco
era um tal de Zefirino
um calibre mais ou menos
igual ao de Valdivino
tinha os 3 dons da desgraça
covarde, vil, assassino
Era um mulato, laranjo
de aspecto aborrecido
o couro da testa dele
sempre se via franzido
os cabelos bem vermelhos
rosto largo, não comprido
Foi o velho Elizário
a esse tal Zefirino
ver se ele podia dar
evasão a Valdivino
dizendo: ele pula da forca
e depois toma destino
�—Pegue dez contos de réis
que lhe dou adiantado
e se tiver a fortuna
dele não ser enforcado
dar-lhe-ei mais 20 contos
o dinheiro eetá guardado
Então disse Zeíirino:
isso é dificil arranjar
. porem quando ele subir
eu finjo que descuidar
ele que vai prevenido
trate logo de saltar
Disse Zefirino ao velho:
o senhor deve aprontar
um cavalo bem ligeiro
para quando ele saltar
montar-se logo e correr
antes do povo chegar
—Eu hoje direi a ele
tudo que está planejado
que côr será o cavalo
que há de estar selado?
—Diga que é o poldro cobra
em que ele andada montado
Valdivino quando soube
dessa consulta que havia
ficou como uma criança
�chorava de alegria
jurando no mesmo instante
que Calar lhe pagaria
E quando chegou o dia
estava o povo aglomerado
Valdivino de Amorim
ia ser executado
tudo ali estava esperando
ele morrer enforcado
Presente ao estado maior
que vinha presenciar
subiu Valdivino à forca
Zefirino foi laçar
porem ele se encolhendo
conseguiu dali saltar
E saiu como uma flecha
entre o povo se meteu
se montando no cavalo
dali desapareceu
internando-se no mato
num instante se escondeu
O povo indignou-se
com a fuga de Valdivino
um deles que ali estava
estrangulou Zefirino
porque esse tinha dado
evasão ao assassino
�Porem chegou o cachorro
quase na ocasião
soltou dois ou três latidos
saiu de venta no chão
63 praças foram
também na perseguição
Porem Val divino ia
em bom cavalo montado
tinha grande desvantagem
por não ter saido armado
e Calar no rasto dele
gania muito vexado
Foi preso Eliziário
como autor da evasão
o povo não o matou
porem foi para a prisão
e o bispo que saiu
pedindo a população
Era meia-noite em ponto
Valdivino inda corria
o cavalo já cansado
que nada mais resistia
e o cachorro Calar
de vez enquando latia
Valdivino conhecendo
que nada a ele valia
e o cachorro Calar
�seu rasto não deixaria
pensou em suicidar-se
só assim descansaria
Dentro do mato apeou-se
e amarrou o cavalo
encostou-se numa pedra
sentiu alguem acordá-lo
nisto o cavalo espantou-se
ele não pode pegá-lo
Seguiu por uma verêda
descalço e todo rompido
ouvindo de vez em quanto
Calar soltar um ganido
foi sair bem no lugar
que o crime tinha havido
Ele viu a gameleira
que sombreava a estrada
Floriano de Oliveira
Angelita e Esmeralda
Sebastião de Oliveira
e dona Maria prostrada
Viu vir uma carruagem
nela vinha uma magistrado
que saudou os 5 vultos
depois de ter se apeado
exclamou: sangue inocente
breve há de ser vingado!
�Tornou a tomar o carro
se montando foi embora
nesse momento Calar
vem com a lingua de fora
festejou todos os vultos
e partiu na mesma hora
Um dos vultos chamou ele
o cachorro estacou
Valdivino não ouviu
o que o fantasma falou
só ouviu foi dizer; volte...
e o cachorro voltou
O criminoso pensou
que ali não escaparia
lembrou-se duma pessoa
que morava na Bahia
pois tinha onde ocultá-lo
que nem o cachorro via
Era um compadre e amigo
a quem ele protegeu
que com dinheiro do pai
esse tal enriqueceu
e ia sempre visitá-lo
quando a justiça o prendeu
Valdivino calculou:
o que eu devo fazer
é ir para o quintal
�por ali me esconder
ou ele ou a mulher dele
um há de me aparecer
E saiu o assassino
chegando lá se escondeu
não houve ali quem o visse
quando o dia amanheceu
o compadre veio fora
e ele lhe apareceu
Valdivino lhe pediu
que nãò o deixasse morrer
disse-lhe o velho Roberto:
eu tenho oade te esconder
porem ninguém mais daqui
disso não pode saber
Quatro dias decorriam
e o assassino escondido
debaixo dumas madeiras
estava ele metido
o pai dele na cadeia
já ia ser concluido
Num dia de quarta-feira
o velho Calar chegou
a forca inda estava armada
Calar ali a olhou
cravando a vista no céu
um uivo triste soltou
�Veio ali o presidente
que trouxe um pão e lhe deu
Calar olhou para ele
cheirou-lhe os pés e gemeu
botando o pão entre as mãos
deitou-se e ali comeu
Chegou a força do mato
não trazendo o criminoso
o general com aquilo
ficou muito desgostoso
até o governador
ficou doente e nervoso
O povo em redor da forca
só fazia lamentar
que o pai do assassino
devera se executar
todos pediam ao governo
que o mandasse enforcar
O cachorro levantou-se
como quem está chamando
foi à casa do Roberto
na porta ficou uivando
olhava para Roberto
partia a ele rosnando
O general com aquilo
ficou bastante nervoso
e disse ao governador:
�Cachorro dos Mortos —33 estou muito receoso
que ali naquela casa
está oculto o criminoso.
Então a força cercou
toda casa de Roberto
o cachorro só faltava
era dizer; está perto;
o general disse a ele:
o senhor está descoberto
Roberto ali descobriu
o assassino onde estava
debaixo dumas madeiras
o monstro se conservava
foi levado ao pé da forca
onde o povo lhe esperava
Contou tudo que se deu
antes de ser enforcado
os vultos que viu nas cruzes
a quem tinha assassinado
o segredo do cachorro
e o carro do magistrado
As 5 horas da tarde
a justiça o enforcou
o pai dele estava preso
assim que o sino dobrou
ali soltando um gemido
na mesma hora expirou
�Estando morto o assassino
o botaram sobre o chão
o cachorro olhou-o bem
chamando tudo atenção
soltou 2 ou 3 latidos
que espantou a multidão
Quando a polícia ordenou
pra ser o corpo inhumado
sobre os pés do general
Calar caiu mui cansado
talvez querendo dizer:
general, muito obrigado!
O general foi ver água
ao cachorro ofereceu
ali o velho Calar
dois goles dágua bebeu
trouxeram-lhe uma fritada
porem ele não comeu
Festejando o general
as pernas dele abraçou
dirigiu-se ao presidente
e a mesma ação obrou
depois desapareceu
novo destino tomou
Foi direitinho ao lugar
que o horrendo crime se deu
no pé da cruz de Angelita
�ele cavou e gemeu
o velho Pedro o chamou
mas ele não atendeu
Deitou-se entre as 3 cruzes
sua vida liquidou
nas condições dum guerreiro
que da batalha voltou
trazendo loiros- de guerra
à sepultura baixou
O general quando soube
que Calar era sumido
e que faziam 3 dias
que não era aparecido
mandou gente procurá-lo
ficando muito sentido
Sairam 5 ou 6 praças
em procura de Calar
o general tinha dito:
não voltem sem o achar
tragam ele direitinho
não o façam maltratar
As praças foram ao lugar
onde os crimes tinham havido
onde a familia Oliveira
tinha toda sucumbido
bem no pé duma das cruzes
tinha o velho cão morrido
�Tinha posto termo a vida
o maior dos lutadores
o que em sua existencia
viu o horror dos horrores
que sem falar descobriu
quem matou os seus senhores
O general quando soube
da forma que o tinha achado
mandou fazer uma cova
e nela foi enterrado
um dos amigos mais firmes
que no mundo foi criado
E na morte dos senhores
ele afirmou ter ação
provou que tinha amizade
ao velho Sebastião
a morte só foi vingada
por sua perseguição
Só não fez foi dizer nada
mas provou por sua vez
apontou só com a vista
o monstro que os crimes fez
seus olhos diziam ao público:
este matou todos três
Deitou-se encostado as cruzes
que tinham edificado
tinha morrido há três dias
�Bem sequer estava inchado
como quem dizia: agora
posso morrer, estou vingado
Mais de duzentas pessoas
assistiram enterrar ele
devido a grande firmeza
que tinha se visto nele
muitas flores naturais
deitaram na cova dele
A g o r a , vejam leitores
quem era o velho Calar
e como Sebastião
um dia pode o achar
ele tinha cinco dias
o dono ia o matar
Então o velho Oliveira
achou ser ingratidão
matar aquele inocente
embora fosse ele um cão
porem disse: a caridade
não se faz só a cristão
E levou-o para casa
disse à mulher que criasse
dizendo: pode ser bom
algum dia inda caçasse
quando nada da fazenda
t a l v e z os bichos espantasse
�De íato, Calar criou-se
e era um cão caçador
maracajá e raposa
tinha dele tal pavor
que passavam muito longe
da fazenda do senhor
Era o vigia da noite
um minuto não dormia
numa coisa que guardavam
o velho cão não bolia
só quando os donos lhe davam
era que ele se servia
A familia de Oliveira
às vezes a conversar
a velha dizia aos filhos:
este cachorro Calar
tem expressões de pessoa
que conhece o seu lugar
Em casa do dono dele
à noite nada chegava
um bacurau que voasse
ele se erguia e ladrava
do puleiro das galinhas
até coruja espantava
í
Como era muito bom
o dono sempre caçava
porem a vizinho algum
�à noite acompanhava
e só ia para o mato
quando o senhor lhe chamava
Depois de terem morrido
os senhores de Calar
o pobre cão toda noite
ia pra aquele lugar
olhava para as 3 cruzes
levava a noite a uivar
Latia e fitava o céu
que causava pena e dó
via sangue no capim
ele cobria com pó
não qneria ir pra casa
passava o dia ali só
O velho Pedro dos ânjos
vizinho de Sebastião
achou que aquele animal
merecia compaixão
chamou-o para não vê-lo
morrer sem ter remissão
O velho Pedro caçava
toda noite com Calar
mas ele só ia à caça
depois que ia ao lugar
aos pés daquelas cruzes
não deixava de uivar
�Assim morreu o Calar
ficou também descansado
era um cão porem deixou
o nome imortalizado
morreu depois de vingar
quem já o tinha livrado
Leitores, não levantei falso
Escrevi o que se deu
Acreditem que este fato
Na Bahia aconteceu
Depois de lutar então
Rolou Calar sobre o chão
Onde seu senhor morreu
— FIM —
Juazeiro, 29/05/76
A T E N Ç AO!
Se o a m i g o d e s e j a r manda f a z e r seu
Horóscopo porque
deseja
saber para
que p a r t e d e v e ir, casamento, vlagem
r a m o s de n e g ó c i o , p r o f i s s õ e s números
dias, p e d r a s f e l i z e s ,
épocas desfavo
r á v e i s e todos os a c o n t e c i m e n t o s q u e lhe
estão s u j e i t o s durante a sua existência ?
Basta
mandar a data de n a s c i m e n t o
a c o m p a n h a d a de CRS 50.00 a T i p S ,
F r a n c i s c o , rua Sta Luzia 263—<Juazei
ro do N o r t e - C e
Atendemos
urgente,
dinheiaro deve vir num envelope com o valor
declarado.
��Literatur* de Cordel
José Bernarda Silva ttda.
Grande variedade de folhetos e oraçõeê.
R. Sta. Luzia, 263-Juazeiro do Norte-Ce
A G E N T E S :
EDSON PINTO DA SILVA
Mercado S. José—Compartimento N. 7
Recife
—
r
Pernambuco
BENEDITO ANTONIO DE MATOS
Café São Miguel, dentro do Mercado
Central — Fortaleza -- Ceará
ANTONIO ALVES DA SILVA
Rua Clodoaldo de Freitas, 707
Terezina
Piauí
JOÃO SEVERO DÁ SILVA
Travessa Dr, Carvalho, 70 — Bayeux
R. Silva Jardim, 838 — João Pessoa-Pb
E Rua Sátiro Dias, 1457
Alecrim - Natal — R N .
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MARIA JOSÉ SILVA ARRUDA
QE 24 — Conjunto D — Casa 9
Guará 2 — Brasilia — DF
SEVERINO JOSE' DOS SANTOS
Rua Eng. Paulo Lopes, 695
Lote 4, final de Ônibus, 745 Cascadura
Bangu
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Rio de Janeiro —- RJ
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
494
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_ecriture
Lieu d'écriture
Lieu qui apparaît renseigné parfois à la fin des textes. On suppose que c'est l'endroit où l'auteur a écrit le texte
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
lieu_edition
Lieu d'édition
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Desenho
illustrateur_couv
Illustrateur de la couverture
Leite
José Costa (JCL)
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
acrostiche
sim
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
História do cachorro dos mortos
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Barros, Leandro Gomes de
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
40
Language
A language of the resource
português
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
1976
Rights
Information about rights held in and over the resource
Filhas de Silva, José Bernardo da (Prop.)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Filhas de Silva, José Bernardo da (Prop.) - Literatura de Cordel José Bernardo da Silva
-
https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/files/original/f6e4da341251cad2ea0ee3fd3dddd1af.pdf
01341ac1d5331ec5ab80d2b5d928bc11
PDF Text
Text
��m TWWU i*"*1*iTíHflMfli
Mf i t M
José Bernardo da
Silva
Peleja de
Riachão
COM O
DIABO
Riaohão estava cantando
na cidade de Assu
quando apareceu um negro
da espécie de urubu
tinha a camisa de sola
as calças de couro cru
Beiços grossos e virados
como sola de chinelo
am ôlho muito encarnado
o outro muito amarelo
êste chamou Riachão
para cantar um martelo
Riachão disse: eu não oanto
com negro desconhecido
porque pode ser escravo
e andar por aqui fugido
isso é dá cauda a nambu
e entrada a negro enxerido
Negro—Eu sou livre como o vento
e minba linhagem é nobre
sou um dos mais ilustrados
que o sol no mundo cobre
nasci dentro da grandeza
não sai de raça pobre
�Riachão—Você nega porque quer
está conhecido de mais
você anda aqui fugido
me diga que tempo faz?
se você já foi cativo
obras demonstram sinais
N - s e j a livre ou seja escravo
eu quero cantar martelo
afine sua viola
vamos entrar em duelo
só com a minha presença
o senhor está amarelo
R—Vejo um ente tão pequeno
que nem o posso enxergar
julgo que nem é preciso
minha viola afinar
pela ramagem da árvore
Vê-se o fruto qu'ela dá
N—Riachão, isto é frase
de homem muito atrasado
porque são visto fenômenos
que na terra tem se dado
uma cabra tão pequena
mata um boi agigantado
R - M e u riacho pela sêoa
dá cheias descomunais
nas oorrentezas das águas
pescam
grandes animais
jibóia e surucujubas
e monstruosos "jaguais"
�N--O Jaguar rende-me culto
a serpente aos meus pés, morre
aque chagar minha ira
só um doder o socorre
digo ao rio: pare aí!
á agua pára e não corre
R - V o c ê não é Josué
que mandou o sol parar
e êsse parou três dias
para a guerra acabar
nem Moisés que com a vara
fez também o mar secar
N—Faço tudo que quizer
minha fôrça é sem limite
os feitos por mim criados
não vejo homem que cite
eu determino uma cousa
não há fôrça que evite
B -Salomão também fazia
o que queria fazer
por meio de magia e química.
quiz segunda voz nascer
mas em vez de nascimento
conseguiu êle morrer
N - S a l o m ã o facilitou
confiando na ciência
encaminhou tudo bem
mas faltou-lhe a paciência
senãofôsseaquêle êrro
tinha tido outra existência
�-
R—Eu necessito saber
onde é ceu natural
porque não sei se
senhor
tem nascimento legal
de qual nação é que vem
se procede bem ou mal
N—Você vem interrogar-me
eu lbe interrogo também
diga pra onde é que vai
e de qual parta é que vem
se é solteiro ou casado
diga que profissão tem?
R — Não tenho superior
sou filho da liberdade
e não conto a minha vida,
pois não há necessidade
porque não sou foragido
nem você é autoridade
N
E' preciso advertir-lhe
fazer observação
me trate com muito jeito
cante com muita atenção
veja que não se descuide
e passe o pé pela mão
R -Eu para cantar repente
já estou habilitado
conheço alguma matéria
sOU um pouco adiantado
tive estudo quatro anos
me considero letrado
�N-Sou professor em matéria
que
sábios; não as conhece
a
lei que dito ao mundo
o próprio rei obedece
meusfeitossãooonhecidos
afamase estende e cresce
B - V o c ê diz que tem ciência
dê-me uma explicação
se a terrafazmovimento
de quem é a rotação?
porque é que em 12 horas
há uma transformação?
N--0 sol não é quem se move
êste é fixo em seu lugar
a terra está sôbre eixos
e os eixos a faz rodar
que por esta rotação
fazaluz do sol faltar
R-Descreva
que entre nós a terra tem
de que é formada a chuva?
em que estado ela vem?
é criada aqui por perto
ou emumlugaralém?
N—A água em estado líquido
por meio de abaixamento
que há na temperatura
e pelo refrescamento
essa água é condesnada
ajudada pelo vento
o grande mistéri
�A corrente atmosférica
deumamontanha elevada
que ajuda a temperatura
forma a nuvem condensada
o vento movendo as nuvens
é disso a chuva formada
Que esaa chuva depois
quetôdaterraensopar
pormeiodevaporização
torna ao espaço voltar
reproduzindo o processo
que acabei de lhe contar
R--O senhor conbece bem
êste país brasileiro?
Ore, respondeu o negro
eu conheço o estrangeiro
desde o córrego mais pequeno
atéo maior ribeiro
Por exemplo: o Amazonas
que extrema com o Pará
o ParácomoMaranhão
Piauí com o Ceará
eassimtantosmaisoutros
se alguem duvide, é ir lá
E se quelquer sair daqui
pretendendo viajar
até ao Rio de Janeiro
e não querendo ir por mar
eu lhe ensino o caminho
Êle vai sem se vexar
�R—Como vai essa viagem?
onde se encontra o caminho?
lugar sem uma morada
semhaver nem um vizinho?
tanto que em muitos lugares
não anda homem sòzinho?
N - P o d e qualquer um sair
do Assu ao Mossoró
querendo pode passar
a cidade de Caicó
subir pela margem esquerda
do rio do Siridó
Riachão disse consigo;
êste negro é UM danado
êste saiu do inferno
pelo demônio
mandado
e para enganar-me, veio
em um negro transformado
Disse o negro; meu amigo
não queira desconfiar
garanto que o senhor
não ouviu bem eu cantar
naalturaqueeu canto
outro não pode chegar
— Vá na altura em que fôr
(Riachão lhe respondeu)
remexa todos os livros
que o senhor aprendeu
eu não conheço êsse ente
que cante mais do que eu
�N —Você ficará sabendo
epêsode cantador
quando me vir outra vez
me trata de professor
render-me-á obediência
conhecerá meu valor
R - 0 senhor diga o sou nome
eu quero lhe conhecer
só assim posso lhe dar
o valor que merecer
em tudo que VOCÊ diz
ainda não posso crer
N - Você sabendo quem sou
talvez que fique assombrado
superior a você
comigo tem se espantado
os grandes da sua terra
eu tenho subjugado
R - Eu canto a 18 anos
a vinte toco viola
sempre encontro cantador
que só tem fama e pérola
quando canta meio-dia
cai nos meus pés no chão rola
N--Eu canto há muitos anos
não vou atôdafunção
arranco pontas de touro
quebra fúria de
leão
e nunca achei êsse duro
que para mim tenha ação
�R - D e hoje em diante garanto
ao senhor, de encontrar
a fôrça superior
que obrigue a se calar?
porque eu boto um cârco
quem vai não pode voltar
N -Manoel, tu és criança
só tens mesmo é pabulggem
vejo que Talar é fôlego
porém obrar ô coragem
juro que de hora em diante
não contarás mais vantagem
R - Meu pai chamava Antônio
seu apelido era Rio
de uma enxurrada que dava
cobria todo baixio
secava em tempo de inverno
enchia em tempo de estio
N Conhecimuitoseupai
que vivia de pescar
sua mãe era tão pobre
que vivia de um tear
seu padrinho tomou você
levou-o para criar
\
R—Onde morava o senhor
que o meu avô conheceu?
que eu nem me lembro mais
do tempo que êle morreu
e você está parecendo
muito mais moço que eu?
•
�N Eu sei o dia e a hora
que nasceu seu bisavô
e chamava-se Aua Mendes
a parteira que o pegou
e conheci muito o frade
que a você batizou
R--Bote sua maca abaixo
conte a história direito
da forma que você conta
eu não fico satisfeito
como vê-se um objeto
antes daquilo ser feito?
N—Seu
bisavôsechamava
Apoliaário Cancão
era
filho de um ferreiro
quechamavamGavião
sua bisavó Lourença
filha de Amaro Assunção
R-Mas que idade tem você
que mefazadmirar
conhece meu bisavô
assim nestas condições
faz eté desconfiar
�N--Seu bisavô e avô
foram por mim conhecidos
seu pai, sua mãe e você
antes de serem nascidos
já estavam em minha nota
para serem protegidos
R - Q u e proteção tem você
para proteger alguém?
sua pessoa e os trajes
mostraim o que você tem
a sua côr e aspectos
esclarecem muito bemp
N- Eu protejo a você tanto
que defendi-o de morrer
você se lembra da onça
que uma vez quis lhe oomer?
que apareceu um cachoíro
e fêz a onça correr?
R--Me lembro perfeitamente
quando oonçameembocou
que já ia marcando o pulo
que um cachorro chegou
aonçacorreu com mêdo
enãoseiquemmesalvou
�:N--Pois foi êste seu criado
que viu a onça emboscá-lo
eu chamei por meu cachorro
para da ouça livrá-lo
se lembra quando você
ouviu o canto do galo?
R--Eu me lembro disso tudo
porque assim foi passado
mas que idade tinha eu
quando êsse caso foi dado?
eu era tão pequenino
que meu pai teve cuidado
N- Você tinha nove anos
foi caçar um novilhote
se entreteu com umas flôres
que tinha lá no serrote
a gqç8> foi esperá-lo
.par» lá soltar lhe o bote
Siaohão disse consigo:
de onde veio êste ente
que de tôda minha vida
conhece perfeitamente?
êste será o diabo ?
q,m está figur&üdo gente?
�N
- O senhor pergunta assim
de que parte venho eu
eu venho de onde não vai
pensamento como o seu
eu saí do ideal
primeiro que apareceu
R—Agora acabei de crer
que tu es o inimigo
te transformaste em homem
para vir cantar comigo
mas eu acredito em Deus
não posso correr perigo
- I n d a não lhe ameacei
nem pretende ameaçá-lo
estou pronto a defendê-lo
se alguém quizer matá lo
em minha humilde pessoa,
tem um pequeno vassalo
R -Não quero saber de ti
porque tu és traidor
desobedeceste a Deus
sendo ele o criador
fizeste traição a êle
quanto mais a um pecador
�N -Riachão, amas a Deus
seado mal recompensado
Deus fêz de Paulo 1 monarca
de Pedro um simples soldado
fêz
um com tanta saúd
outro cego a aleijado
R -Se Deus fêz de Paulo 1 rei
porque Paolo merecia
se fêz de Pedro 1 soldado
era o que a Pedro cabia
se não fôsse necessário
o grande Deus não fazia
N
enricou sem trabalhar
teu pai trabalhava tanto
a nunca pôde enricar
não se deitava uma noite
que deixasse de rezar
O teu vizinho e
R-Meu pai morreu na pobreza
foi fiel a seu senhor
executou tôda ordem
que lhe deu o Criador
foi uma das ovelhas
que deu mais gôsto ao pastor
�<
— Arre lá! lhe disse o negro
você é caso sem jeito
eu com tanta paciência
estou lhe ensinando direito
você vê que está errado
faz que não vê o defeito
E - E ' muito feliz o homem
que com tudo se consola
posso morrer na pobreza
me achar pedindo esmola
Deus me dá para passar
ciência e esta viola
O negro olhou Riachão
com os olhos de cão danado
Riachão gritou: Jesus
homem Deus sacramentado!
valha-me a Virgem Maria
a Mãe do Verbo Encarnado
O negro soltou um grito
ali desapareceu
duma catinga de enxofre
a casa tôda se encheu
os cães uivaram na rua
o chão da casa
�Riachão ficou cismado
com cantar desconhecido
que quando encontrava um
tomava logo sentido
o seu primeiro repente
era a Deus oferecido
Esta história que escrevi
não foi por mim inventada
um velho daquela época
tem ainda decorada
minhas aqui só são as rimas
exceto elas, mais nada
— F IM—
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
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(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
546
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_ecriture
Lieu d'écriture
Lieu qui apparaît renseigné parfois à la fin des textes. On suppose que c'est l'endroit où l'auteur a écrit le texte
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
imprimerie
champ important pour indiquer les typographies
Tipografia São Francisco de José Bernardo da Silva
lieu_edition
Lieu d'édition
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Desenho
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
acrostiche
não
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
Peleja de Manoel Riachão com o Diabo
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Não Informado
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
16
Language
A language of the resource
português
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
1966
Rights
Information about rights held in and over the resource
Silva, José Bernardo da (Prop.)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Silva, José Bernardo da (Prop.)
Description
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O nome do autor foi acrescentado sobre a capa.
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PDF Text
Text
LEANDRO
GOMES
DE
BARROS
Proprietárias: Filhas de José Bernardo da Silva
A Força do Amor
Alonso e Marina
�Leandro Gomes de Barros
Proprisláries: Filhas de José Bernardo d Süvt
a
A Força do Amor
Alonso e Marina
Nestes versos eu descrevo
a força que o amor tem
que ninguém pode dizer
que não há de querer bem
o amor é como a morte
que não separa ninguém
Marina era uma moça
muito rica & educada
o pai dela era um barão
de uma família ilustrada
mas ela amou a Alonso
que não possuía nada
Ambos nasceram num sitio
num dia, na mesma t a r d e
pegarem logo a se amar
com nove anos de idade
se todos dois fossem ricos
era um casal de igualdade
Alonso era enjeitado
sem t e r de familia o nome
criado por um ferreiro
trapilho passando fome
pois qnem é criado assim
todos os dias não come
��Pelas m e r c ê s de Marina
Alonso pôde estudar
Marina não tinha mãe
se sujeitava tirar
do dinheiro do barão
para Alonso s u s t e n t a r
Estava com 20 anos
dispôs-se um dia Marina
disse a Alonso: me peça
veja o que a sorte destina
é bom que se saiba logo
meu pai o que determina
Amanhã pelas dez horas
você vá ao barão
chegue lá declare a ele
qua pretende a minha mão
conforme o que ele disser
eu tomo resolução
Se não faltar-lhe a coragem
havemos de conseguir
meu pai não á raio elétrico
que nós possa consumir
ou faz o que nón queremos
ou então vê eu sair
Alonso ai respondeu:
não obsta ser um barão
titulo comprado não pode
comprar a um coração
ele é mortal como eu
um de NÓS perde a a ç ã o
�Ele pode d e s e r d á - l a
tqmar tudo que fôr seu
casar-me com moça rica
não é interesse m e u
amo-a mais que minha vida
escravo do amor seu eu
No outro dia às dez horas
Alonso foi ao barão
chegou com tada coragem
fez-lhe a declaração
que amava á filha dele
p r e t e n d i a dela a mão
Exclamou logo o barão:
és assim t ã o atrevido?
não respeitas mais a mim?
aonde estás tu metido? então eu tenho uma filha
pra dar a um bandido?
Disse Alonso: senhor barão
não obsta eu ser um pobre
sua filha é potentada
me ama sem eu ser nobre
amor não olha riqueza
ainda que a pobreza dobre
O barão chamou três p r a ç a s
deram-lhe voz de prisão
a r r a s t a r a m o pobre Alonso
como se fôsse ele um c ã o
ou se fosse um insolente
um criminoso ou ladrão
�O barão chamou a filha
perguntou se tinha dado
consentimento a um bandido
que tinha o injuriado
pedindo a mão da filha
sendo ele um desgraçado
Foi eu, respondeu Marina
que mandei ele pedir
e amo-o desde pequeno
se o amor não conseguir
no solo do cemitério
hei de com ele me unir
O barão corou e disse:
descanse seu coração
se você casar com ele
eu deixo de ser barão
pois eu morto a minha cinza
r e c o n h e c e o meu brazão
Eu já mandei o prender
e fiz recomendação
que não consentisse alguém
levar-lhe água nem pão
creio que mais de dez dias
não t e r á de duração
Disse Marina: meu pai
pode se desenganar
ainda Alonso morrendo
ou o atirarem no mar
me lançarei no abismo
e vou com ele parar
�Porem ele é pobre assim
n ã o tem pai, foi enjeitado
é pobre mais tem orgulho
de dizer: sou homem h o n r a d o
pode a sorte o proteger
s e r á ele um potentado
—Cale-se, infeliz maldita!
falou irado o barão
se articular comigo
eu boto-a na prisão
mato-a debaixo dos ferros
lhe acabo a opinião
Pode matar, disse ela
s a t i s f a ç a a sua paixão
pode aniquilar meus dias
mas não minha opinião
só Deus sabe, mais ninguém
o que tenho no coração
Se recolheu ao quarto
deixando o pai no salão
estudando qual o meio
dela enganar o barão
o como podia tirar
o a m a n t e da prisão
Depois de pensar um pouco
chamou a criada dela
disse que fosse à cadeia
falasse com o sentinela
que ela mandava dizer
q u e fosse faiar com ela
�R e c e b e o guarda o r e c a d o
e prontamente chegou,
ela estava no jardim
e logo ao guarda falou
não houve ali quem soubesse
a cilada que ela armou
Disse Marina ao guarda:
você é um desgraçado
mil anos que viva aqui
não passará dum soldado
solte Alonso que está p r e s o
que o faço felizardo
—Senhora, diesa o guarda
isso faz minha desgraça
se fizer isso, seu pai
acaba até minha raça;
disse Marina: deserte
pra q'e você quer mais p r a ç a ?
-Dou-lhe dez contos de r é i s
para você o soltar
ele vai para o J a p ã o
onde há de negociar
você deserta cota ele
lá pode bem se a r r u m a r
Ai o guarda saiu
com sentido no dinheiro
e pode se aproveitar
do sono do c a r c e r e i r o
tirou as chaves do bolso,
soltou o prisioneiro
�Chegaram ambos no jardim
Alonso com o soldado
ela foi ver o dinheiro
que há anos tinha guardado
achou cem coutos de réis
dinheiro í o r t e a c u n h a d o
Ai disse ela a Alonso:
vamos l u t a r com a sorte
f u j a para o J a p ã o
dou-lhe um falso passaporte
com as paixões do meu pai
você vá, não se importe
Q u a n d o e s c r e v e r para mim
para não ser descoberto
bote J a n u á r i a Mendes
filha de Herculano Alberto
as que eu e s c r e v e r daqui,
vão Inácio Felisberto
Você enricando lá
depois quando a p a r e c e r
meu pai e s t a r á mais brando
não odeia mais você
s e ilude com o dinheiro
tudo se pode fazer
Quando foi no outro dia
o barão pode saber
que Alonso tinha saido
deu-lhe febre e quis m o r r e r
não assassinou Marina
p o r um padre i n t e r c e d e r
�Com quatro dias depois
veio um moço passear
foi á casa do barão
e esse deu-lhe um j a n t a r
o tal moço viu Marina
pediu-a para casar
O barão disse que dava
porem Marina não quis
disse-lhe pessoalmente;
comigo não é feliz
fora Alonso para mim
não tem outro no pais
Lhe replicou o barão:
á fôrça tens de casar
este homem é muito rico
tem bem com que te t r a t a r
se não me fizeres os gostos
a vida há de te c u s t a r
Meu pai, respondeu Marina
a morte a mim me faz bem
o homem que casa à fôrça
que sentimento é que t e m ?
eu sou mulher mas à fôrça
não me caso com ninguem
E o senhor cavalheiro
saiba que está enganado
esposa sua eu não sou
pois assim tenho jurado
pode ficar na c e r t e z a
que não logra este bocado
�Í9)
Disse o barão: se apronte
que ela não se governa,
inda que nisto i n t e r v e n h a
a autoridade e t e r n a
casa ainda que vá
ao fundo duma c i s t e r n a
Faltava apenas 2 meses
p a r a a realização
quando chegou a precatória
foi logo às mãos do barão
denunciando o tal moço
de assassino ou ladrão
Deste ficou ela livre
pois a justiça o prendeu
porem por caipora dela
um primo lhe a p a r e c e u
pedindo-a a casamento
o pai prontamente deu
Então Marina lhe disse:
meu pai faça o que quiser
só me caso com Alonso
dê o caso no que der
homem nenhum neste mundo
t e r á a mim por mulher
O pai já tinha comprado
um muito rico e n x o v a l
disse a ela: você casa
casa por bem ou por mal;
respondeu ela: meu pai
p r e p a r a r e i um punhal
�Então escreveu ao primo
que não viesse casar,
sob pena de morrer
era cálculo sem errar,
pois mesmo nos pés do p a d r e
ela havia de o matar
Ele mandou lhe dizer
que abrandasse o c o r a ç ã o
se esquecesse do bandido
que envergonhava o barão
que dali a dois dias mais
ele lhe daria a mão
Afinal chegou o dia
que havia de casar
disse Marina consigo:
por certo eu hei de me a c a b a r
que r o m a n c e i n t e r e s s a n t e
alguém de mim vai formar!
Estava o altar preparado
um bispo e um capelão
o presidente da província
que era amigo do barão
a sala estava completa
de homens de posição
As criadas de Marina
vestiram um rico e n x o v a l
e l a disse a uma delas:
mande dobrar o sinal;
e por debaixo da r o u p a
colocou logo o punhal
�riij
Chegou ao pé do altar
mesmo na ocasião
que o bispo preparou tudo
o noivo estendeu a mão
ela cravou-lhe o punhal
e m cima do coração
O punhal entrou um palmo
ele caiu sobre o chão
ela perguntou ao pai:
e s t á satisfeito, barão?
viu como uma mulher faz?
cumpri minha jura ou não?
O barão ficou pocesso
quis na mesma ocasião
vibrar-lhe outra punhalada
deixá-la m o r t a no c h ã o
soluçava em d e s e s p e r o
em pensar naquela a ç ã o
Foi um irmão do tal
vingar nela o seu irmão
ela disse: este punhal
é tudo em minha mão
abaixo de Deus é ele
quem me dá a proteção
Ai cravou-lhe o pnnhal
ele caiu sem alento
ela enxugando gritou:
tudo aqui eu a r r e b e n t o
a t é meu pai, opusesse
m o r r e ou sofre ferimento!
�Ai o bispo pegou-a
e deu-lhe voz de prisão
—Estou presa, disse ela
mas não me entrego ao b a r ã o
meu pai me fez assassina
e fez minha perdição
Apontou para o cadaver
e lhe disse: desgraçado
morreste por ser covarde
sendo por mim avisado
teu irmão também m o r r e u
e tu foste o culpado
O bispo disse: Marina
eu garanto tua vida
então r e s p o n d e u Marina:
ao senhor estou rendida
a morte não faz t e r r o r
quando a alma está f e r i d a
- J u r e i perante a meu pai
que com outro não c a s a v a
porque o amor de Alonso
fielmente eu conservava
e disse que este punhal
e r a quem me advogava
—Avisei este covarde
já no último momento
preveni-lhe que o matava
no ato do casamento
aquilo que digo faço
já cumpri meu j u r a m e n t o
�Meu pai fez minha desgraça
devido a sua ambição
prefiro m o r r e r de fome
e n c e r r a d a na prisão
porem o amor de Alonso
não sai do meu coração
Se na prisão me a c a b a r
for perante ao Criador
se eu lá poder lhe falar
darei a ele: Senhor
toda culpa que eu tive
foi entregue ao meu amor
Disse o barão que a levasse
para a prisão, a m a r r a d a
porque era assassina
sanguinária desgraçada
duas vitimas inocentes
fez agora esta malvada
As criadas acompanharam
a t é entrar na prisão
ela primeiro que tudo
e s c r e v e u para o J a p ã o
oontando tudo a Alonso
o que fez na aflição
Alonso já tinha ganho
dois mil contos no J a p ã o
quando r e c e b e u a carta
quase morre de paixão
disse consigo: é agora
que me vingo do barão
�Na carta ia o seguinte:
Alonso, me desgracei
meu pai quis casar-ma á força
eu que não casava jurei
me levaram aos pés do padre
lá mesmo o noivo matei
Matei mais um irmão dele
que interveu-se na questão
porque também receava
que podia ainda o barão
visto ter morto meu noivo
querer dar-me o outro irmão
Tomou Alonso um vapnr
e seguiu no mesmo dia
com 6 dias de viagem
chegou aonde queria
mudou de t r a j e e de nome
que ninguem o conhecia
Encontrou na rua 1 homem
que lhe pedia dinheiro
porque este avaliava
ser Alonso num estrangeiro
Alonso viu com umas c h a v e s
conheceu ser c a r c e r e i r o
Alonso ai perguntou:
o amigo é carcereiro?
• Sou meu moço. disse o velho
um mendigo a v e n t u r e i r o
há seis meses que trabalho
e não r e c e b o dinheiro
�Alonso com muito jeito
fez-lhe uma indagação
perguntou: o senhor tem
as chaves duma prisão
desta prisão onde está
a menina do barão?
- É esta! mostrou a chave
com que eu abro-lhe a porta
há seis dia, coitadinha
com 1 ferro pesado às costas
tanto eu creio que amanhã
talvez a m a n h e ç a morta
—Quer 20 contos de réis
pra tirá-la da prisão?
disse Alonso m o s t r a n d o
o cheque que tinha na mão
disse o velho: Deus me livre
o que me faz o barão?
—Amigo, eu sou Alonso
por quem Marina está presa
moro em Japão, sou banqueiro
tenho dinheiro e grandeza
venho de lá ocultamente
só t r a t a r desta defesa
- D o u - l h e o dinheiro logo
o f u j a para o J a p ã o
chegue lá pode contar
com a minha proteção
pois eu para os japoneses
tenho mais força que o barão
�O velho coça a c a b e ç a
diz ai: eu vou pensar
olhava para o dinheiro
não podia dispensar
pois vinte contos de réis
eu não deixo de ganhar
Há seis dias que Marina
não via água nem pão
nem luz sequer lhe traziam
que horrível situação!
com doze quilos de ferro
quase morta sobre o chão
Quando chegaram-lhe dores
ela assim mesmo gemia
Interrogava a si própria:
será noite ou será dia?
nem sequer entra uma r é s t e a
s e s t a maldita enxovia
Meu Deus! que cova escura!
oh! tormento sem modelo!
oh' luz do sol cintilante
o sol mais nunca hei de vê-lo!
sou companheira das t r e v a s
nesta habitação de gêlo!
Também pouco custará
a pôr termo em minha vida,
que tem que sofre estas dores
m o r r e r aqui oprimida?!
este t e r r o r assim mesmo
não me faz a r r e p e n d i d a
�Veio o velho com Alonso
« e n t r a r a m na prisão
Alonso quase desmaia
vendo Marina no chão
pôs-lhe a mão, achou-a fria
q u e fazia compaixão
Alonso levava leite
rapidamente aquentou
pondo Marina no colo
ela com pouco acordou
tomou um pouco de leite
com pouco mais melhorou
Quando Marina acordou
que via Álonso a seu lado
exclamou: meu Deus, é sonho
ou eu t e r e i me enganado?!
fitou e chamou por ele
disse: oh! anjo abençoado!
Logo que Alonso se viu
com Marina em seu poder
disse c o s i g o : eu agora
pouco me importa morrer
fiz o que ela me fez
pode o barão se morder
Quando eles estavam fora
um oficial os viu
e para Alonso e Marina
como uma fera parti t u
Alonso com um punhal
c r a v o u - l h e e ele caiu
�Chegaram mais 5 praças
a Alonso a c o m e t e r a m
Alonso atirou em dois
ai mesmo eles m o r r e r a m
Marina ainda matou um
ficaram dois e correram
Correu ao porto e disse
ao capitão do navio
que queriam partir logo
que o tempo estava de estio
este disse: agora não
o barco estava vazio
No outro dia às dez horas
estava o barco preparado
o barão desconfiou
que o barco estava f r e t a d o
pôs em estado de sítio
foi o navio embargado
V
*
Correu-se canto por c a n t o
a fim de v e r se achava
um velho amigo de Alonso
numa cova os conservava
então o velho escondido
t o d o negocio espreitava
Alonso mandou pelo velho
uma c a r t a ao capitão
que fosse falar com ele
pois havia precisão
dizendo: eu tenho d i n h e i r o
que compre a n a v e g a ç ã o
�Pronto, o capitão chegou
e n t ã o Alonso lhe disse
q u e queria retirar-se
o c u l t o que ninguém visse
a quantia do dinheiro
o capitão lhe pedisse
Com pouco chegou 1 soldado
procurando o capitão
chegando a ele entregou-lhe
uma carta do barão
dizendo-lhe: custa-lhe a vida
se partir para o J a p ã o
O capitão que era forte
disse a Alonso: se a p r o n t e
embarque, conduza a moça
comigo a t é ao Japão, c o n t e
você só sai do meu barco
s e fizerem de mim ponte
A uma da madrugada
o navio abriu a vela
seguiu de bandeira içada
então a noite era bela
pois no mar isto é v a n t a g e m
u m a noite como aquela
Assim que o vigia viu
q u e Alonso tinha fugido
c o r r e u , deu p a r t e ao barão
q u e o barco tinha saido
o barão deu um a t a q u e
f i c o u sobre o chão caido
�Mandou chamar u'a e s q u a d r a
e mandou que perseguisse
onde pegasse o navio
prendesse se resistisse
matasse Alonso lá mesmo
queimasse a filha se visse
Tinha andado dois dias
era uma manhã muito cedo
deu fé de uma tripulante
que perseguia um torpedo
o capitão preparou-se
disse: aqui não há medo
Com poucas horas depois
o navio os alcançou
deram-lha voz da prisão
o capitão se alterou
Alonso saiu na proa
a batalha se travou
Cento e quarenta soldados
contra o barão se botaram
o capitão morreu logo
com os tiros que t r o c a r a m
o navio que Alonso ia
as balas o e s t r a g a r a m
Marina, disse a Alonso:
ee perdemos esta vatória
t o c a m o s fogo na polvora.
q u s para nós será gloria.'
de nós não há um que fique
para contar a historia
�O chefe da expedição
disse a Alonso: se renda;
Marina com ânimo disse:
a nós não vejo quem prenda
estamos sós, vamos ver
quem é que ganha a contenda
Disse Alonso: peleje....
e desceu logo ao porão
t r o u x e um caixote já pronto
e com toda disposição
deitando fogo na pólvora
foi medonha a explosão
Porem Alonso e Marina
da explosão e s c a p a r a m
por uma felicidade
uma tábua e n c o n t r a r a m
passando por perto deles
ambos nela se pegaram
Dos inimigos de Alonso
apenas um se salvou
por sua felicidade
um salva vida inda a c h o u
que foi ele que ao b a r ã o
todo ocorrido narrou
O barão como uma f e r a
depois de está informado
ai foi ver « punhal
que ainda estava guardado
r e m e t e u aos pais dos mortos
que era o conde seu c u n h a d o
�E mandou pedir ao conde
que guardasse por lembrança
o punhal com todo sangue
como papel de h e r a n ç a
dizendo: eu só a p a r e ç o
depois da minha vingança
Mandava dizer na carta
ao conde Montalvão:
vou perseguir o bandido
o mato num caldeirão
Marina, abro-a pelas costas
arranco-lhe o coração
O conde e a condessa
quando a carta r e c e b e r a m
com essa triste noticia
que seus 2 filhos m o r r e r a m
passaram 8 ou 10 dias
que a p e n a s água beberam
O conde e a sua mulher
todo dia consultava
que de todos os seus filhos
a p e n a s um lhe restava
e esse para o futuro
era quem tudo vingava
Deixemos aqui os planos
que os condes adotaram
vejam Alonso e Marina
como foi que se salvaram
quase nas ânsias da m o r t e
com um protetor a c h a r a m
�O navio afundou logo
devido os grandes estragos
Marina disse: Alonsp
morremos bem, estamos pagos
nossas almas vão unidas,
Deus verá nossos afagos
Disse Alonso: eu contigo
da morte não t e n h o l e m b r a n ç a
faço de conta que vou
para o céu numa mudança
t e u peito serve de sombra
onde minha alma descansa
Disse Marina sorrindo:
isso aqui é um lugar
os peixes são s a c e r d o t e s
um há de vir nos casar
eu fui pedida ns t e r r a
e o casamento é no mar
Ambos ficaram vagando
e s p e r a n d o pela morte
Alonso disse: Marina
vamos ver o que dá sorte
h a j a o que Deus for servida
ainda que a vida nos corte
Disse Marina a Alonso:
eu nãu. tenho a e s p e r a n ç a
o mundo,.o outro é a familia
risquei tudo d&JLembrança
tudo com a morte se a c a b a
tudo com a vida se alcança
�Olhou para Aionsa e disse:
vamos fazer oração?
nos confessamos a Deus
•e lhe pedimos perdão
por tumba temos o mar
por coveiro o tubarão
Olhou para o céu e disse:
J e s u s Cristo Redentor
Deus e homem verdadeiro
de todo mundo senhor
olhai para estes infelizes
pobres escravos do amor!
Pelo topo de Calvario
onde a grande cruz se ergueu
por vosso sangue inocente
que em gôta na cruz desceu
pelas chagas, pelos cravos
perdão para o crime meu!
Pelo cálice de a m a r g u r a ,
vos peço meu Deus, me acuda
eu só mereço que faças
para mim as ouças mudas
vos peço por vossas doras
e pela tragédia de Judas!
Meu Deus vós bem conheceis
meu coração traidor
não fiz traição a. meu pai
nem a este tenho rancor
só vós pedereis saber
a ciência do amor
�Vos peço oh! Deus se quiser
com pena me castigar
mandai que as águas se abram
para nelas me afogar
salvando Alonso é b a s t a n t e
estou satisfeita em pagar
Ai Marina ouviu
uma voz desconhecida
dizer-lhe: tua oração
por Deus do céu foi ouvida
com pouco vem uma onda
que salvará tua vida
Então perguntou Marina:
quem és tu que estás falando?
—È tua mãe, respondeu-lhe
estou sempre por ti velando
há quinze anos que morri
mas vivo te a c o m p a n h a n d o
Ai chegou uma onda
com tôda força arrojou-os
com espaço de t r ê s horas
sôbre uma praia botou-os
Alonso pegou Marina
ai a onda deixou-os
J á o sol ia se pondo
seus raios de ouro m o r r e n d o
e manto negro da noite
sôbre o mundo se estendendo
e eles esmorecidos
gelados no chão tremendo
�Marina exclamou: que frio!
que fome me devorando!
que ilusões sinto nervosa
que dores me ameaçando!
será o a n j o da morte
que está nos visitando?!
Nisto ouviram umas pisadas
e r a um homem pescador
viu os dois caldos ali
gritou com todo terror:
é alma de outro mundo,
ou algum salteador?!
—Não sou alma nem ladrão
nós somos dois naufragados
e s c a p a m o s de m o r r e r
estamos aqui derrotados
lutamos o dia inteiro
saimos, estamos gelados
Estão nus? perguntou o homem
—Ambos estamos, sim senhor
-Coitados! que lástima é essa!
exclamou o pescador
náufragos em t e r r a alheia
meu Deus do céu que horror!
- M e u amigo eu sou um pobre
pobre e desprevenido
sinto nada possuir
(disse-lhe o desconhecido)
porem vou em nossa casa
ver se arrumo um vestido
�O homem e a mulher
conseguiu logo um vestido
Alonso vestiu Marina
que já tinha esmorecido
e se embrulhou nume capa
que o homem tinha trazido
Disse o pescador à eles:
eu não tenho o que lhes f a ç a
minha casa é á mais pobre
que tem aqui nesta praça
vamos pra lá assim mesmo
que a noite depressa passa
Alonso pôs-se indagando
depois de uma refeição
se ali morava alguém
que tivesse t r a n s a ç ã o
ou tomasse alguns dinheiros
aos banqueiros do J a p ã o
—Tem Monsenhor Manacés;
— E Manacés mora aqui?
,—Mora e é negociante
a casa dele é 'ali;
—Ê meu freguês, disse Alonso
só tem é que nunca o vi
Então Alonso escreveu-lhe
contando todo ocorrido,
contando o seu embarque
como se tinha perdido
e de que forma se a c h a v a
e como tinha saido
�Manacés na mesma hora
veio aonde Alonso estava
perguntou-lhe o que queria
e de quanto precisava
disse o quanto possuía
ao dispor dele estava
Precisava uma e m b a r c a ç ã o
para dar ao pescador,
ele foi bom para mim
foi ele meu salvador
é necessário eu dar-lhe
s e j a que quantia for
O navio que Alonso vinha
o mar tinha a r r o j a d o
estava perto da praia
que as águas tinham botado
foram, acharam o dinheiro
que Alonso tinha guardado
Alonso comprou um barco
que estava no estaleiro
procurou um capitão
em homem forte e guerreiro
que fosse conhecedor
de qualquer mar estrangeiro
Depois de 5 ou 6 dias
tomaram o barco e s e g u i r a m
levando quatro criados
que para o Japão partiram
mas logo ao sair do porco
em grande luta se viram
�Um grande peixe feroz
c o n t r a o b a r c o se botou
quase que vira o navio
ainda o arruinou
p o r e m vinha um calafate
ai mesmo o consertou
Ia tudo tão tranquilo
nada havia de embaraço
Alonso e Marina andavam
s e m p r e na prôa, de braço
o barco era como uma ave
que ia cortando o espaço
Mostrava Alonso Marina:
vês este sol como brilha?
a q u e l e s flocos de neve
fingindo uma maravilha?
como é belo uma hora desta
juntar-se as nuvens em pilha
Neste momento Marina
olhando para a amplidão
observou qus a t r á s deles
vinha uma e m b a r c a ç ã o
com u'a bandeira e n c a r n a d a
c o n h e c e u ser o barão
Alonso! exclamou Marina
nossa desgraça chegou
olha aquela embarcação
foi Deus que nos castigou
m e u Deus oh! que tormento
m a s Alonso a acalmou
�Disse ao capitão do b a r c o :
somos de novo perseguidos
se O barco nos a l c a n ç a r
um de nós fica perdido
ele hoje mata ou m o r r e
um de nós fica vencido
Marina disse a Alonso:
eu sou filha e ele é meu pai
contudo, inda o amo
sinto um amor que me a t r a i
hoje somos inimigos
um de encontro ao outro vai
Não passaram duas horas
se confrontaram os g u e r r e i r o s
os navios eram bons
ambos fortes e ligeiros
o barão se preparou
e preveniu 2 artilheiros
Então gritou a Alonso:
pára este barco, bandido
tu boje te a r r e p e n d e r á s
de seres tão atrevido;
Alonso disse ao barão:
h a j a o que Deus fôr servido
Ai g r i t o u o barão:
atirem nesse navio
pois a um bandido destes
não se fala em desafio
se ele escapar eu vou d e n t r o
mato tudo a ferro frio
�Dispararam duas peças
que o navio e s t r e m e c e u
Alonso tambem de cá
um tiro enorme lhe deu
a navio que Alonso la
uma bala ainda rompeu
Alonso disse ao barão:
é melhor se acomodar
volte daqui, vá viver
não queira me d e s g r a ç a r
eu pago suas d e s p e s a s
para o senhor se aquietar
—Miserável a v e n t u r e i r o
não quero te dar ouvido
t u hoje M s de me p a g a r
tudo que tenho sofrido
num caldeirão deste barco
tu hás de seres cozido
E repetiu com um tiro
mas Alonso se livrou
atingiu o capitão
um balaço a t e r r a d o r
este morreu ali mesmo
que nem gemeu com a
dor
Um tenente-coronel
que a c o m p a n h a v a o barão
saltou no navio de Alonso
com uma espada na mão
Marina deitou-lhe um tiro
morreu e não fez ação
�Investiu mais um m a j o r
um sargento e um soldado
Marina emparelhou os t r ê s
com um tiro tão a c e r t a d o
que matou dois num m o m e n t o
outro ficou aleijado
O barão e os dois alferes
contra Alonso e dois criados
ambos os varou com os tiros
estavam muitos estragados
pareciam seis leões
lutando desesperados
Marina disse: meu pai
deixe de ser orgulhoso
atenda o poder de Deus
que é o único poderoso
lhe peço em nome de Deus
não seja tão rigoroso
- S u m a - s e , infeliz maldita!
não quero olhar-te 1 instante?
se eu aqui não me afogar
mato a ti e a teu a m a n t e
eu mato ainda que Deus
contra mim se meta adiante
Tudo já tinha morrido
r e s t a v a ele somente
Alonso viu que morria
e o barão estava i m p r u d e n t e
soltou-lhe uma dinamite
foi-se o barco de r e p e n t e
�AIODSO
e Marina
(33)
Porém por felicidade
sempre escapou o barão
agarrou-se num escaler
que escapou da explosão
escapou quase sem roupa
porém o punhal na mão
O navio que Alonso ia
na explosão se estragou
de gente ficaram eles
o mais tudo se acabou
felizmente que o dinheiro
Marina logo guardou
Submergiu-se o navio
eles salvaram-se em um bote
Marina exclamando disse:
ó Deus, naufrágio é meu dote
pedimos, Senhor, agora
que em boa praia n o s bote
O barão desesperado
por não poder encontrar
com Alonso e Marina
com tenção de ainda lutar
l e v a v a o punhal nos dentes
que chegava a se cortar
Conseguiu a se encontrar
com o bote que Alonso ia
falava, mas cora a cólera
quase que ninguém ouvia
quando olhava para ele
todo corpo lhe tremia
Eis ai, disse o barão
vamos ver o q u e dá a sorte
�bandido, hoje
será herdeiro
as f a c a s são
ganhará quem
um de nós
da morte
testemunhas
for mais forte
E se t r a v a r a m , na luta
inda Alonso se feriu
Alonso virou-lhe o bote
ele na água se sumiu
estava morrendo afogado
mas Marina o acudiu
Ele salvando-se disse:
ainda fizeste esta ação?
não julgava ainda a c h a r isto
em t e u cruel coração;
Alonso ainda falou
ele não deu-lhe a t e n ç ã o
Ele em soluço exclamava:
oh! que coração cruel!
boca que tanto beijei
me parecia t e r mel
não sabia que no f u t u r o
fosse uma taça de fel!
Em noites, ela pequena
só se acalmava comigo
se ela dormindo chorava
eu estava sempre consigo
como ee cria nos braços
o mais tirano inimigo?!
Saiu pelo mar vagando
uma e m b a r c a ç ã o achou
viu que era um n á u f r a g o
parou o barco e o salvou
�ele contando quem era,
a e m b a r c a ç ã o o levou
E Alonso com Marina
sairam também vagando
viram um barco japonês
a d i a n t e deles passando
Alonso pediu socorro
foi logo o barco parando
Em dia e meio de viagem
c h e g a r a m sempre ao J a p ã o
l e v a r a m os papéis já prontos
se casaram sem benção
descansou aí Alonso
das intrigas do barão
O barão chegou em casa
encontrou tudo estragado
o palácio onde m o r a v a
j á se tinha incendiado
algum prédio que ainda tinha
e s t a v a hipotecado
Dizia ele a si mesmo:
vou morrer no estrangeiro
a o n d e ninguém conheça
quem já fui eu de primeiro
ninguem zombará de mim
quando eu não tiver dinheiro
Ele não sabia pra onde
Alonso tinha ido,
e m b a r c o u para o J a p ã o
onde era desconhecido
um cheque que levava,
c h e g o u estava perdido
�Carregou lixo aa rua
a fim de se alimentar
caiu seis meses doente
depois de se levantar
para não morrer de fome
foi preciso mendigar
Foi procurar um emprego
de forma alguma encontrou
apenas numa cocheira
alguns meses se empregou
o trabalho era pesado
e ele não aguentou
O leitor calcule agora
que horrível situação
hoje ser um jornaleiro
quem ontem foi um barão
ontem com tanta fortuna
hoje mendigando o pão
Mas tudo isto é verdade
dizia ele consigo
morrerei entre os estranhos
sem ver sequer um amigo
ninguém me perguntará:
quêde o teu orgulho antigo?
Aqui ninguém me conhece
não s a b e r ã o quem fui eu
em minha t e r r a dirão
que o barão já morreu,
não há quem tenha o prazer
de ver o sofrimento meu
Alguém que passa por mim
dirá: é um desgraçado
�não sabe quem fui outr'ora
d e s c o n h e c e m meu passado
t a m b é m pela sepultura,
muito breve sou chamado
Muitas vezes o barão
recordando seu passado
dizia consigo só:
eu sou muito desgraçado
eis aí o meu orgulho
em que é que foi tornado!
Aquele pobre r a p a z
que anda no fim do mundo
feito um pobre foragido
talvez até um vagabundo
eu merecia por isto
um sofrimento profundo
Minha filha, sendo única
que minha mulher deixou,
a quem sua mãe morrendo
t a n t o me recomendou
e u obrigá-la a chegar
ao extremo que chegou
Um dia que não ganhou
com que comprar alimento
o de noite não achou
quem lhe desse um aposento
e s s a noite para ele
foi um c á r c e r e de t o r m e n t o
Oprimido pela fome
pois nada comeu no dia
a roupa toda rompida
q u e o corpo lhe a p a r e c i a
�deitado numa calçada
imunda, molhada e fria
Alonso um dia passando
viu deitado um ancião
vendo encostado a seu corpo
uma t r o u x a e um matulão
Alonso viu que ele tinha
todos t r a ç o s do barão
Um dia disse Marina:
meu pai há de t e r morrido
aquele seu grande egoismo
há de tê-lo consumido
pois o comum do orgulho
é sempre ser abatido
Disse Alonso: tenho pena
da loucura do barão
mas ele é orgulhoso
a ninguem presta a t e n ç ã o
com tudo isso assim mesmo
não lhe negava o perdão
Disse Marina: assim mesmo
com toda essa crueldade
não posso deixer de ter-lhe
Uma forçosa amizade
ele tem ódio de mim
eu dele tenho saudade
Se ainda chegar o dia
q'eu v e j a o hei de curvar-me
embora o orgulho dele
prive a ele a abraçar-me
porem se ver-me a seus pés
muito humilde há de tomar-me
�Bem na calçada de Alonso
foi um dia ele cair
Alonso conheceu ele
e para não o afligir
sem dizer nada mandou
um criado o conduzir
Deu-lhe quarto e u'a cama
um médico veio o visitar
ele fazia juizo
mas não podia a c e r t a r
porque meio aquele homem
assim queria o t r a t a r
Marina, ele e Alonso
uma noite conversando
disse ele: eu sou um monstro
e justo eu e s t a r penando
assassinei uma filha
Deus está me castigando
Fui malvado como H e r o d e s
soberbo como Lusbel
tinha uma única filha
uma alma nobre e fiel
contra a razão obriguei-a
a beber t a ç a de fel
Se eu ainda visse meu genro
para pedir-lhe perdão
e pedir que me matasse
eu lhe perdoava então
minha vida hoje é um fardo
que não tenho precisão
Eu sou um ente incapaz
de um cristão me socorrer...
�uma lágrima em Marina
ela não pôde conter
Alonso viu-a chorar
foi obrigado a romper
—Seu genro, barão, sou eu
por mim está perdoado
já me esqueci disso tudo
pode ficar descansado
não é mais que isto o mundo
o barão estava enganado
Bote a bênção em sua filha
fiquemos em união
Deus dá a sorte ao homem
para ver- seu coração
faz o grande se humilhar
ergue o morto e dar-lhe a ç ã o
O barão ficou com eles
sendo de Alonso estimado
porem um sobrinho dele
que ainda tinha ficado
por quem acabo de anos
foi Alonso assassinado
Levemos isto a um análise
então vê-se aonde vai
a soberba é abatida
no abismo tudo cai
D e u s é grande e tem poder
r e d u z ao pó qualquer ser
opoderDele é de pai
Fim
- Juazeiro, 1
��Grande variedade de folhetos e orações,
S. Sta. Luzia, 263-Juazeiro do Norte-Ce
7A
GENTES:
EDSON PINTO DA SILVA
Mercado S. José—Compartimento N. 7
Recife
—
Pernambuco.
ANTONIO ALVES DA SILVA,
Rua Clodoaldo de Freitas, 707
Terezina
Piauí
JOÃO SEVERO DA SILVA
Travessa Dr, Carvalho, 70 — Bayeux
R. Silva Jardim, 836 — J o ã o Pessoa-Pb
E Rua Sátiro Dias, 1457
Alecrim — Natal — R N .
MARIA JOSÉ SILVA ARRUDA
QE 24 — Conjunto D — Casa 9
Guará 2 — 1'Jrasilia — DF
SEVERINO JOSE' DOS SANTOS
Rua Eng. Paulo Lopes, 695
Lote 4, final de Ônibus, 745 Cascadura
Bangu
— Rio Me Janeiro — RJ
ARTHUR PEREIRA DE SALLES
Av. Santana do Ipanema, 315
Bairro Cruz das Almas — Maceió — Al.
�
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
92
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_ecriture
Lieu d'écriture
Lieu qui apparaît renseigné parfois à la fin des textes. On suppose que c'est l'endroit où l'auteur a écrit le texte
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Desenho
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
acrostiche
sim
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
Força do amor. Alonso e Marina (A)
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Barros, Leandro Gomes de
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
40
Language
A language of the resource
português
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
1977
Rights
Information about rights held in and over the resource
Filhas de Silva, José Bernardo da (Prop.)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Filhas de Silva, José Bernardo da (Prop.) - Literatura de Cordel José Bernardo da Silva
-
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Text
LEANDRO GOMES DE BARROS
HISTÓRIA da
T
��LEANDRO GOMES
DE
BARROS
Branca de Neve
e o
Soldado Guerreiro
adquiridos e registrados de acordo com a lei
na Biblioteca Nacional
Direitos
QK
\
\
LUZEIRO EDITORA LIMITADA
i
•
"
M
RUA J O Ã O B O E M E R , 528 - F O N E : 93-8559
C G C 43.826.643/0001 - 03018-SÃO P A U L O
��LEANDRO GOMES DE BARROS
BRANCA DE NEVE E O SOLDADO
GUERREIRO
•
Um grande historiador
Narrava um fato importante
Que entre todos os fatos
F o i o mais interessante
Sobre a vida de um soldado
E o reino de um gigante.
O fato é como a historia
Da lampada de Aladim
A pessoa se deleita
Lendo a obra até o f i m
A historia de que falo
O escritor narra-a assim
Havia na Asia Maior
Um habitante troiano
Que tinha todas as famas
De grande republicano
Esse velho tinha um filho
Chamado Yeridiano.
�Quando Veridiano tinha
Cinco ou seis anos de idade
Saiu a brincar no campo
Por uma casualidade
Perdeu-se no pé de um monte
E foi ter numa cidade.
Veridiano olhando bem
Se aproximou de um portão
De onde avistou um palacio
E um grande pavilhão
A o mastro de uma bandeira
Estava encostado um leão.
A s crinas ou jubas da fera
Macias como o cetim,
A s presas grandes e grossas
Porem de puro marfim
O leão era de espécie
Que nunca se viu assim.
E r a uma grande cidade
Muito bem edificada
Com magníficos prédios
E muito bem asseiada
A l i só podia haver
Nação bem civilizada.
Havia um portão de mármore
Numa praça principal
D o portão se estava vendo
Um paço municipal
Tinha escrito numa placa
"Gabinete I m p e r i a l " .
�Logo ao passar do portão
Tinha um coreto elegante
Onde tinham três estátuas
Feitas de jaspe e brilhante
Uma cobra de metal
De uma forma interessante.
Uma estátua era de um rei
E outra de uma criança
A terceira de uma moça
Suspendendo uma balança
A estátua do menino
Tinha na mão uma lança.
Outra estátua de um soldado
Com uma flor e um breve,
Com uma espada em punho
Fingindo ferir de leve
Tinha no peito direito
Escrito " B r a n c a de N e v e " .
Toda aquela cidade
E r a grande e imponente
Ele embora tão pequeno
Conheceu perfeitamente
Que não pertencia a Tróia
Pois tudo era diferente.
Tinha uma grande avenida
Calçada toda de cristal
Que ia desde o portão
A um torreão de metal
Aonde existia o grande
Pavilhão Nacional.
�A o leste do tal portão
Havia um grande jardim
Saía incessante aroma
De cada pé de jasmim
Como monarca nem um
Já possuiu outro assim.
Veridiano observou
P o r aquele torreão
Passava uma águia branca
E saudava o pavilhão
B a cobra de metal
Fazia venia ao leão.
Ele a si perguntava:
Isso aqui em que se encerra?
Sem dúvida é reino encantado
Que há aqui nesta terra
Quando passou uma dama
Rufaram tambor de guerra.
Muito ao centro da cidade
Ouviu a música tocar
Rumores de carruagem
Bombas de f o g o no ar
Se ouvia fala de gente
E a fortaleza salvar.
A criança que estava ali
Sem saber o que fizesse
E não queria sair
Sem que primeiro soubesse
Procurou saber daquilo
Desse depois no que desse.
�A estátua do menino
Tinha traços do troiano
E se parecia muito
Com o pai de Yeridiano,
Só sendo feita por ele
Não havia um só engano.
O sol j á ia alteando
Veridiano sentiu fome
E disse dentro de si:
Neste lugar não se come?
Ouviu gente conversar
E falando no seu nome.
Ele alertou os ouvidos
Tornou a ouvir falar
Mas onde era a conversa
Ele não pôde atinar
Ouviu dentro do jardim
Uma pessoa o chamar.
Perguntou ele em voz alta:
— Quem é que me chama lá ?
— Sou eu — repetiu a voz
Yeridiano vem cá!
Y o c ê anda aqui perdido
P o r que não sabe onde está?
V i u ele um trono na sombra
D e uma roseira amarela
Nele sentada uma jovem
Com palma, véu e capela
Ele sem pedir licença
Sentou-se no colo dela.
�Ela perguntou: — Menino
Quem te deu tanta ousadia
Para sentares num colo
De tanta soberania?
Disse o menino: — Posse imundo
Nele eu não me sentaria.
A dama disse sorrindo:
— Tu és um herói menino
Porem este colo tem
Um dono muito ferino
Tu não te bates com ele
Por seres tão pequenino.
— Altura não me intimida
Veridiano respondeu
Daqui há alguns anos eu cresço
E ele pode ser meu
A jovem disse sorrindo:
— Pois bem, ainda será teu.
Ela pegando uma flor
Chegou-lhe ao peito de leve
Disse a ele: — A te ofender
Pessoa alguma se atreve
A flor deixou-lhe no peito
Escrito " B r a n c a de N e v e " .
Voltou dali Veridiano
E daquilo se esqueceu
Tanto que nem disse aos pais
Nada do que sucedeu
O letreiro que a flor fez
Nunca mais desapareceu.
�Perdeu o pai e a mãe,
Então toda a populaça
Cada um que lhe dissesse
Que ele fosse sentar praça
Pois era o único meio
Que livrava-o da desgraça.
Completou dezesseis anos
Não tinha de que viver
Pegou a faltar-lhe roupa
E até o que comer
Veridiano então pensou
No que havia de fazer.
Ele tinha horror à farda
Não gostava de soldado
Não achou quem o quisesse
Para ser seu empregado
E não tinha uma ação má
Que houvesse praticado.
Falou para sentar praça
Lá foi muito bem aceito
Todo corpo do exército
Ficou muito satisfeito
Um ministro disse l o g o :
— Esse menino tem jeito,
Nas feições dele se lia
Muito bom comportamento
Coragem, força e manejo
E um grande adiantamento
— Aquele executa bem
E chefia um regimento.
�O rei perguntou um d i a :
— Você lê bem e escreve?
Veridiano respondeu:
— El-rei minha letra serve
O rei viu no peito dele
Escrito " B r a n c a de N e v e " .
O rei murmurou consigo:
— É muito bom o soldado
Que tem um sinal assim
Pois está muito bem marcado
Desertando em qualquer tempo
Pode bem ser procurado.
Então ele ali na praça
De nada quase estranhou
Depois de cinco ou seis dias
Com tudo se acostumou
Todo o manejo de arma
Ninguem a ele ensinou.
Havia uma coisa nele
Que recomendava-o bem
Só passeava sozinho
Não andava com ninguem
Nem a outro companheiro
Nunca tomou um vintem.
Veridiano era um soldado
Guerreiro, forte e valente
Nunca encontrou inimigo
Que saltasse em sua frente
Porque quem partisse a ele
Morria instantaneamente.
�Era a coluna mais forte
Dos domicílios reais,
O rei confiava nele
Mais do que nos generais,
E por isso era odiado
Por todos os oficiais.
Tanto que o povo dizia
Que o exército troiano
Desde o mais baixo soldado
Até mesmo o soberano
Só vivia enquanto houvesse
O soldado Veridiano.
Mas ele fazendo tudo
Nunca pôde ganhar nada
A vida do próprio rei
F o i por ele resgatada
Nunca lhe deram ao menos
Uma fita de anspeçada.
Tróia estava em guerra
Quando a Síria a combateu
O general Botemam
Covardemente correu
Veridiano com cem praças
A dois mil homens venceu.
Esse general covarde
Voltou, f o i mentir ao rei
Disse: — Sua majestade
A guerra foi eu quem ganhei
O exército acovardou-se
E u quase só sustentei.
�— E o soldado Veridiano ?
Respondeu o general:
— E m todo o exército troiano
E traz tudo no engano.
E u me confiava nele
Quando o combate rompeu
Ele achava-se na frente
F o i quem primeiro correu
Deixou as armas no campo
E no mato se escondeu.
E u calculando que a coisa
Se tornaria pior
Tirei dez oficiais
D o meu estado maior
Seis tenentes e alferes
Um capitão, u m major.
Porem um juiz secreto
Que f o i na expedição
Fingindo ser um empregado
Do fiel do batalhão
Ali no campo de guerra
Fez toda observação.
Pois minuciosamente
Espreitou tudo e viu
Disse que o general
F o i quem primeiro f u g i u
De todos oficiais
Um só a luta não viu.
�E Veridiano tirou
Cem praças do regimento
Tirou dez cabos de esquadra
E levou mais um sargento
Fez o exército da Síria
Deixar o acampamento.
O rei tinha confiança
Que o secreto não mentia
Por isso deu toda crença
E m tudo que lhe dizia
Sabia perfeitamente
Que ele não levantaria.
Conheceu que o general
Era o covarde mais vil
E r a um ser sem confiança
Um traiçoeiro sútil
Ele e os oficiais
F o r a m todos para o fuzil.
Porem outro general
Parente do que morreu
Indignado daquilo
Outra idéia concebeu
Então ao pobre soldado
Nada ali mais o valeu.
O general botou logo
O cálculo em execução
Comunicando ao rei
Que havia uma traição:
— O soldado Veridiano
Formava conspiração.
�V e j a m o que planejou
Aquele vil general
Prometeu a um sargento
Três galões de oficial
Para jurar esse falso
À majestade real.
O rei acreditou tudo
Que o general lhe contou
Disse-lhe: — Mate o soldado
Ele se prontificou
Veridiano adormeceu
O sargento o algemou.
Veridiano ainda dormia
Depois de estar algemado
O sargento poz-lhe a mão
Disse: — Levanta soldado
Venha ouvir ler a sentença
Para ir ser fuzilado.
O soldado com aquilo
Quase não se incomodou
Quando ouviu ler a sentença
Muito calmo perguntou:
— Foi pela guerra da Síria
Que o rei me condecorou?
Então marchou Veridiano
Por cem praças escoltado
O general foi ali
Para vê-lo fuzilado
Muito alegre por ter tido
Na idéia resultado.
�Quando o soldado ia preso
Ouviu rugir uma fera
E ecoar no espaço
Uma voz grossa e severa
Que dizia: — Veridiano
Branca de Neve te espera.
O soldado conhecendo
Ser aquilo uma ambição
E não era mais que inveja
Aquela horrível traição,
Pôde soltar um dos braços
E arrebatar um facão.
Aquela ação do soldado
Poz a força esmorecida
A mão daquele soldado
Já era bem conhecida
Quem partisse para ele
Não precisava da vida.
Armou-se e gritou à f o r ç a :
— A q u i não vejo ninguém
De onde vem a desgraça
Sai a fortuna tambem
Pendeu para mim j á sabe:
Mato não pergunto a quem,
Derrubou o general
Arrebatou-lhe a espada
Que na mão do dono dela
Não tinha valor de nada
Mas na mão de Veridiano
E r a uma lâmina afiada.
�Com duas horas de luta
Veridiano desferiu
Os cem praças que o levava
A todos ele feriu
A s estrelas do general
Todas elas conduziu.
Chegaram outros cem praças
E conseguiram cercá-lo
Ele investiu a um major
E depois de derruba-lo
Tomou-lhe todas as armas
E carregou-lhe o cavalo.
Quando o major levantou-se
Foi quase desesperado
Imaginando voltar
A pé e envergonhado
O general sem estrelas
Estava desmoralizado.
Exclamava um capitão:
— Como chegaremos ao rei?
O general soluçando
Dizia: — E u o que contarei?
Se o rei perguntar-me como
Eu lhe respondo: — Não sei.
Então disse o coronel:
— Eu estou impressionado
Cem praças todos feridos
E não morreu um soldado
E u não duvido que aquilo
Seja um ente endiabrado.
�Quem foi que j á viu no mundo
Brigar com tal ligeireza
Como é que o corpo humano
Obtem tanta destreza
Se há ente endiabrado
Aquele é um com certeza.
E u nunca vi um cavalo
Como o que ele tomou
Nas rédeas do freio dele
Nunca inimigo pegou
Na guerra da Babilônia
Muitos a coice matou.
Quando o soldado montou
A toda rédea saiu
Quinze minutos depois
A l i ninguem mais o viu
F o i igualmente a fumaça
Que nos ares se sumiu.
Havia nesse país
Uma montanha encantada
Lá não ia uma pessoa
Que não fosse devorada
Chegando ao pé da montanha
E r a logo arrebatada.
O soldado perseguido
Pelo reforço que vinha
Seis mil praças atrás dele
Estendida numa linha
Somente aquela montanha
Era o socorro que tinha.
�O soldado conhecia
De todo aquele perigo
Mas para onde ele fosse
Enfrentava o inimigo
Disse: E u entro na montanha
Embora acabem comigo.
Os seis mil praças que iam
E m sua perseguição
Viram ele entrar na serra
Disse logo um capitão:
— Já temos plena certeza
De sua consumação.
Disse o general: — Entramos
Isso há de ter um final
E a força entrou no mato
Um bicho descomunal
Pegou e levou nos dentes
Três praças e o general.
Então do centro da mata
Saiam grandes rugidos
Que só pareciam ser
De bichos desconhecidos
Mais de dez oficiais
Perderam logo os sentidos.
Dali a força voltou
Perdendo porção de gente
Oficiais quase loucos
E com fala diferente
Outros com feições mudadas
O rei viu perfeitamente.
�Veridiano entrou na mata
Quinhentos metros andou
A o chegar numa empoeira
O cavalo recuou
— Que diabo tens, cavalo?
O soldado perguntou.
E se firmando na sela
V i u um negro em sua frente
P e r g u n t o u : — Quem é você
Que me olha horrivelmente?
Se pretende qualquer coisa
E u j á estou de sangue quente.
Disse o n e g r o : — Renda as armas
Se entregue logo à prisão
O senhor entrou aqui
Sem ordem de meu patrão
E u hei-de levá-lo preso
Pois tenho autorização.
O soldado perguntou:
— Que patrão é esse seu?
— Não posso dizer seu nome
O negro então respondeu:
E terminado essas frases
Contra ele se enfureceu.
Veridiano ali também
A o cavalo esporeou
Poz-se bem firme na sela
E pela espada puxou
Com toda ordem de guerra
Pelo inimigo esperou.
�E partiu um para o outro
O negro rangindo os dentes
Os olhos como umas brasas,
Os beiços como dois pentes
Só a presença do negro
Amedrontava os viventes.
O cavalo do soldado
Duas horas resistiu
Ficando muito cansado
Esbaforido caiu
Felizmente que na luta
O negro não o feriu.
Ficou Veridiano a pé
Porem não esmoreceu
Ali chegou uma moça
Um liquido ao cavalo deu
O cavalo ficou bom
Eapidamente se ergueu.
Agora, disse o soldado
E m vitoria aqui nem pense
E u estando neste cavalo
Um exército não me vence,
Chegue agora o que chegar
Vindo, a luta me pertence.
O negro empunhou a arma
E falou a Veridiano :
— Entregue-me logo as armas
Se não quer morrer, troiano
E u hei-de levá-lo preso
Perante o meu soberano.
�Toda a sua valentia
Terminará muito breve
Seu cavalo nada vale
E nem a espada lhe serve
H o j e eu o dou de presente
A linda Branca de Neve.
— Havemos de ver depois
Disse o jovem Veridiano
Quanto desgosto terá
O seu senhor soberano
Quando estiver algemado
Por um soldado troiano.
A o terminar essas frases
O negro olhou e partiu
O soldado se firmando
Animado o investiu
Mas o cavalo do jovem
Não resistindo, caiu.
Porem o soldado herói
V e n d o o cavalo cair
E o negro ameaçá-lo
De o matar ou ferir,
Falou em vozes bem altas:
— Estamos prestes a concluir.
O negro partiu a ele
Numa cólera desmarcada
Vibrando nele o alfange
Mas errou a cutilada
O soldado era um herói
Livrou-se dessa pancada.
�Pegou o negro de jeito
Descarregando um golpe
Tirou-lhe o braço direito
Depois f o i que conheceu
Aquilo ser um defeito.
E disse ao negro: — Desculpe
E u o ferir desse lado
E u firo meu inimigo
Porem o conservo armado
O negro fez continência
Disse-lhe: — Muito obrigado.
— Estou ferido, disse o negro
Não posso mais pelejar
Meu regimento proibe
Homem ferido lutar,
Pode ficar esperando
Que vem outro, em meu lugar.
Yeridiano ficou só
Olhando para o caminho
Ouviu alguem perguntar-lhe:
— Guerreiro, estás sozinho ?
Trouxeram-lhe uma bandeja
Com frutas, pão e vinho.
Depois que o guerreiro fez
Uma boa refeição
Tomou um cântaro de vinho
Com as frutas e o pão
Um índio enfrentou-o ali
E deu-lhe voz de prisão.
�F o i uma luta tremenda
D o índio com Veridiano
O índio disse em voz alta:
— Entregue as armas, troiano
Esse índio que estás vendo
Resiste batalha um ano.
O guerreiro ouvindo aquilo
Levantou-se e não poupou-o
Com duas horas de luta
Veridiano ameaçou-o
Mas o índio deu-lhe um golpe
Certeiro que derrubou-o.
E para repetir outro
Ainda suspendeu a mão
No peito de Yeridiano
V i u um signo Salomão
Recuou cinco ou seis passos
Com grande admiração.
Veridiano não lhe deu
Sinal de mal satisfeito
O índio lhe perguntou
Com muita calma e respeito:
— Troiano, quem f o i que fez
Esse sinal em teu peito ?
— Não digo porque não quero
O soldado lhe respondeu
Não é preciso eu dizer
O nome de quem me deu
Naquele momento o índio
Dali desapareceu.
�Depois o soldado ouviu
Uma peça detonar
E no cume da montanha
Uma corneta tocar
Ouviu pedindo socorro
Uma pessoa a chorar.
Voava um pássaro chorando
Muito sentido a dizer:
— " P a z pena Branca de Neve
Sem culpa alguma morrer
Quando bater meia-noite
Há de desaparecer".
Disse o soldado consigo:
E u vou ver se salvo ela,
Quem sabe até pode ser
Aquela linda donzela
Que quando eu andei perdido
Sentei-me no colo dela.
Empunhando a sua espada
Se enterrou de mata a dentro
Deparou com um jardim
Murmurou consigo: E u entro!
Os gritos continuavam
No jardim, porem ao centro.
Abriu um portão de ferro
Que dava entrada ao jardim
Quando um gigante enorme
Enfrentou-lhe e disse assim:
— Volte daqui, não prossiga
D o contrario terá fim.
�Ele investiu no gigante
A espada o derrubou
Ameaçando-lhe a vida
Tudo ali lhe perguntou
E o gigante com medo
O que havia confessou.
Disse que ali era um reino
De uma nação muito boa
Existia uma herdeira
Daquela grande coroa
Uma fada com inveja
Foi ali e encantou-a.
Um genio, padrinho dela
A tinha patrocinado
Deu-lhe uma flor porem ela
Deu essa flor a um soldado
"Vai morrer à meia-noite
O termo j á f o i lavrado.
Então o soldado disse
Que havia de lhe pagar
Se ele ensinasse um jeito
Para ele poder a salvar
O gigante respondeu-lhe
Que não podia ensinar.
Apenas disse: — A o chegar
Naquele outro portão
V e j a que à direita dela
Tem um sino Salomão
Passe pelo lado esquerdo
Sem lhe apontar com a mão.
�Veridiano fez direito
Tudo que disse o gigante
Deparou com uma moça
Num carcere repugnante
Estava ali a terminar
A vida a qualquer instante.
Puxando pela espada
Botou abaixo o portão
Quebrou as grades de ferro
Mas naquela ocasião
Enfrentou-o uma serpente
Uma águia e um leão.
O guerreiro conhecendo
Que podia ficar tarde
E se a moça falecesse
Ele seria um covarde
Partiu-lhe logo as algemas
E poz ela em liberdade.
O leão com um rugido
Fez a terra estremecer
A águia tomou um vôo
Que se ouviu o ar tremer
A serpente ficou só
Tratou logo de correr.
O soldado ficou livre
Porem muito esbaforido
A jovem se levantou
E cobrou todo sentido
Porem disse a Veridiano:
— Ainda não está decidido.
�O soldado perguntou:
— Ainda tenho que lutar?
Disse a j o v e m : — E u tenho medo
Não torne a fada a voltar
Ela deixou o condão
Pode ainda o procurar.
Veridiano perguntou
Pela vara do condão
Branca de Neve lhe disse:
— Está enterrada no chão
Sete braças de fundura
Dentro de grande caixão.
A fada tinha um projeto
Depois de sete mil anos
Transformar em pedras negras
A todos os soberanos
E sepultar de uma vez
Todos soldados troianos.
Depois dessa operação
Colocar-me numa furna
Então já tinha escolhido
Uma montanha soturna
Para depois, encantar-me
Numa ave feia e noturna.
— Meu padrinho é um gênio
Me disse: Não tenha medo
E u criarei um menino •
Que desenrola esse enredo
Deu-me uma flor e me disse:
— Nesta flor está o segredo.
�Meu padrinho por si só
Não podia fazer nada
Tem muita força tambem
Mas é mais moço que a fada
P o r ele uma mágica dela
Não será desencantada.
O jovem f o i e cavou
Sete braças de fundura
Tirou um caixão de ferro
Com sete palmos de altura
Tres mil chaves ocupava
Cada uma fechadura.
Tinha umas listas de f o g o
Sobre a tampa do caixão
Ali, só Branca de Neve
Podia lhe pôr a mão
Que a flor que o genio lhe deu
Dava-lhe autorização.
E assim que abriram o caixão
A montanha estremeceu
Soltaram um eco tão grande
Que todo espaço tremeu
Branca disse a Veridiano:
— Descansa, a fada morreu.
Uma grande ventania
Chegou naquele momento
O genio, padrinho de Branca
Chegou nas asas do vento
Disse à Branca e a Veridiano:
— Se unam em casamento.
�Disse o genio a Veridiano:
— Serás tu o rei agora
Será um dos teus soldados
O que f o i teu rei outrora
O falso que te levantaram
F o i para tua melhora.
Este reino era um país
Muito rico e abundante
Uma fada amou ao rei
O rei não lhe foi constante
Ela transformou-o num pombo
E esse pombo num gigante.
O gigante era cruel
Pegou o pombo e matou
A fada fez uma mágica
E num leão o transformou
Esse reino era de Branca
Porem o leão o tomou.
Mas depois de seis mil anos
Já estava sentenciada
I r habitar numa furna
E m morcego transformada
Com toda força que tenho
Não pude ali fazer nada.
Aquele negro feroz
A quem você combateu
Era um príncipe encantado
Que logo ao voltar morreu
Branca ia ser queimada
Pela ceia que lhe deu.
�Aquele índio guerreiro
Que veio do centro da serra
Antes de ser encantado
E r a um grande desta terra
F o i secretário do rei
Depois ministro da guerra.
O genio abraçou os dois
E fez recomendação
Que guardassem com cautela
A varinha de condão
E depois do casamento
Fizessem boa união.
Casaram e o genio f o i
A o monarca troiano
Esclarecer-lhe o que havia
E disse ao soberano
Seria Branca de Neve
Esposa de Yeridiano.
A s testemunhas de Branca
Foram duas açucenas
Um nevoeiro auri-verde
Duas estrelas pequenas,
Duas garças muito alvas
Com letras de ouro nas penas.
�A s testemunhas do noivo
Foram as plantas da estrada
P o r onde ele conseguiu
Entrar na serra encantada
Foram suas testemunhas
A planta e a sua espada.
Luziu o astro troiano
Esclareceu-se a verdade
Abriu-se a porta da vida
No mundo da liberdade
Dando a conhecer que a sorte
Rolar faz por sobre a morte
O que tem felicidade.
*
�O MEU PROBLEMA
E' QUE MINHA MÃE
TOMAVA PILULA
PODE LER SOSSEGADO,VOCÊ NÃO FICA
MAIS DO QUEÉ...
��A MAIOR GARGALHADA
DO
MUNDO
eaque
woce vai
dar com
os gozadissimos
livros
Tilulos
PIADAS DE LOUCOS
PIADAS DE PESCADORES
PIADAS DE PAPAGAIO
PIADAS DE BÊBADOS
BOCAGE PARA
MAIOIES DE 11 ANOS
3
ulilicados:
PAIS QUADRADOS E
FILHOS REDONDOS
PIADAS DE VEADOS
1 OUTROS BICHOS
PIADAS DE
BICHAS â BICHOS
�
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
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676
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_edition
Lieu d'édition
São Paulo - SP - Brasil
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Fotomontagem
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acrostiche
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Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
História da Branca de Neve e o soldado guerreiro
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Barros, Leandro Gomes de
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
31
Language
A language of the resource
português
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Editora Prelúdio
-
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Text
Antonio Silvino no
Juri
DEBATE DE SEU ADVOGADO
��J&Wui GorfJik do.
E DI T O E
PROPRIETÁRIO
Bernardo ds Sfêva
tis li Juri
Debate de Seu Advogado
E m vinte e seis, de outubro
o dia designado
para o celebre cangaceiro '
no tribunal ser julgado
perante a justiça publica
e o seu advogado
Já na torre igreja
anunciava meio dia
ent&o Antonio Silvino
cabisbaixo triste ia
ouvir na ultima sentença
que sorte lhe caberia
No salão do tribunalentrou ela amedrontado
porqueconheceuali
haviade ser jugado
dizia-lhe a consciencia
é triste oteuresultado
O juiz lhe peyguníon
-—qual é todo nome seu?
Manoel Batista de Morais
Silvino lhe respondeu»
�me chamam Antonio Silvino
mas não é o nome meu
Sabe o rèu porque está preso
o Juiz lhe perguntou
disse Silvino; por falso
que o povo me levantou
sirvindo-me do meu nome
nãofoium só que roubou
- M a s os horrorosos crimes
que se vê em seus processos?
RespondeuSilvino: muitos
escreveram com excessos
onde eu p e s a v a já havia
os rastos de outros perversos
Diz o juiz:
você
sabe
porque está sendo julgado?
disse Silvino:éporque
dizem que sou processado
e no mais em meu lugar
està o
advogado'
— Porem o senhor não sabe
porque vem ao tribunal?
eu vim porque me trouxeram
disseSilvino afinal
sou um homem ignorante
nãoconheçobem nem
mal
�0 juizdotribunal
ordenouelesentar-se
e disse ao advogado
que
se quizesse falasse
e dentro da justa lei
o
quequizessealegasse
O advogado dele
vinteminutosfalou
o
que foi de atenuante
remexeutudoesgotou
porem foi tudo debalde
que emnadaremediou
Ainda o advogado
entrou na forma seguinte
disse em pleno tribunal
-vejoomeuconstituinte
ser condenado em artigos
onde se livraram vinte
Senhores, Antonio Silvino
não fez tudo que se diz
todos nós -estamos ao par
do povo do nosso pais
quevendoopobre com o peso
diz carrega esse infeliz
Eunãome refiro a isso
porquesejainteressado
�e nem adoto o sistema
de um faminto advogado
falo porque tenho pena
de um infeliz desgraçado
Eu não defendaestacausa
interessado em dinheiro
porque que fortuna tem
um pobre prisioneiro?
venho por tertantoslobos
ao redor de um cordeiro
Ora,nóstemos a
lei
claramente as nossas vistas
e essas leis foram feitas
por grandes criminalistas
não foi por pessoas baixas
revoltosos e pessimistas
Por exemplo: uma hipótese
Pedro dissequefulano
lhe disse que lhe dissseram
que Pedro matou beltrano
nesse processo de Paulo
não pode dar-se um engano
Parece que um ente desses
cumpre a ordem do destino
eu ouço falar em crimes
cometidos por Silvano
�quando talvez o pai dele
ainda fosse menino
Disse o doutor Souza Filho
procurador do estado
—colega e a enxergo em si
razões dum advogado
seu cargo hoje admite
que se defenda o culpado
Embora que os crimes dele
encerre o grande compendio
você como advogado
procura jeito defende-o
mas a prisão dele evita
a morte, roubo e incêndio
Quantos orfãos nesta terra
choram hoje desvalidos
quantos homens arranchados
andam hoje foragidos?
viuvas desamparadas
qu'ele matou-lhes os maridos
Um desse se vendo solto
nunca mais se regenera
e é feliz o brasileiro
que não conhece tal fera
um coração tão perverso
envergonha'a nossa era
�—Colega devemos ver
lhedisseodoutorSimões
nos mausjátemseencontrado
magníficos corações
não é só o homem honrado
que se vê boas ações
Nós já temos visto homens
em momento desgraçados
cair as vezes num crime
ser por isso processados
mas depois que se vêem livres
tornam-se regenerados
Disse o doutor Souza Filho
Não é isso atenuante
veja que ovelhorifão
tem um trecho interessante
cesteiro que faz um cesto
faz um cento e vai adiante
Existeumalendaantiga
que hoje se torna moderna
muitas pessoas adotam
como uma Verdade eterna
cavalo pordarumcoice
não devecortar-seaperna
Disse o desembargador:
— m e u ss e n h o r e sv e n h a mc à
�a
fez os crimes desde lá
no lugar que ele estiver
o crime perto dele esta
E
em todo aquele sertão
elenuncarecusou-se
para qualquer agressão
roubo incendio, assassinato
era a sua profissão
Fez ele em Caruaru
duas mortes em Traolá
4
duas
ou
três no Ingá;
fe
nausinaJundiá
Passoudezenoveanos
o Norte sem garantia
sómorava no sertão
o
a força que fosse a ela
desenteirada saia,
Hoje, por felicidade
já se poude o capturar
se ele se escapolir
quem pode mais o pegar
�Qual é mais o fazendeiro
que pode negociar?
Alem da terrível seca
quetantotemassolado
soltemosmaisumleão
que temos engaiolado
veja se todo sertão
não fica despovoado
O advogado disse
a
que o crime figura um cego
e a i
f.igmã um guia
a lei é como um compasso
não sendo de que servia
O réucometenocrime
e o processo foi feito
mas quem tirou o
inquerito
nãosoubetirardireito
arrependeu-se depois
agora não tem mais jeito
A lei manda que se obre
o queconstanap o s t u r a
se alguem faz isso errado
quem sabe vendo censura
da morte para a existencia
muda muito de figura
�Porque a lei diz assim
só poderá ser punido
o crime que for provado
c o m o foii acontecido
tendo uma só testemunha
ainda não está garantido
Não era sò o Silvino
o cangaceiro que havia
é certodonomedele
qualquer se prevalecia
m u i t o s crimes foram dados
ondeSilvinonemia
Oconcelhoreuniu-se
pra fazer a votação
não houve um voto a favor
não poude haver concessão
a causa estava perdida
não havia remissão
Tambem Antonio Silvino
de vez enquando obrava
chegava-lhe um suor frio
o rosto lhe desmaiava
nem cascavel no sertão
no dia em que se assanhava
Quando voltou a oadeia
todo corpo lhe tremia
�~ trolhava para a prisão
a carne lhe estremecia
fitava bem as paredes
e oomo cobra se mordia
Arrenegava da hora
que a mãe o concebeu
deseconjurava do dia
e do anio em que nasceu
até da primeira papa
e do tempo que viveu
Depoiseleseacalmava
mas não podia dormir
cinco
m i n u t o sdesono
não podia conseguir
h o r a s se V i a c h o r a r
o u t r a s se via a s o r r i r
Ele exclamava consigo
ah! liberdade de outrora
quanto feliz eu seria
podendo colher-te agora
mas tu foste como 1 passaro
voastes fostes embora
E's como as folhas que secam
nos frondosos laranjais
ou comoasavesnosninhos
queempenamedeixamospais
�dizem no primeiro vôo
adeus para nunca mais
Ah! campos da minha terra,
onde a infancia passei
ah! sombras deliciosas
onde os dias desfrutei
montes cobertos de flores
que parasempredeixei
Onde gosei mil carinhos
de uma mãe extremosa
os dias eram uns jardins
e cada noite uma rosa
nasci em berço de flores
e morro emcamaespinhosa
O h ! morte porque demoras
em
dar minha liberdade
não é o meu sofrimento
vindo da eternidade?
eu te esperavatãocedo
vinde, embora seja tarde
Oh! campo de minha terra
prazeres que desfrutei
cenas que passei por elas
gloria com que eu sonhei
montanhas encantadoras
inda hei dever-te,nãosei
�Talvez que ainda em sonho
eu vánumdaquelesmontes
do cume se uma das serra.
olhe naqueles horizontes
ou se morrer a minh'alma
vá ao pé daquelas fontes
Q u e m criou-se onde criei-me
e nasceu onde en nasci
estando em minhas condições
preso como estou aqui
chora quando se lembrar
de muitas cenas dali
A liberdade do povo
os encantostiosertão
os cantos das passarinho*
um tempo de apartação
ohomemque nâo chorar
nunca teve coração
Emborafosseinfeliz
contudo sinto saudade
minha patria foi cruel
mas eu lhe tenho amisade
o amor e a pessoa
ambos são da mesma idade
Depois dizia comigo
Ah! Juiz seeuteapanhasse
�eu sendo como já fui
talvez tunãoescapasse
tudo quanto já tens dito
em dez palavras negasse
Tudo hoje é contra mim
nesse miserável estado
quatro e cincomecensuram
por todossouacusado
nove algozes deumavez
acusando um condenado
Talvez que alguem aqui
fizesse tudo que eu fiz
porem enoontrou amigo
ou um pai, como ae diz
um desses que faz sorrindo
de um desgraçado feliz
Mas eu sou pelo contrario
sòalcançoacusação
não ha um só entre tantos
que me ofereça a razão
o que nãoécontramim
vota porminhaprisão
Hoje tenhoaliberdade
por umditado«oupilheria
é castigo éocomum
o horror é sentença seria
�trago o carrascoo a meu lado
convivo
com a miseria
Minha esperança è mais negra
do que as noites sem l a
u
nastempestadeshorrendas
que nem um astro flutua
estou nas condições de cão
sem dono no meio da rua
S e eu hoje chegar na praia
as ondas me vendo esbarram
cs proprios peixes ferozes
se me verem não me agarram
repugnados de mim
torcem de banda e escarram
Procuro um homem de letras
que defenda meus direitos
esse corre meus
processos
acha num dois três defeitos
crimes de barbaridade
que por mim não foram feitos
Mas o homem preso está
sujeito a qualquer marzela
e quem compra numa tasca
paga pelo preço dela
isto è caso que se dá
desdeopalácio a uma sela
�Se
pelo revez ia sorte
inda eu possa me soltar
aosquatroestados do
norte
eu hei de gratificar
por uns 4 ou cinco anos
o povo tem que falar
Pernambuco tem de ver
embuà tocar viola
m orcegoandaraocangaço
com rifle, faca e pistola
Paraiba fica doida
e Rio Grande se amola
Ah! te chegasse esse tempo
a que grau subia eu
eu olhavatodonorte
dizia: isso aqui é meu
meu avô d e u a meu pai
mau pai na morte me
deu
Tambem juro ao meu Deus
se algum dia eu me soltar
faço coisa a cabra ruim
que o diabo há de chorar
até cascavel tem pena
tapurü
chegaaexclamar
Dessas estradas de ferro
desgraçotodasaslinhas
�ÍJCÍ,
\kk.
familias em Peracnbneo
na Paraíba não fica
quem bote água as galinhas
Se eu escapar
não ha mais quem me dê fim
porque desse dia em diante
eu hei de fazer assim
esmola nem ameupai
confiança nem em mim
Eu quero ver se um diabo
m e . a c h a de oorpoaberto
asalvaçãodomacaco
è ser ligeiro e esperto,
faz multo bem o ooelbo
dormir com o olho aberto
��P R O T E S T O Í . . .
Tendo ciência de que alguém
procura escrever e editar mi
nhas numerosas trovas populares
de que sou esclusivo autor e proprietário, Iludindo assim a bôa fé
dos meus freguezes e apreciadores
Protestei, e Registrei, contra a
adsorpção
dos meus direitos, às
quais estão saindo carimbadas com
no. do referido Registro, que é
osegüinte:Reg. 997 Livro B - 4
em Juazeiro do Norte assegurados
pêlo Dec, Federal no.26.675 de Í81-1949. Fazendo valer os meus direitos oportunamente perante o«
tribunais do paiz, já tendo requeri
do as certidões de que trata o
artigo 873 do referido Código.
Sirva este meu protesto, de avizo o aos meus leitores e as autoridades de todas as circunscrições»
da República a quem requeri não
só apreensão como indenisação pelos danos causados,
Juazeiro do Norte,27-7-1956
�
https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/files/original/3b4935f7c546ffb5dbdcfd42d7be60d9.xml
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Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
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(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
884
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Xilogravura
illustrateur_couv
Illustrateur de la couverture
Oliveira, Walderedo Gonçalves de
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
type_ill_4_couv
Type d'illustration en 4ème de couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Texto ["Protesto" de José Bernardo da Silva, escrito em Juazeiro do Norte, 27-7-1957]
acrostiche
não
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
Antonio Silvino no juri - Debate de seu advogado
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Não Informado
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The file format, physical medium, or dimensions of the resource
16
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A language of the resource
português
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Silva, José Bernardo da (Ed. prop.)
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Silva, José Bernardo da (Ed. prop.)
Description
An account of the resource
O nome de Leandro Gomes de Barros foi acrescentado sobre a capa.
-
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�LEANDRO GOMES DE BARROS
Props Filhas de J o s é Bernardo da Silva
Quem leu a batalha horrenda
deOliveirose Ferrabraz
não
deve ignorar mais
o que éumacontenda
vê uma luta tremenda
como se ganha vitória
pode guardar na memória
o combate mais horrível
parece até impossível
o passado desta historia
Ferfabraz era um gigante
de corpo descomunal
como nunca teve igual
no reino do almirante
ele só, era bastante
para cinco mil guerreiros,
oito, dez mil cavalheiros
morreram pelas mãos dais
e só tirou
sangue nele
a espada de Oliveiros
Oliveiros aquele braço
não se curvava em perigos
e nunca achou inimigos
que lhe fizesse embaraço
aquele pulso de aço
mão que sempre foi temida
para as guerras escolhida
e por Deus abençoada
nuncadesceu a espada
que não tirasse uma vida
�Ferrabraz como um leão
afrontava a própria morte
era a ooluna mais forte
do almirante Balão
tinha nobre o coração
e e r a civilizado
nas armas disciplinado
tinha força e energia
em toda parte que ia
mostrava s e r ilustrado
Como também Oliveiros
no valor e na ação
Guy de Borgonha e Roldão
e os mais seus companheiros
desses 12 cavalheiros
uma só não torcia o braço
um deles não dava um passo
que não fosse perigos
espadas dos inimigos
pra eles' não tinham aço
Oliveiros e Ferrabraz
que aspiravam um despeito
pegaram-se peito a peito
como dois leões brutais
ali ninguém chegou mais
foram os dois lutar a sós
ninguém ouvia uma voz
fogo das armas saia
e dos dois ninguém sabia
qaal seria o mais feroz
Leiam com toda atenção
a vida de Ferrabraz
vejam como são iguais
ele, Oliveiros e Roldão
o almirante Balão
�tinha ele tal fiança
dizia que toda França
se tornaria imponente
porqueFerrabrazsomente
servia da segurança
Carlos Magno também
tinha 12 cavalheiros
como
outros iguais guerreiros
o mundo hoje não tem
nunca temeram
a
segundo diz a história
tinham as espadas a glória
nunca torceram perigo
nunca foram ao
que não contassem vitória
No dia em que Oliveiros
deixou Ferrabraz vencido
foi de novo acometido
por 10 mil turcos guerreiros
ele e quatro cavalheiros .
que chegaram em seguida
a força turca previda
prendeu todos os cavalheiros
porem só por Oliveiros
ficaram 3 mil sem vida
Não puderam resistir
sem cavalo, espada a lança
seim com que mais se cobrir
veio a noite se confundir
perderam de tudo a
levaram os prisioneiros
so almirante Balao
açã
�Assim mesmo se Oliveiros
não tivesse desmontado
alem disso, desarmado
ele e todos companheiros
se dois ou três cavalheiros
os tivessem socorrido
com boas armas os munido
o combate iria avante
o povo do almirante
nãooosteria prendido
Porem a luta era horrenda
e os cavalheiros poucos os turcos como uns loucos
davam batalha tremenda
naquela infeliz contenda
Olivveiros tropeçou
num cadáver que encontrou
quando dez turcos chegaram
as mãos atrás lha amarraram
ele sem ação ficou
Os turcos esfaimados
pelo sangue da Olíveiros
vendo os 5 cavalheiros
em seu poder escoltados
sairam recompensados
por aquela heróica ação
julgavam pagar a prisão .
do herói rei dos guerreiros
o maior dos cavalheiros
do almirante Balão
E seguiram os cavalheiros
cruelmente maltratados
levando os olhos tapados
o grande e nobre Oliveiros
os outros prisioneiros
�oora as mãos atada« atrás
correndo a tudo e a mala
ao almirante Balão
para vinger a prisão
de siect filho Ferrabraz
E naquela multidão
levando-os prisioneiros
entregou oe cavalheiros
ao almirante Balão
ele lá C O Í B O um leão
em desesperos fatais
igualmente a satanás
no dia que o céu perdeu
disse: desses quem venceu
o wea filho Ferrabraz?
Disse üin dos exaltados
examinando primeiro:
é aquele cavalheiro
que traz 09 olhos vendados
estes einco eelerados
é òuetoso ds oa vencer
é escusado dizar
da forma qu'ela® lutaram
9 dez mii vidas custaras?
para poder o prender
O rôi fez uma mudança
perguntou a Olíveiros
ee eles eram cavalheiros
dos 12 pares de França
Oliveiros sem tardança
disse: nós somos soldados
muito pouco exercitados
somos todos de Lorenda
para a primeira contenda
agora fcmes chamados
�Ordenou o almirante
que para o campo os levassem
e todos cinco matassem
por um meio agonizante
ali lhe disse Burlante:
meu plano não é capaz
creio que lucravas mais
mandar por dois mensageiros
trocar esses cavalheiros
por teu filho Ferrabraz
O almirante Balão
acho bom o parecer
deu ordem a recolher
os cavalheiros à prisão
num cárcere da escuridão
onde m a t a v a os tiranos
os turcos bárbaros, profanos;
os puseram em enxovia
aonde o curso de um dia
parecia dez mil anos
Esse cárcere agonizante
prisão asquerosa e fria
encostada à moradia
da filha do almirante
cuja alma interessante
dava ao mundo u'a esperança
conservava na lembrança
Idéia pura e risonha
amava Guy de Borgonha
umcavalheirode França
Amava ela o vassalo
do imperador francês
que vendo a primeira vez
não pode deixar de amá-lo
quando ele entrou a cavalo
�emRoma, numa corrida
deixou-a surpreendida
o toque de uma paixão
deu a ela o coração
arriscando a própria vida
Floripes não conhecia
como o amor tem poder
logo aí pode saber
quando ele tem energia
sendo ela da Turquia
seu pai era um rei pagão
não tinha religião
era um perigo profundo
por todo ouro do mundo
não dava ela a um cristão
Oliveiros recolhido
naquele horrivel tormento
o seu maior sofrimento
e r a o corpo está ferido
ele exclamava sentido:
meuDeus, olhai pra mim
não devo viver assim
de lá da eternidade
mandai com mais brevidade
a morte trazer meu fim!
Antes tivesse eu morrido
pelas mãos de Ferrabraz
o guerreiro mais capaz
dos que a Turquia tem tido
outro igual não foi nascido
se nasceu, não foi criado
guerreiro nobre e honrado
espada que vale um porto
se ele tivesse-me morto
�Floripes então pode ouvir
Oliveiros exclamar
desceu e foi indagar
quem estava a se concluir
diz Brutamonte a sorrir:
aquele é um dos tais
do povo de satanás
que tanto nos ofendeu
está até o que venceu
o vosso iraafio Ferrabraz
—Abra a porta da prisão
(disse ela ao c a r c e r e i r o )
quero ver o cavalheiro
que faz essa exclamação...
disse Brutamente: não;
isso eu não posso fazer
sob pena de morrer
teu pai me recomendou
pessoalmente ordenou
não deixasse alguém o ver
— Abre esta porta, vilão!
Floripes lhe replicou
quando o turco se abaixou
para abrir o alçapão
ela meteu-lhe um bastão
deixando-o morto por terra
dizendo: neste se
encerra
um de mais plano formado
matei o mais desgraçado
que vinha me fazer guerra
Tudo assustado ficou
daquela ação qu'ela fez
e ela por sua vez
daquilo não se alterou
com toda calma falou
�a todos prisioneiros
perguntou a Oliveiros
quem era que estava ali
um deles lhe disse: aqui
somos cinco cavalheiros
Ela com fala bem mansa
perguntou a Oliveiros:
qaera são esses cavalheiros?
— Somos naturais de França
que estamos sem esperança
de sair desta prisão;
ela perguntou: então
de vós quem batalha deu
e nessa luta venceu
a Ferrabraz meu irmão?
— Fui eu; lhe disse Oliveiros
numa batalha leal
que tendo sangue real
fiz como os nobres guerreiros
a hoste dos cavalheiros
quis fazer de mim pagão
eu sem vileza e traição
lutei, ele foi vencido
e hoje está convertido
batizou-se e é cristão
Floripes então perguntou
se Guy de Borgonha estava
disse Oliveiros: ficou;
ali ela confessou
a sua grande paixão
disse: meu pai é pagão
se souber vai çastigar-me
vocês poderão levar-me.,
para a terra de cristão?
�Disse Oliveiros: senhora
pelas graças recebidas
nós arriscamos as vidas
vos servimos a toda bora
manda-nos soltar agora
e dê com que nes armar
pode nos acompanhar
descanse o seu coraçfio
que o almirante Bolôo
vê-la e nSo pede tomar
Floripes lhe dsse ali:
eu os ponho em liberdade
venho soltá-los mais tarde
esperem por mim aí
eu me retiro daqui
pode alguém me ver falação
e aqui me demorando
pode alguem desconfiar
de noite os venho tirar
fiquem aqui me esperando
Ficou em ânsia Oliveiros
mas à noite ela voltou
oom uma corda tirou
todos cinco cavalheiro«
todos oa prisioneiros
foram por ela levados
c e a r a m e foram curados
de boas armas munidos
todos cinco prevenidos
para se fossem atacados
Floripes comunicou
a sua velha criada
a velha ficou zangada
na mesma hora jurou
Floripes a empurrou
�li-
de uma alta janela
ficando livre daquela
donde o mal podia vir
depois da velha cair
embaixo enterraram ela
O almirante Balão
ordenou que quinze reis
fossem todos duma vez
ao imperador cristão
e disse: diga então
que eu mando lhe dizar
que ele mande trazer
um filho qu'ele tem lá
que eu lhe mando de cá
os que tem em meu poder
— E se não quiser f a z e r
o que lhe mando pedir
ao seu reino hei de ir
com meu exército e poder
e ele então há de ter
uma morta rigorosa
uma sentença penosa
ele tem que experimentar
ou faz a fim de escapar
a fuga mais vergonhosa
Então nesse mesmo dia
Carlos Magno chamou
sete pares e mandou
com u'a embaixada à Turquia
na embaixada à dizia:
vocês digam ao Balão
que trate de ser cristão
e mande meus cavalheiros
eu não quero meus guerreiros
presos ema poder de pagão
�Esees quinze reie guerreiros
vassalos do almirante
j á de águas mortas distante
encontraram os cavalheiros
insultaram os mensageiros
do imperador erietSo
perguntaram: aonde vão?
qae vão ver por esta estrada?
diz Rolião: levo embaixada,
ao almirante Balão
Não podemos acreditar;
(diêser&m cs embaixadores)
vocêa sSo ealtesdores
& querem se dis?arça
nós havemos de os levar
ao almirante Balão
que nussa escura prisão
bá de os mandar encerrar...
—Então podem ee aprontar!
gritou-lhes alto, Roldão
guando Roldão proteriu
puxou logo pela espada
deu num, uma outil&da
que até aos peitos partiu
outro rei turco acudiu
perem ele não torceu
todos os golpes que deu ,
foram bera aproveitados
quatozea foram lasoados
escapou uai que correu
Atrás desse que correu
foi Ricarte perseguindo
o turco se escapulindo
pela mata ee escondeu
nas montanhas se meteu
�ganhcu a uma solidão
eerviu-se da escuridão
da noite que o protegia
para coutar o que havia
ao almirante BsSão
Quando Ricarte voítou
disse a um dos cavalheiros:
não t e s o os aventureiros
que co campo se matou
receio o que escapou
pela COIIKB do monte
que vá hoje mesíiiiiÔ e conte*
ao almirante Balão
e s e j a es«a a razão
d» b9.o passarmos s ponte
Ali regpondsu Roldão:
ora, porque não ea paess?
vocês verão a desgraça
que eu laço na guarnição
o almirante Balão
bote os soldados que tem
porque eu juro também
ficar a terra arrasada
ele dá-me a embaixada
ou sua cabeça vem
Ali t c í o s se montaram
armados heroicamente
lavando como presenta
as cabeças que tiraram
em seus elforges botara®
não deram satisfação
seguiu na frente Roldão
a pessoa encarregada
de entregar e embaixada
ae almirante Bsiäo
�Ali havia ama poata
a da Moútihle ahaoada
o rei não dava entrada
por üora existia ura monte
duma altarb sem desconie
como outra não havia
e aa poria era vigia
um de«oomuael gigante
de quem só o alalraojte
a ponte coafisria
Exlst* um portão enorme
com 3 areoa de ouro puro
e
o faz meia seguro
ó um gigfents disforme
dum aspecto daseonforma
e us3 gesto rapugnaafce
é mtKículoen © poesaate
são bnites as saas meaeirae
é quem dèfende.
fi-outeiras
das terias do fiJmirsute
Diase Roldão: vou falar
ver 89 e l e abra 1 pouquinho
se eu eatrar faço c minho
.qsaa tudo pode passar
as ele quiser cobrar
a quantia t-stipulada
depois de eu ter estrada
então eu ihe digo; chi bruto
eu tr-ego aqui teu tributo
na bsíaba da espada
Disse o duque de Nemé:
paciência, rasa staigo
deixâ a emprega c o l i g o
n&o desespere da íê
eu sei isso como 6
�e devemos aos conter
também precisa saber
que à pessoa algama agrada
dar uma grande pjsneada
e outra iguel r e c e b e r
—Daixa, eu sigo na frente
então direi ao gigante
que vamos ao almirante
deixa? um rieo presente
e uma embaixada urgente
ao felàjirante Bsl&o
ele vendo a razão
"talvez nos deixe passar
aeeim podemos chegar
s3Bi precisar de questão
Bateu o duque e chamou
pelo nome do gigante
e esse no mesmo instante
na porta se apresentou
abria um postigo, olhou
viu tudo de aspada e lança
o duque com a tala manta
disse: queremos entrada
pote levamos embaixada
êo imperador de F r a a ç a
Disse Galsfre: precisa
pagar tributo de entrada
uma soma exagerada
só passa quando indeniza
antes de entrar, avisa
ao almirante Baião
ver se ele consente ou nã©
que lhe leve a e s s b a l x a i a
ou se poisa dar entrada
è t m embaixador cristão
�Disse o duque: teia rezSo
poreíB nós somos decentes
levamos ricos preeeates
ao almirante Balão
deixe passarmos então
aós e tudo nosso em paa
o comboio vem atrás
nós V B Í U O S logo na frente
proonrar onde aposente
nós e 'nossos aaliBaís
Disse Galaíre: há de dar
írê* flrsoa de ouro maciço
aeas haver abate nisso
aqaí niestco há de entregar;
díss« o duque: bel de pagar
Inda sendo nove 0« dsz
disse o g!gtsotr>: tu és
um d es temido vsBealo
por cada pá de cavalo
hás de pagar cent mil réis
--Todo cristão que equi passa
o que rcSo quiaer morrer
é obrigado a trazer
cem pares de eãa» da raça
© tudo da boa raça
qaa seja bem amestrados
trinta arcos bem lavrados
de padraa especiais;
t&do isto quem vem traz
<£0 eoatrario é devorado
—É a quantia exigida
de quem aqui quer passar
é obrigado a pagar
do contrario perde a vida
a pessoa é concluída
�em cima daquele monte
um gancho eobre uma fronte
eu mandarei enfiar
depois mando pendurar
nas àlmeias desta ponte
Disse o duque: sim senhor
eu ô os Hieuã coHspsaheiroa
somos sete cavalheiros
de niüito alto valor
0 o nosao Isaperadcr
ao» mandou em com^são
ao süimiraate Balão
uma embaixada Ipva?
nos ordenou a pagar
o que fosse de rez&o
—Noaso comboio há de vir
chegando, déixe-o passa?
depois hííi de lhe pegE?
o que o senhor exigir
queremos qúe o deixa ir
às tendas do » f e i r a n t e
pois usB rfrseehte importante
a eie vamos látfár
havemos.de lhe psgar
de nós, dele, aeeím : por diante'
Galafre os deixou passar
e todos sete partiram
pela estrada seguiram
sem nada os Incomodar
esteva ura turco a olhar
mas qaíeto a sangue frio
Roldão sem mais desafio
lançando a mão à espada
partiu-o com u'a cutilada
botou-o morto no rio
�Os cavalheiros chegaram
j á da meia-noite por diante
à hora em que o almirante
j á tinha se agasalhado
tinha há pouco se deitado
não quis se levantar mais
disse consigo: é eepaz
de Carlos Magno mandar
seíia cavalheiros basear
e me trazer Ferrabraz
O almirante Balão
tlnba há pouco se deitado
soube que tinha chegado
na corte um povo cristão
disse o almirante: e s t ã o ,
não devo me vexar maie
são homens especiais
que vêm como mensageiros
ver se eu dou os cavalheiro»
por meu tilho Ferrabraz
Ordeuou que agasalhasse
muito bem os cavalheiros
veja que aos mensageiros
eousa algum* n&o faltasse
depois que tudo eeaese
desse-lhes cama decente
pois encarecidamente
ordenava que &s tratasse
e que tudo ali achasse
a noite muito e x c e l e s t e
O naestre-sala cs botou
eada um nara aposento
e todo aqu«!e armameute
o meetre-sala guardou
•em um i e l e s se lemfere»
�que o rei podia chegar
e ao almirante contar
•todos oe fatos paceados
mas e s t a v a s enfadados
só pensarem em se deita?
Então furam sgssalhados
todos eases mensageiros
porem todos cavalheiros
um dos outros separados
todos óssea desarmados
nem ura com arssa íioou
de madrugada chegou
o rei i p ê tJnfa® escapado
contando muito cansado
tudo quanto 36 passou
S disse: esses desgraçados
que sos 14 reis mataram
são uns que há pouco chegaram
estão aqui agasalhados
vinham ontem aglomerados
nos agrediram no caminho
momento ingrato
mesquinho
tudo aos íífphou o® portos
íloaram 14 mortos
só eu esoapii sozinho
Ali logo o almirante
qua.se morre de paixão
lançou logo a maldição
em MafüsEa a Tsrvegante
acudiu ao mesmo instante
. o mestre-sala e talou
ferâtômfinte o ânimos
s ih» éisse: eaa altez a •
eu tenho toda oerfceza
Maiama são o deixou
�—Apolim e Tarvegante
dois dâUBtís teus protetores
oa quais recebem favores
de vós a qualquer instante
Mafama é um 0eua constante
prcstega aos refe anciãos
trata os reis por seus irmãos
deixou teu povo morrer
poresa mandou-te dizer
tens inimigos nas mSoe
Ide descansar lá dentro
afrontarei os perigos
prenderei teus inimigos
ainda que fosse um cent©
eles j á dormem e eu entro
amarrarei um a um
isso é um fato comum
ninguém não deve estranhar
eu sozinho posso entrar
não deixo solto nenhum
Disse aquilo e foi saindo
e foi logo aos measageiros
amarrou os cavalheiros
que estavam todos dormindo
o mestre-sala sorrindo
foi dizendo ao almirante:
senhor, nesse mesmo instante
prendi todos os cavalheiros
deixei-os prisioneiros:
ffz um serviço importante
Foram os paras amarrados
quando no salão dormiam
Inocentes não sabiam
que ali seriam algemados
de manhã foram levados
�ao almirante Balão
que perguntou por Roldão
e oe outros mensageiros
se eles eram cavalheiros
do 2mperador cristão
Ali Roldão respondeu:
ee ainda não eoahecie:
o carrasco da Turquia
repare bem que sou eu
braço que nunca torceu
milhões de turcos armados
grande« guerreiros afamados
vassalos velhos escolhidos
por mina já foram abatidos
estão no livro dos finados
—Eu venho em comissão
do meu tio imperador
que manda dizer ao senhor
que se fizesse oristão
do contrario em sua mão
havia de se acabar
ele havia de botar
sobre si exemplo ou mostra;
o senhor dê me a resposta
que é necessário levar
- E i s aí, caro senhor
disse animado Roldão
o almirante Balão
ficou se ardendo e© íuror
com aspecto aterrador
chamou seus subordinados
mandou que fossem queimados
todos esses mensageiros
cem mais sinco cavalheiros
q«e estavam encarcerados
�Quando a noticia chegou
aos ouvidos da princesa
ela com essa surpresa
meia hora não falou
por Oliveiros chamou
e lhe disse: se disponha
minha aflição é medonha
só vós podeis me valer
antes me deixe morrer
e salve a Guy de Borgonha!
Pra meu pai me entregá-los
disse ela-vou pedir
se nada lá conseguir
vocês vão daqui tomá-los
tem boas armas e cavalos
vocês fiquem prevenidos
olham que e s t m o s metidos
onde qualquer um não vai
e o povo de meu pai
são turcos muito atrevidos
No mesmo instante Oliveiros
deu pressa a tudo se armar
e no campo não deixar
matarem' seus companheiros
Floripes em desesperos
sobre uma cadeira cai
num terno, pranto se esvai
e disse ao grande Oliveiros:
resgateosprisioneiros
inda que matem meu pai
Saia e foi ao Balão
chorando, porem fingida
muito queixosa e sentida
pelo seu querido irmão
entrou pela multidão
�falando com arrogância
sem apresentar mudança
indagou quem eram aqueles
perguntou se eram eles
os cavalheiros de França
Respondeu o almirante:
estes malditos que vês
mataram quatorze reis
ontem à tarde num instante
- uma morte agonizante
também hoje hei de lhes dar
heí de mandá-los matar
no campo, bem cruelmente
a morte de minha geate
assim há de se vingar!
Disse a princesa: é verdade
deve os levar amarrados
matá-los todos queimados
com a maior crueldade
porem já é muito tarde
meu pai precisa comer'
primeiro mande dizer
a todos nossos parentes
porque ficarão contentes
vendo-os no campo morrer
—Me entregue os prisioneiros
eu levo estes condenados
destes amaldiçoados
serei um dos carcereiros
estes sete carniceiros
hei de ajudar a matá-los
e com minhas mãos queimá-los
para vingar meu irmão;
o almirante Balão
�Disse-lhe ali Sortibão
o senhor adverte bem
porque na mulher contem
um
armazem de traição
e deve ter precaução
andar seguro e direito
multas mulheres têm feito
os homens se arrependeram
e só chegam a conhecerem
quando não podem dar jeito
Floripes estremeceu
disse ali a Sortibão:
por teu falso coração
vens tu calcular o meu?
falso pode ser o teu
onde não há sentimento
porem marqueis o s o m e n t o
um dia hei de me vingar e
e tu hás de me pagar?
este teu atrevimento
E ordenou que os soldados
levassem os prisioneiros
disse ali aos cavalheiros:
levantem-se, desgraçados!
e lá seguiram algemados
na frente, ela indo atrás
e
disse
aos oficiais:
faz favor tudo voltar;
mandou os presos trancar
na câmara de Ferrabraz
Como ficou Oliveiros
quando chegou no salão
vendo algemado Roldão
e os outros cavalheiros
disse ele: companheiros
�não façam por ter demora
olhem que estamos na hora
soltemos nossos irmãos;
quebrarem os ferros das mãos
deixou os pedaços fora
Foi entrando Lucrafé
primo e noivo da princesa
como foi sua surpresa
vendo o conde de Nemé
que se firmando num pé
aproveitou bem a hora
o turco quis ir embora
deu-lhe o duque tal pancada
com o gume da espada
tirou-lhe a cabeça fora
Floripes admirada
disse: por teu evangelho
nunca julguei que um velho
desse tão grande pancada!...
o duque disse: isto é nada
muito mais já tenho feito
eu pegando um turco e jeito
não me faltando a espada
lasco duma cutilada
da cabeça até ao peito
Disse Floripes; vou ver
pela corte o que é que há
vendo alguma coisa lá
eu volto e venho dizer
vocês não deixem de ter
direi a meu pai então
que almoce, estou indisposta
devido aquela resposta
que sofri de Sortibão
�Deixo de mencionar
caso pouco interessante
torna-se muito maçante
não convém o relatar
tanto o espaço não dar
para tudo que passou-se
contarei como tomou-se
a ponte de meio a meio
como Carlos Magno veio
e como Floripes casou-se
Na hora da refeição
tudo ali se descuidou
Oilveiros enfrentou
o almirante Balão
esse quando viu Roldão
viu que a vida estava cara
a salvação era rara
saltou duma das varandas
chegaria em duas bandas
se um turco não apara
Veio um rei dos mais valentes
a Roldão com a espada
Roldão numa cutilada
o partiu até os dentes
vieram mais dois parentes
partiram na mesma hora
Roldão ali sem demora
disse a um turco: conheça;
deu-lhe um golpe na cabeça
tirou-lhe o pescoço tora
Investiram os cavalheiros
às força do almirante
Roldão, Ricarte adiante
na retaguarda Oliveiros
Geraldo e os companheiros
�matavam sem piedade
os turcos em quantidade
partiram aos pares de França
j á não restava esperança
todo esforço era debalde
Voltaram os cavalheiros
da tôrre costa tomaram
os turcos ali os cercaram
julgando-os prisioneiros
Roldão, Ricarte-, Oliveiros
Guy de Borgoaha e Geraldo
cada qual mais separado
diziam aos companheiros:
para doze cavalheiros
não vemos exércitos armados
Um
dia faltou comida
às damas eaoscavalheiros
Roldão dissse a Oliveiros:
perdi o amor da vida
tem uma dama caida
e outra j á desmaiada
lançarei mão da espadae sairei nesse instante
a tenda do almirante
hoje é por mim atacada
ficou na tôrre um somente
então seguiram na frente
Tietre e Oliveiros
vieram os turcos ligeiros
já corriam muito adiante
era um comboio distante
que vinham com mantimento
ao povo do almirante
�Os pares ali avançaram
servindo-se das espadas
doze azêmolas carregadas
dos inimigos tornaram
maia de mil turcos mataram
numa batalha medonha
como não há quem suponha
que houvesse tal mortandade
por uma casualidade
prenderam Guy de Borgonha
O almirante Bolão
mandou que o algemasse
de manhã o enforcasse
perante a população
transpassava o coração
ver Floripes tão formosa
aos pés dos pares chorosa
dizer: Roldão valoroso
vai resgatar meu esposo
duma morte tão penosa!
Foram oito cavalheiros
Roldão foi na dianteira
Posimnumacostaneira
na retaguarda, Oliveiros;
com dezoito mil guerreiros
o preso vinha escoltado
porem Roldão a Ricardo
entre os maiores perigos
tomaram-no dos inimigos
antes de serem enforcados
Os pares nessa agonia
j á quase sem esperança
e Carlos Magno na França
• de nada disso sabia
disse Oliveiros que ia
�a Carlos Magno avisar
para, vir auxiliar
naquele grande perigo
disse o duque: meu amigo
eu irei em seu lugar
Ricarte por derradeiro
disse aos outros: vou sozinho
se eu morrer deixo 1 filhinho
que há de ser bom cavalheiro
se eu morrer morre 1 guerreiro
não tem o que admirar
não morrendo, hei de chegar
o almirante se apronte;
disse Roldão: mas a ponte
como tu hás de passar?
Disse Ricarte; parece
que no horror mais profundo
ao homem no meio do mundo
Deus em pessoa aparece
sobe a morte a vida desce
e ali não há quem vá
fiquem descansados cá
embora perigo encontre
porem passo pela ponte
ou fica o cadáver lá
De madrugada saiu
em bom cavalo montado
de lança e espada armado
dos outros se despediu
um exército turco o viu
e tomou-lhe logo a frente
mas o guerreiro valente
ali não teve receio
e do reforço que veio
quase que não fica gente
�\
Antes da noite chegar
desceu Ricarte a am baixio
e viu nas águas do rio
um veadinho passar
ele ali pôs-se a pensar
que o veado fosse alguem
disse consigo:nãotem
sem ser Deus quem tanto faça
e como um veado passa
eu vou e passo tambem
E ali se preparou
a Deus entregando a alma
entrando com toda calma
o rio ele atravessou
Galafre de fora olhou
disse muito admirado:
creio que aquele danado
não é frncês e nem mouro
tem o diabo no couro
ou é um ente encantado!
Ricarte então avançou quando muito tinha andado
viu o cavalo suado
numa sombra se apeou
o rei Clarião chegou?
e lhe disse: cavalheiro
você está prisioneiro;
foi logo o ameaçando
Ricarte disse se armando:
havemos de ver primeiro
por sobre o ombro direito
que lascou até o peito
�Ricarte podesearmar
e tratou de se montar
no cavalo que o rei vinha
que todos sinais bons tinha
e corria sem cansar
Vinte e três léguas tirou
nessa jornada que ia
quando foi no outro dia
a Carlos Magno chegou
esse de alegre chorou
pois estava em desesperos
pensando que os cavalheiros
duma só vez os perdeu
quando Ricarte lhe deu
noticia dos companheiros
Carlos Magno reuniu
os grandes de sua corte
para ver a sua sorte
o plano se decidiu
ali logo o preveniu
que seguisse o batalhão
tinha grande precisão
de pela manhã partir
precisava destruir
o almirante Balão
Disse Ricarte: convem
de madrugada partir
para amanhã ir dormir
perto de um ponto que tem
onde não chega ninguem
que não s e j a devorado
e por ali é trancado
o reino do almirante
o vigia é um gigante
que parece endiabrado
�Disse Carlos Magno: então
não achaste outro lugar
onde se possa passar?
Ricarte respondeu: não;
o rio é COMO um vulcão
reto como o horizonte
está do lado oposto um monte
que forma uma serrania
só se pode ir à Turquia
se for por aquela ponta
Carlos Magno perguntou:
o que havemps de fazer
para poder obter?
Ricarte ali explicou
disse a Carlos Magno: eu vou
com 3 ou 4 na frente
entremos fingidamente
se o gigante abrir a porta
a minha espada o corta
e passará toda gente
Ricartee foi e bateu
chamando pelo gigante
e esse no mesmo instante
armado lhe apareceu
olhou mas não conheceu
perguntou o que queria
disse Ricarte que ia
ao almirante Balão
fazer-lhe uma transação
com as joias que trazia
—Pode entrar, mostre o que tem
disse a Ricarte o gigante
o duque Regner e Nante
de lado entraram tambem
disse Galafre: convem
�A Prisão de Oliveiros
—33
sua capa ser tirada
há de ser examinada
a sua mercadoria...
Ricarte ali sem porfia
meteu logo mão à espada
O gigante ali ergueu
a arca
por sua parte
deitando 1 golpe em Ricarte
mas esse o corpo torceu
tanto que a arca bateu
numa pedra e nela entrou
Carlos
Magno
chegou
antes
o
portão se abriu
o exército o investiu
a
ponte então se tomou
Depois da ponte invadida
morto Galafre, o gigante
deram parte ao almirante
da desgraça 'sucedida
praguejando a propria vida
mandou a força atacar
e a torre derrubar
e matar os cavalheiros
antes que seus companheiros
fossem aos pares se juntar
Os turcos iam subiuâo
mas as damas preparadas
atiravam-lhes
pedradas
iam dez, doze caindo
por mais que viesse vindo
chegava ali e morria
assim
ninguem resistia
resolveram se afastar
para não 'ver-se acabar
o exército da Tarquia
�A ordem assim cumprida
a torre foi atacada
não foi um turco à escada
que lá não deixasse a vida
parte da torre caída
um oitão já como um facho
mas pedras, tijolo e tacho
tude que as damas achavam
sobre os turcos atiravam
matavam os que estavam em baixo
Ali disse ao almirante
um soldado que chegava
que Carlos Magno já estava
menos de légua distante
disse a praça: neste instante
deixai a vila vencida
cruelmente destruída
pois os franceses onde vão
só com a sombra da mão
arrancam a alma e a vida
Nisso saiu Sortibão
com dez mil homens armados
ao chegar foram atacados
todo esforço foi em vão
o almirante Balão
mandou o rei Argolante
depois mandou mais Burlante
mas nada se aproveitou
Carlos Magno atacou
foi-se tudo num instante
O almirante Balão
como uma fera bravia
quis mostrar a covardia
do imperador cristão
rugindo comoumleão
�disse:
oh! velho imperador
hoje estás quase senhor
de minha força e poder
vem comigo te bater
ver quem será vencedor!
O sangue o campo tomava
provocando piedade
força em grande quantidade
de toda parte chegava
o almirante animava
aos turcos
que resistissem
com toda força investissem
mostrassem que era guerreiros
para que os cavalheiros
com os outros não se unissem
Os cavalheiros cercados
viram um força que vinha
Carlos Magno j á tinha
perdido muitos soldados
saíram dez bem armados
entre os turcos se meteram
parte dos turcos correram
com a presença dos pares
todos aqueles lugares
de cadáveres se encheram
O almirante Balão
desesperado investiu
como uma fera partiu
a
um cavalheiro cristão
com tanta disposição
peito a peito o enfrentou
o cristao se desviou
e se livrou da espada
mas aquela cutilada
o cavalo lhe matou
�Sem atender mais alguem
o cavalheiro em flagrante
-investiu ao almirante
matou o dele tambem
com orgulhoso desdem
o rei turco conheceu
um cristão se enfureceu
e disse: é o almirante!...
e naquele mesmo instante
o cavalheiro o prendeu
O almirante Balão
vendo-se ali indefeso
foi obrigado a ir preso
ao imperador cristão
esse com bom coração
como amigo o recebeu
pedindo-lhe esclareceu
que aos ídolos não adorasse
disse que se batizasse
que entregava o que era seu
Alichegou Ferrabraz
a seus pés se ajoelhou
banhado em pranto rogou
não adorar idolos mais
dizendo: ó satanás
que vivo o perseguindo
meu pai que está se iludindo
quando o Eterno o chamar
o senhor há de chorar
o demonio entra sorrindo
Se meu pai fosse cristão
como CarlosMagnoé
se lutasse pela fé
tivesse religião
�como um rei cristão não vai
pois da lei de Deus não sai
se em Deus tivesse esperança
nem dez mil pares da França
não venceriam meu pai
—Oh! meu pai, o senhor tendo
um grande exército valente
e
doze
homens somente
resisti-lo
combatendo?
Galafre um gigante horrendo
que em guerra tinha arte
todo mundo viu Ricarte
que ninguem pode pagá-lo
e atravessou a cavalo
•o rio de parte a parte
Por rogos de Ferrabraz
o almirante Balão
prometeu ser um cristão
porem depois não quis mais
era crença de seus pais,
não quis deixá-la por n a d a
um murro de mão fechada
no arcebispo ele deu
nas pontas dos pés se ergueu
cuspiu na pia sagrada
O filho inda quis salvá-lo
mas o pai era um horror
mandou no campo matá-lo
depois mandou sepultá-lo
cem honras de soberano
ele era um ímpio profano
porem devia enterrar-se
porque tambem era h m n
u ao
�Agora vamos tratar
Floripes como ficou
quando da torre avistou
Carlos Magno marchar
quando foi a visitar
e dar-lhe agradecimento
com grande contentamento
Floripes o abraçou
Carlos Magno marcou
o dia do casamento
Carlos Magno mandou
que o arcebispo aprontasse
tudo quanto precisasse
o arcebispo aprontou
Floripes se batizou
como tinha projetado
ficou tudo descansado
de uma luta agonizante
no reino do almirante
com todo povo a seu lado
Ficou a Turquia em paz
e guerra se concluía
Carlos Magno dividiu
o reino em partes iguais
deu metade a Ferrabraz
com toda legalidede
ele de boa vontade
oom isso ae conformou
Guy de Borgonha ficou
oom a mesma quantidade
�Disse a Guy e a Ferrabraz:
qualquer de vocês é dono
fiquem regendo o trono
não façam coisas demais
façam
governos leais
hoje tenho de partir;
cuidou em se despedir
levantou o estandarte
via-se ali de parte a parta
gente gemer e cair
E Floripes soluçando
a Carlos Magno abraçou
uma dama desmaiou
e caiu-lhe aos pés chorando
Carlos Magno as consolando
porem de nada sabia
porque todos da Turquia
botaram nos corações
de Carlos Msgno as ações
a todo mundo prendia
Que hora penalizada
quando a bandeira se içou
e a oorneta tocou
a marcha da retirada
a força em marcha avançada
numa tristeza medonha
como a esposa que sonha
que está doente morrendo
eram os soldados dizendo
adeus a Guy de Borgonha
�Foi penosa a despedida
do imperador cristão
Guy de Borgonha e Roldão
soluçavam na partida
Floripes triste e sentida
abraçou os cavalheiros
prinoipalmente os primeiros
que à terra foram chegados
soluçavam abraçados
Ferrebraz e Oliveiros
Gay de Borgonha chegou
sem a minima expressão
quando seu primo Roldão
banhado em pranto abraçou
quis falar mas não falou
com o duque d s Nemé
Geraldo de Mondefé
a Tietre de Dardanha
tevetristezatamanha
queficoususpensoempé
--FIMJuazeiro
Ceará
20/04/1 981
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
1102
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_ecriture
Lieu d'écriture
Lieu qui apparaît renseigné parfois à la fin des textes. On suppose que c'est l'endroit où l'auteur a écrit le texte
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
imprimerie
champ important pour indiquer les typographies
Lira Nordestina
lieu_edition
Lieu d'édition
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Desenho
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
acrostiche
não
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
Prisão de Oliveiros
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Barros, Leandro Gomes de
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
40
Language
A language of the resource
português
Date
A point or period of time associated with an event in the lifecycle of the resource
1981
Publisher
An entity responsible for making the resource available
Filhas de Silva, José Bernardo da (Prop) - Republicação da MEC/PRONASEC Rural - SEC/Pb UFPB - FUNAPE
-
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PDF Text
Text
Autor: Leandro Gomes de Barros
História de
Roberto do Diabo
Ed. Esp. 3M. IN. Biblioteca Nacional do Cordel
��Autor: Leandro Gomes de Barros
HISTÓRIA DE
ROBERTO DO DIABO
Na província da Normandia
na remota antiguidade
viveu o duque Alberto
cheio de fraternidade
era ele o soberano
de toda aquela cidade.
Ela era um moço solteiro
não pensava em casamento
não era por egoista
nem por ser rico avarento
era porque no futuro
nunca pensou um momento.
Disse um vassalo ao duque:
sei que é bom ser solteiro
o homem que não se casa
vai caminhar sem roteiro
veja bem que seu roteiro
veja bem que seu ducado
mais tarde precisa herdeiro.
O duque ouvindo estas frases
mudou logo o pensamento
ficou crendo no vassalo
naquele mesmo momento
e disse que nas mãos dele
estava o seu casamento.
�Seguiu então o vassalo
foi dar parte na cidade
aquelas pessoas doutas
de alta capacidade
que o duque prometia
fazer a sua vontade.
Ficaram todos contentes
foram então consultar
qual era a moça capaz
daquele duque casar
depois da consulta feita
poderam então acertar.
A duqueza de Borgonha
foi essa a moça escolhida
eles seguiram com medo
desta jornada perdida
mas ela mandou o sim
da proposta referida.
Eu poucos dias depois
tiveram então de casar
foi uma festa tão grande
que nem se pode contar
eu não conto neste livro
pra ele não aumentar.
Depois dos jovens casados
ficou tudo satisfeito
porque mais tarde teriam
quem punisse o seu direito
o ducado tinha herdeiro
e o povo tinha conceito.
�Desta vez cairam eles
num dos maiores enganos
porque o diabo impera
em todos seres humanos
pois vieram ter família
já com dezessete anos.
Com seis anos de casados
estando ele no jardim
disse a duqueza ao marido:
um de nós é o ruim
se acaso somos perfeitos
porque vivemos assim?
O duque disse a ela:
não posso contradizer
se eu casasse com outra
nada havia de acontecer
quanto nada uns 5 filhos
eu havia de os ter.
Disse ela ao marido:
eu tenho cá para mim
que se casasse com outro
não me sucedia assim
embora que o senhor diga
que meu pensamento é ruim.
— Senhora, o que me aflige
no momento derradeiro
é nós não termos um filho
que seja o nosso herdeiro
eu morro, fica o ducado
nas mãos de um estrangeiro.
�Estas palavras pra ela
causou tanta apreenção
o seu desgosto foi tanto
mudou até de feição
ficou quase alucinada
na mesma ocasião.
O duque então conheceu
que a mulher endoidecia
saiu com ela a passeio
para ver se a distraía
quanto mais ele agradava
mais ela se consumia.
No outro dia a duqueza
amanheceu melhorada
chamou o marido e disse:
não tenho culpa de nada
porque se fosse por mim
talvez não tivesse casada.
— Toda familiaridade
é Deus quem a determina
eu por não ter concebido
não vou queixar-me da sina
que tudo isso depende
da Providência Divina.
Tristonha e amargurada
vivia a jovem duqueza
junto com o seu marido
na mais profunda tristeza
porque não tinha um filho
que herdasse sua riqueza.
�Disse a duqueza ao marido
conversando a este fim:
se eu conceber, um filho
não quero ele pra mim
o diabo que tome conta
já que eu sou tão ruim!
— Ao diabo ofereço
tudo que de mim nascer
não importa que conceba
ou deixe de conceber
um ente assim como eu
não presta nem pra morrer
Quando ela terminou
aquele assunto assombroso
o diabo que na matéria
se julgava prodigioso
fez a mulher ficar grávida
de um modo misterioso.
O diabo mostrou que era
infame e tentador
naquela concepção
foi uma cena de horror
foram 9 meses de grávida
foram 9 meses de dor.
Durante a gravidez
perdeu da vida a esperança
porque já não suportava
os abalos da criança
entretanto era o diabo
exercendo tal vingança.
�Quando aproximou-se a hora
de nascer esse inocente
veio um grande nevoeiro
de lado do Ocidente
que acinzentou o espaço
e escureceu de repente.
Eram dez horas do dia
quanto o menino nasceu
o firmamento agitou-se
o oceano gemeu
sentindo o caso estupendo
que no mundo aconteceu.
Corria o povo na rua
com medo do furacão
vendo os prédios abalados
ao retumbar do trovão
e os coriscos fuzilando
do espaço até o chão.
Pediam misericórdia
por tanta temeridade
corria um fogo rasteiro
pelas ruas da cidade
queimando quem encontrava
sem ter dó nem piedade.
Viu-se o céu aglomerado
e o mar dando bramido
todo povo procurava
saber o que tinha sido
depois vagou a notícia
que Roberto tinha nascido.
�Foi muito grande a aflição
que esse duque se viu
porque o paláco dele
onde a duqueza pariu
sendo este o mais seguro
foi quem primeiro caiu.
Quando amanheceu o dia
todo povo da cidade
seguiu uns após outros
com honra e capacidade
dar parabéns ao duque
por tanta felicidade
O duque por sua vez
mostrava se consolado
porém achando seu filho
muito mal assinalado
pensou que fosse um castigo
que Deus tivesse mandado.
Entregaram esse menino
a três amas pra criar
todas três se ocupavam
somente em dar de mamar
com 2 dias enfraqueceram
não puderam sustentar.
Com 3 dias de nascido
a todos deu o que fazer
chupava os peitos das amas
que só faltava morrer
pegaram carne e farinha
deram pra ele comer.
�Com cinco meses depois
ele sabia falar
andava e corria tudo
sem ninguém lhe ensinar
toda brincadeira dele
só era pra judiar.
Rapidamente cresceu
mesmo nessa pouca idade
se avultava o tamanho
dobrava a perversidade
fazer mal a todo mundo
era o que tinha vontade.
Quando tinha sete anos
não respeitava ninguém
arrombava a casa alheia
não perguntava a quem
queimava o que tinha dentro
e achava que estava bem.
Quando encontrava 1 menino
mesmo sendo camarada
avançava em cima dele
dava tanta bofetada
quebrava braços e pernas
dizendo: é por caçoada.
Todos os pais de família
rsidentes no ducado
recomendavam aos filhos:
andem com muito cuidado
só podem sair na rua
Roberto estando amarrado.
�(9)
Juntaram-se trinta rapazes
uns de faca, outros de espada
foram lutar com Roberto
porém não serviu de nada
destes o que não morreu
saiu de perna quebrada.
Disseram os que escaparam:
aquele ninguém dá cabo!
toda pessoa que via
esse satanás de rabo
dizia aos outros: fujamos
lá vem Roberto do Diabo!
Já era tão conhecido
esse monstro traiçoeiro
vagava a trêda notícia
no continente estrangeiro
repercutindo o estrondo
nas áreas do mundo inteiro.
Já o duque envergonhado
com o tal procedimento
vendo Roberto assassino
malvado, sanguinolento
julgava que a doutrina
lhe mudasse o pensamento.
Mandou chamar logo 1 mestre
homem de muita instrução
cortês, honesto e honrado
como fosse, um cortezão
entregou Roberto a ele
na mesma ocasão.
�O duque que já vivia
capaz de perder o tino
disse ao mestre em voz alta:
o que fizer eu assino
doravante o seu trabalho
é ensinar este menino.
Pegou o mestre ensinando
com muita calma e cuidado
porém Roberto do Diabo
insolente e desgraçado
tudo quanto ele aprendia
só era pra ser malvado.
Um dia saiu na rua
fazendo muita insolência
matando, quebrando perna
sem doer-lhe a consciência
então foram ao mestre dele
pedir-lhe a providência.
O mestre repeliu ele
prometendo castigar
Roberto disse ao mestre:
acho melhor não falar
no mundo não nasceu homem
que possa me dominar.
O mestre ainda falou
pra ver se ele temia
porém Roberto zangou-se
partiu como tanta ousadia
deu-lhe quatro punhaladas
botou-o na campa fria.
�Toda cidade agitou-se
de ver tanta tirania
o duque por sua vez
quase morre de agonia
vendo seu filho Roberto
as desgraças que fazia.
Assim foi ele crescendo
até que ficou rapaz
seu diabólico gênio
aumentava cada vez mais
quem visse ele julgava
ser filho de satanás.
O duque já não sabia
o que devia fazer
para seu filho Roberto
a mais ninguém ofender
chamou-o à sua presença
para dar-lhe um parecer.
Quando Roberto chegou
o duque lhe disse assim:
meu filho, largue esta vida
deixe de ser tão ruim
a consciência me diz
que será triste teu fim.
Disse Roberto a seu pai:
não quero seu parecer
o que tenho no pensamento
o senhor pode saber
inda não fiz nem um quarto
do que pretendo fazer.
�O duque já censurado
quase no mundo inteiro
não só no país natal
como pelo estrangeiro
deliberou a fazer
de Roberto um cavalheiro.
Julgando ele que o filho
porque tinha pouca idade
e depois de colocado
na alta sociedade
ele ficasse emendado
de tanta perversidade.
Quando foi no outro dia
mandou um encarregado
avisar todos os príncipes
residentes no ducado
pra se acharem em palácio
naquele dia marcado.
Juntaram-se os príncipes todos
nacional e estrangeiro
mandaram chamar Roberto
o bandido cangaceiro
deram a ele um bom cavalo
gordo, possante e ligeiro.
Deram-lhe mais uma espada
uma lança e um facão
ele depois de montado
já parecia um dragão
os olhos tão penetrantes
como a chama dum vulcão.
�Quando começou as juntas
Roberto saiu primeiro
meteu a lança no peito
de um príncipe estrangeiro
este morreu de repente
sendo o melhor cavalheiro.
Quando se deu essa morte
o povo se reminou
contra Roberto do Diabo
tudo ali se revoltou
Roberto matou quatorze
desses nenhum escapou.
Levantou-se contra ele
todo povo da cidade
ele cutelava o povo
sem ter dó nem piedade
horrorizava quem visse
por tanta barbaridade.
O duque se horrorizava
vendo o povo se acabar
Roberto matando tudo
ninguém podia o matar
ficou sozinho na praça
sem ter mais com quem brigar.
Roberto se viu sozinho
toda cidade fechada
não foi mais para o palácio
seguindo por uma estrada
juntando outros companheiros
de vida bem depravada.
�Isso ele encontrou logo
que gente ruim não faltava
saiu por toda Normandia
roubando o que encontrava
casada, moça e viúva
tudo ele desonrava.
Quando via uma choupana
se alguém quisesse fugir
ele botava-lhe fogo
sem o dono pressentir
e mandava cercar a casa
para o povo não sair.
O povo fazia queixas
ao duque e a duqueza
vendo Roberto do Diabo
fazer tanta malvadeza
sem haver quem desse jeito
abrandar-lhe a natureza.
O duque com essas queixas
tinha tanta compaixão
de ver seu povo sofrendo
aquela conspiração
vendo a hora que Roberto
fazia-lhe uma traição.
Viviam os pais de Roberto
todo dia em devoção
entregando o filho a Deus
na mesa da comunhão
pra ver se ele um dia
mudava a má condição.
�O duque tinha um amigo
que era de confiança
foi um dia e disse a ele
eu tive uma lembrança
mandando chamar Roberto
eu creio que ele amansa
É exato que Roberto
é malvado e desordeiro
mas se ele conhecesse
a vida dum cavalheiro
eu creio que ele ficava
mais manso que um cordeiro.
O duque então animou-se
e ficou muito contente
participou a duqueza
disse ela: felizmente
talvez que por este meio
nosso filho seja gente.
Quando foi no outro dia
o duque tinha juntado
sessenta homens dispostos
tendo um encarregado
e foram atrás de Roberto
dar-lhe o seguinte recado.
Com dois dias de viagem
eles poderam saber
que Roberto estava no monte
era custoso de o ver
sendo uma viagem longa
muito arriscado a morrer.
�No mesmo dia encontrou
por um enorme roteiro
trinta homens bem armados
sendo chefe um cangaceiro
antes de falar com eles
ameaçou-os primeiro.
Aí travou-se uma luta
depois de muitos abatidos
os mensageiros do duque
se achavam quase vencidos
gritaram pedindo paz
afinal foram atendidos.
Lhes disse o encarregado
o duque foi quem mandou
que eu viesse ao monte
como de fato, aqui estou
para falar com Roberto
se me consente, eu vou.
Lhe disse o adversário:
nos desculpe, meu rapaz
pessoas do duque Alberto
mal aqui ninguém lhes faz
se eu soubesse há mais tempo
vocês passavam em paz.
Daí seguiram viagem
cortando aquele deserto
e com três dias depois
já se achavam mais perto
até que depois chegaram
aonde estava Roberto.
�Roberto vendo esse povo
ficou muito admirado
disseram logo a Roberto
que o duque tinha mandado
saber de sua saúde
e dar-lhe mais um recado.
— Seu pai mandou lhe dizer
que o senhor fosse pra lá
nós todos por uma boca
aconselhamos que vá
porque não sendo assim
creio que lhe surte má.
— O duque já está cansado
de tanto lhe aconselhar
o senhor nunca aceitou
mas hoje tem que aceitar
se não quiser ir por gosto
eu mando lhe castigar.
Roberto ouvindo esta voz
ficou como um cão danado
mordia os beiços e a língua
já de semblante mudado
depois gritou aos capangas:
quero este povo amarrado!
Os capangas ouvindo o grito
de Roberto, seu patrão
partiram em cima do povo
ferozes como um leão
de um a um amarraram
de pé, cabeça e mão.
�Depois de tudo já preso
pegou Roberto a pensar
se deixava eles vivos
ou se convinha matar
qual era a melhor maneira
que tinha pra se vingar.
Pegou um grande punhal
de ponta bem aguçada
arrancou os olhos de todos
parece que não fez nada
e mandou-os levar ao duque
em paga da embaixada.
Roberto soltou os cegos
e disse que fossem embora
eles temendo a morte
não tiveram mais demora
guiava um cego outro cego
todos por ali afora.
Depois que os cegos saíram
Roberto ficou zangado
rogando praga a si mesmo
como um endiabrado
dizendo que o seu pai
era um monstro condenado.
Quando chegaram em palácio
tudo de olho arrancado
o duque ficou suspenso
no meio do salão pasmado
a duqueza estava perto
caiu para outro lado.
�Quando voltaram a si
ficaram tão pensativos
mandaram chamar o médico
pra fazer os curativos
dando mil graças a Deus
por terem ficados vivos.
Ficaram 60 cegos
o duque era quem sustentava
calçados, roupas e comida
tudo era ele quem dava
uma criada e dinheiro
pra eles nunca faltava.
O duque pensava tanto
só faltava enlouquecer
desde já resignado
— Sucede o que suceder
Deus tome conta de tudo
não tenho mais que fazer.
Ficou Roberto no monte
com a corja de ladrão
roubando o que encontrava
por vila e povoação
abrindo pessoas vivas
e arrancando o coração.
Onde Roberto passava
ninguém podia passar
porque uma ave agoureira
não deixava de cantar
chamando de hora em hora
o diabo pra lhe ajudar.
�A província da Normandia
estava quase um deserto
o povo se retirando
os que moravam mais perto
porque temiam passar
onde habitava Roberto.
Roberto que era um monstro
de um gênio descomunal
se apartou dos companheiros
naquele bosque infernal
seguiu pela mata à dentro
buscando a quem fazer mal.
Encontrou sete ermitões
que já vinham de arribada
sabendo a notícia dele
iam deixando a morada
caíram sempre nas mãos
daquela fera assanhada.
Roberto quando viu eles
pegou a ranger os dentes
mordia os beiços e a língua
quase como uma serpente
puxou por uma espada
e chegou-se mais pra frente.
Todos seis se ajoelharam
pedindo por caridade:
senhor Roberto não nos mate
por um Deus de piedade
peço pelas três pessoas
da Santíssima Trindade!
�Roberto que não sabia
o que era compaixão
só conhecia os caprichos
de seu brutal coração
cortou dos sete a cabeça
deixou-os prostrados no chão.
Daí seguiu a jornada
procurando a quem matar
adiante ouviu uma voz
brandamente lhe falar
disse três vêzes: Roberto
Deus há de te castigar!
Respondeu Roberto a voz:
te arma vamos lutar
pois eu em cima do mundo
não achei com quem brigar!
Disse-lhe a voz outra vez:
Deus há de te castigar!
Saiu Roberto a procura
para ver se encontrava
se aquilo era uma voz
ou pessoa que falava
ele pouco mais ou menos
deste mistério cismava.
Essa cisma para ele
causou-lhe grande pavor
poucos minutos depois
foi encontrando um pastor
assim que viu disse logo:
de mim não tenha temor.
�Ficou Roberto tocado
desde daquele momento
do poder do Espírito Santo
e do Divino Sacramento
vivendo com Deus na boca
e Jesus no pensamento.
Roberto aí conheceu
que não estava direito
voltou pra casa dos pais
pra ver se lhe davam um jeito
pedindo perdão ao povo
de tudo que tinha feito.
Quando o povo viu Roberto
entrar na cidade armado
com a espada na mão
vinha todo ensaguentado
quem não entrou nas casas
subiu-se pelo telhado.
Roberto foi ao palácio
mas o duque não estava
e a duqueza trancou-se
conhecendo quem falava
alguém que ficou na rua
corria ou se trancava.
Roberto bateu na porta
a todos tratando bem
— Minha mãe, abra esta porta
pelo amor que me tem
em nome de Deus eu juro
não fazer mal a ninguém!
�A duqueza abriu a porta
porém um pouco cismada
porque ela há muitos anos
que vivia conspirada
e mesmo naquele monstro
não confiava mais nada.
A duqueza viu Roberto
cair em seus pés chorando
ela tomou-o nos braços
diz ele se lastimando:
bote-me a sua bênção
e continuou soluçando.
Ela quando viu o filho
tornar-se tão paciente
ficou muito satisfeita
regosijada e contente
e perguntou o motivo
dele ser tão insolente
Disse Roberto à duqueza:
por esta mesma razão
é que estou em vossos pés
pedindo o vosso perdão
quero saber o que houve
na minha concepção
— A senhora não se lembra
quando a mim concebeu
se rogou alguma praga
ou se alguém ofendeu?
Me seja mais positiva
diga, o que foi que se deu?
�— Se eu tivesse a certeza
que já nasci praguejado
pela senhora ou o duque
já eu me tinha emendado
talvez eu nunca chegasse
ao ponto que tenho chegado!
A duqueza ouvindo isso
caiu prostrada no chão
dizendo a ele chorando:
filho, tens toda razão
eu entreguei-te ao diabo
na tua concepção.
Roberto deu-lhe uma síncope
ficou sem poder falar
amortecido no chão
isto somente em pensar
o que fazia no mundo
para Deus lhe perdoar.
Quando ele voltou a si
a mais ninguém conhecia
estava tão atribulado
em vez de falar tremia
todo banhado em lágrimas
por esta forma dizia:
— Oh! Deus que hora minguada
da minha concepção
antes de eu vir ao mundo
vivia na maldição
foi minha mãe que atirou-me
na vala da perdição!
�— Ah! maldito tentador
por ti tornei-me assassino
vivi sobre teus enganos
desde o tempo de menino
praticaste a covardia
no gênero feminino!
— Eu tenho sido guiado
por teu caminho infeliz
do meu viver diabólico
todo mundo contradiz
pedem justiça a meu Deus
pelos crimes que já fiz!
— Mas vós, Senhor, perdoastes
aquele ente imundo
que vos levou ao suplício
naquele abismo profundo
perdoa também Roberto
maior pecador do mundo!
Roberto dizia isso
contrito no coração
nos pés da mãe ajoelhou-se
chorando pediu perdão
pediu que dissesse ao duque
que lhe botasse a benção.
Daí Roberto seguiu
para sua residência
onde estava os ladrões
vivendo de insolência
porém quando viram ele
renderam-lhe obediência.
�Roberto saudou a todos
dizendo a um homicida:
não se faz mais insolência
quero esta ordem mantida
hoje pretendo mudar
este sistema de vida.
Aí levantou-se tudo
cada qual com mais façanha
foram dizendo a Roberto:
se entrar em luta não ganha
assim para que nos trouxe
aqui pra esta montanha?
Disse Roberto a eles:
a mim ninguém ameaça
estou da parte de Deus
porém não temo a desgraça!
Aí travou-se uma luta
cobriu-se o mundo em fumaça.
Com uma hora de luta
estava tudo esbandalhado
Roberto no meio deles
parecia um cão danado
depois de ver todos mortos
ficou então descansado.
Daí seguiu para Roma
por um caminho estreito
dormiu na casa dum primo
porém não teve conceito
tudo isso em recompensa
dos males que tinha feito.
�Aí não quiseram vê-lo
fecharam logo o portão
ele foi para a igreja
rezando uma oração
mas ninguém acreditava
que fosse de coração
Roberto foi a um monge
para pedir confissão
esse teve tanto medo
valeu-se do sacristão
afinal ambos correram
não lhe prestaram atenção.
— Ó meu Deus, que sina a minha
valei-me nesta aflição!
Tenho vivido no mundo
nas trevas da maldição
hoje não acho quem queira
ouvir-me de confissão!
Quando o monge assim ouviu
Roberto se lastimar
disse a ele: vá pra Roma
procure se confessar
porque o Sumo Pontífice
dá jeito a lhe perdoar.
Roberto seguiu pra Roma
só se ocupava em rezar
lá ninguém queria vê-lo
não teve onde se arranchar
e os guardas do Pontífice
não lhe deixaram entrar.
�Quando foi no outro dia
voltou para a devoção
meteu-se por entre o povo
levado muito empurrão
desta vez chegou ao Papa
e lhe pediu confissão.
— Quem és tu? pergunta o Papa
quando ele se ajoelhou
Roberto lhe respondeu:
não posso dizer quem sou
sou o ente mais imundo
que a natureza criou.
— Serás Roberto do Diabo?
(o Papa lhe disse assim)
que todo mundo reclama
por ele ser tão ruim?
Todo povo é contra ele
ninguém o pode dar fim?
Disse Roberto em soluços
sou eu o monstro tirano
o meu nome é Roberto
do Diabo, por engano
fui o parto mais sem sorte
de todo genero humano.
O Papa confessou ele
na mesma ocasião
depois mandou-o para o monte
onde estava o ermitão
porque ele era quem podia
dar-lhe absolvição.
�Roberto chegou no monte
ansioso procurava
a casa do ermitão
para ver se encontrava
depois encontrou a casa
onde o ermitão morava
Quando Roberto viu ele
caiu de joelhos no chão
este saiu da morada
pegou ele pela mão
levou-o pra uma capela
e mandou-o fazer oração.
Roberto ficou orando
e o ermitão voltou
quando caiu a tardinha
que Roberto terminou
de fazer suas orações;
quis voltar, não acertou.
O ermitão nessa noite
passou fazendo oração
pedindo a Deus que fizesse
a sua revelação
dá penitência a Roberto
e a sua absolvição.
Às quatro da madrugada
quando o ermitão dormia
no silêncio matutino
no amanhecer do dia
desceu do céu uma voz
por esta forma dizia:
�— Desperta, homem de Deus
manda Roberto pra Roma
se fingindo doido e mudo
conservando este sintoma
e os sobejos dos cachorros
seja a comida que coma.
Quando findou-se a conversa
o ermitão despertou
foi logo para a capela
onde Roberto ficou
para dar-lhe a penitência
conforme Deus lhe mandou.
Disse o ermitão a ele:
Deus te mandou para Roma
se fingindo doido e mudo
conservando este sintoma
e os sobejos dos cachorros
seja a comida que coma.
Ele ouviu a penitência
e teve absolvição
daí partiu para Roma
por ordem do ermitão
fazendo sua penitência
contrito de coração.
Entrou Roberto em Roma
nesse miserável estado
fazendo muitas misuras
correndo pra todo lado
seus olhos tão vacilantes
como dum alucinado.
�Juntou-se em roda dele
aquela rapaziada
uns lhe voavam peteca
outros lhe davam pancada
Roberto agüentando tudo
não podia fazer nada.
Andava a plebe na rua
toda numa multidão
uns lhe puxavam os cabelos
outros lhe davam empurrão
outros cuspiam na cara
e findavam em mangação.
Vivia o pobre Roberto
na maior da inclemência
bebendo fel de amargura
e durante a penitência
foi ele o segundo Job
relativo a paciência.
Roberto viu-se com fome
nada podia fazer
entrou na casa do rei
para dar-lhe a conhecer
que estava necessitado
com precisão de comer.
Quando Roberto chegou
na sala da refeição
pegou com muitas misuras
fazendo letras no chão
o rei achando engraçado
e prestando bem atenção.
�O rei estava jantando
perto dele tinha um cão
sendo este muito bravo
ninguém lhe passava a mão
só mesmo o imperador
mas outra pessoa, não.
O rei voou ao cachorro
um osso muito carnudo
Roberto foi ao cão
como era doido e mudo
tomou-lhe a carne da boca
e comeu com osso e tudo.
O cão nem se remexeu
no lugar em que se achava
o rei olhou pra Roberto
vendo a fome que ele estava
mandou preparar comida
pra ver se ele aceitava.
Roberto vendo a comida
se pôs com muito gracejo
se fazendo que não tinha
daquilo o menor desejo
porque se achava obrigado
comer dos cães o sobejo.
O rei por experiência
inda sacudiu um pão
para o cachorro comer
Roberto foi com a mão
tomou, comeu a metade
e deu o resto ao cão.
�Esta vida de Roberto
causava admiração
ser amigo dum cachorro
mais feroz que um leão
dormindo e comendo juntos
na mais perfeita união.
O rei tinha um vassalo
um almirante pagão
era homem poderoso
ao rei propôs questão
era um esteio da pátria
que presidia a nação.
O vassalo era solteiro
precisava de casar
o rei que tinha uma filha
era muda e singular
foi pedida em casamento
porém o rei não quis dar.
O almirante zangou-se
tratou de juntar gente
formou uma grande esquadra
foi ele mesmo na frente
entrou nas terras do rei
como um bandido insolante.
O rei se vendo abatido
ficou muito indignado
mandou tomar as trincheiras
nos limites do Estado
pra reagir ao bandido
aonde fosse encontrado.
�No outro dia bem cedo
encontrou o inimigo
com oito horas de luta
o rei dizia consigo:
se eu não me retirar
creio que estou em perigo.
Quando foi no outro dia
o almirante atacou
todo o exército do rei
de um por um amarrou
o rei também não foi preso
porque ali não passou.
Roberto ficava triste
com as notícias que ouvia
as derrotas da cidade
que o almirante fazia
sabendo que noutro tempo
ele sozinho vencia.
Roberto nesta aflição
ouviu uma voz dizer:
um cavalo e boas armas
a ti hão de aparecer
vai defender o teu rei
que não merece morrer.
Então Roberto animou-se
e seguiu para o jardim
lá encontrou um cavalo
mais alvo do que marfim
trazendo todo armamento
sobre a capa do selim.
�O cavalo era encantado
ali ninguém pressentiu
nem quando ele chegou
nem quando ele saiu
a filha muda do rei
foi a única que viu.
Roberto vendo o cavalo
ficou pasmo de alegria
meteu se logo nas armas
que o cavalo trazia
da forma que ele ficou
nem mesmo o rei conhecia.
Seguiu logo à toda pressa
pra onde estavam brigando
todo o exército do rei
já ia se retirando
na hora desta aflição
ía Roberto chegando.
Roberto gritou dizendo:
anima, rapaziada
agora chegou um homem
que nunca temeu a nada
nunca ví ninguém valente
no gume de minha espada!
Entrou Roberto na luta
como quem vinha danado
com meia hora depois
não tinha nenhum soldado
o que não tinha morrido
por si tinha arribado.
�O rei ganhou a vitória
o almirante perdeu
porque os soldados dele
foi raro o que não morreu
Roberto fez tudo isso
depois desapareceu.
Roberto chegou em casa
entrou no seu aposento
despediu-se do amigo
e entregou-lhe o a r m a m e n t o
aí sumiu-se o cavalo
naquele mesmo momento.
Disse o rei aos vassalos:
eu o que hei de fazer
pra pegar aquele homem
que nos salvou de morrer?
Embora que eu não pague
quero ao menos conhecer.
Disse o rei aos vassalos:
eu tenho na minha mente
que o mundo não cria mais
outro homem tão valente
como o do cavalo branco
que defendeu minha gente.
Nisto foi chegando a muda
começou logo a contar
que o louco era quem ía
lá para os campos brigar
disse o rei: é por aceno
eu não posso acreditar.
�Mandaram chamar a dama
que estava acostumada
a conversar com a muda
qualquer história passada
a dama explicou tudo
o rei não deu crença a nada.
O rei tornou-se grosseiro
para a muda e a dama
dizendo: como um louco
pode gozar essa fama?
Quem come com os cachorros
e faz do monturo cama?
Dizia-o almirante:
como é que fui vencido
quase por um homem só
já tinham os outros morrido?
Brevemente irei ao campo
porém eu vou bem munido.
Tratou de juntar gente
pra todo mundo saber
com quem ele conversava
só se vingava em dizer:
agora só vou ao campo
para matar ou morrer.
Em poucos dias depois
ele já tinha juntado
vinte mil homens possantes
tudo muito bem armado
no dia que'entrou em Roma
foi um serviço pesado.
�O rei sabendo a notícia
seguiu para encontrá-lo
com 6 mil homens a pés
e outro tanto a cavalo
procurando o inimigo
pra quando o visse matá-lo.
Tiveram o primeiro encontro
na entrada da cidade
o almirante que vinha
ansioso de vontade
de uma descarga que deu
morreram mais da metade.
O rei conhecendo a morte
mandou tocar retirada
o almirante era bruto
não quis atender a nada
chegaram mais para frente
fizeram fogo à vanguarda.
Nesta hora estava o louco
muito triste e pensativo
chegou o cavalo e disse:
Roberto, sejas ativo
vai defender o teu rei
talvez não seja mais vivo.
Não se sabe explicar
Roberto como ficou
botou as armas na cinta
no cavalo se montou
ligeiro como um relâmpago
em dez minutos chegou.
�Aí debandou-se tudo
até mesmo o almirante
vendo que perdia a vida
arribou no mesmo instante
o rei foi dono do campo
daquela data por diante.
Aí todos se lembraram
do que o rei disse primeiro
que quando houvesse batalha
segurassem o cavalheiro
pra ver se recompensava
aquele herói forasteiro.
Juntou-se o resto do povo
que do rei tinha ficado
cercaram o cavalo branco
que Roberto ía montado
Roberto voou por cima
foi cair no outro lado.
Um dos vassalos do rei
foi quem mais se interessou
quando viu que não pegava
com a lança lhe atirou
porém a lança quebrou-se
dentro o pedaço ficou.
Eles apanharam a lança
para ver se conferia
com o outro pedacinho,
que dentro da perna ía
tomaram essa precaução
para ver se descobria.
�Roberto seguiu pra casa
vendo que estava ferido
entregou o armamento
ao seu cavalo querido
esse desapareceu
e por ninguém foi conhecido
Roberto ficou puxando
e com trabalho tirou
o pedacinho da lança
que na perna se enterrou
debaixo de uma pedra
foi ele mesmo e guardou.
Tudo isso a muda viu
quando Roberto chegou
que o cavalo despediu-se
e quando se retirou
e o pedacinho da lança
aonde ele botou.
No mesmo dia juntou-se
muita gente no reinado
uns que vinham da batalha
outros que tinham brigado
contente pela vitória
e triste por outro lado.
Disse o rei em aita voz:
o homem não se pegou?
Eu de longe estava vendo
o povo que o cercou
não teve um dos senhores
que visse onde ele passou?
�Então lhe disse um vassalo:
eu vendo tudo perdido
que não pegava o homem
nem ele era conhecido
atirei-lhe com a lança
o homem ficou ferido.
— A lança bateu na perna
com muita força entrou
o homem é tão ligeiro
que até a lança quebrou
um pedaço estou com ele
e outro ele levou.
O rei com estas palavras
encontrou facilidade
de mandar pegar os homens
que houvessem na cidade
examinar um por um
pra conhecer a verdade.
Assim mesmo concordaram
mandaram logo pegar
todos homens que haviam
residentes no lugar
examinaram um por um
mas não poderam encontrar.
Quando o rei desenganou-se
que não lhe aparecia
o distinto cavalheiro
que sempre lhe defendia
mandou fazer um edito
e publicou no outro dia.
�Dizia assim o edito:
"a todos faço ciente
"apareça o cavalheiro
"que defendeu minha gente
"casará com minha filha
"dou-lhe o trono de presente".
O almirante que estava
para se suicidar
dizia consigo mesmo:
vou hoje me apresentar
a gente quando se arrisca
é pra perder ou ganhar.
Montou num cavalo branco
que ele tinha comprado
pegou um ferro de lança
agudo e muito amolado
enfiou na perna esquerda
e seguiu com ele enfiado.
Quando ele chegou na corte
ao rei se apresentou
o rei dizia consigo:
como este homem escapou?
O almirante tão cínico
como quem nunca brigou.
Lhe disse o almirante:
vendo-me certificar
segundo há um edito
que ontem eu vi pregar
que quem fosse o cavalheiro
podia se apresentar.
�— Sou eu o tal cavalheiro
agora vou vos provar
de um ferimento que tenho
que não pude me livrar
o ferro quebrou-se dentro
inda não pude tirar.
Aí regassou a calça
e o rei observou
o pedacinho da lança
que o almirante enfiou
o rei de nada sabia
seriamente acreditou.
Então o rei perguntou-lhe:
tu não eras meu rival?
Como foste a meu favor
naquela renha fatal?
São estes um dos exemplos
que nunca vi outro igual.
— Eu fiz a comparação
de fazer guerra ao senhor
quando lhe via perdido
ia ser a seu favor
eu não posso fazer guerra
onde deposito amor.
O rei acreditou tudo
no que lhe disse o pagão
deu-lhe a filha em casamento
contra a sua opinião
porque ele era um crente
de outra religião.
�Ficou o pagão na corte
como uma mosca tonta
olhava todos de banda
dizendo ele: está na ponta!
Porém a princesa muda
dele não fazia conta.
Trataram de arrumação
a tudo deram andamento
distribuíram cartões
de alto merecimento
de forma que só faltava
o dia do casamento.
Foi naquel santo dia
que houve a revelação
do Eterno para o anjo
disse para o ermitão:
vai avisar a Roberto
que Deus manda-lhe o perdão.
Seguiu logo o ermitão
com a maior brevidade
porém chegando na côrte
achou em festividade
a princesa ía casar
bem contra sua vontade.
O ermitão foi ao templo
e o Pontífice também
com dois ou três cardeais
que ali sempre ele tem
estando eles todos juntos
é quando a princesa vem.
�Vinha muito acompanhada
daquela alta nobreza
ela fazia isso tudo
obrigando a natureza
quando ela entrou no templo
foi usando de franqueza.
Porém como Deus é justo
não traz ninguém enganado
mostrou ali um fenômeno
que ficou tudo abismado
fez essa muda falar
que nunca tinha falado.
Disse a muda a seu pai:
o senhor vive enganado
fazer com que eu me case
com um homem falsificado
covarde, corrupto e falso
insolente e depravado.
— Se eu casar-me com ele
será horrendo o meu fim
este nunca lhe ajudou
como é que diz assim?
Quem lhe ajudou na batalha
foi o louco do jardim.
— Sou a melhor testemunha
porque a tudo assisti
da janela do meu quarto
todas as vêzes eu vi
quando fui participar-lhe
disse o senhor que menti.
�— O pedacinho da lança
eu ví quando ele puxou
posso ir agora mesmo
mostrar onde ele botou;
então seguiram com ela
e o almirante arribou.
Foi tudo para o jardim
pra ver se a muda mentiu
disse ela: tirem esta pedra
aí todo mundo viu
o pedacinho da lança
e com o outro conferiu.
Naquele grande cortejo
se achava o ermitão
que tinha vindo do monte
por uma revelação
dar um aviso a Roberto
que Deus lhe dava o perdão.
Foram onde estava Roberto
o encontraram deitado
o rei vigiou-lhe a perna
que a lança tinha furado
a ferida estava aberta
inda não tinha sarado.
Aí descobriu-se tudo
lhe disse o ermitão:
Roberto, estás perdoado
e tive a revelação
Deus mandou eu vir aqui
para te dar o perdão.
�Roberto disse chorando:
Oh! bom Deus de piedade
salvastes a um ente imundo
autor da perversidade
por tão pequeno trabalho
nas obras da caridade.
— De todo gênero humano
fui eu o ente mais ruim
considerei-me perdido
para século sem fim
sigo os vossos mandamentos
pra que vos lembreis de mim
A muda ficou contente
vendo o que o louco dizia
porque as suas façanhas
um grande amor lhe cendia
se não casasse com ele
também outro não queria.
O rei vendo aquela cena
ficou muito horrorizado
de ver a muda falar
contando o que foi passado
e ver um doido varrido
no seu primitivo estado.
O imperador lhe disse
cheio de fraternidade:
Roberto, serás um príncipe
da alta sociedade
casarás com minha filha
com a maior brevidade.
�Aí ficou todo povo
cheio de contentamento
quando foi no outro dia
a tudo deram andamento
só faltava uma semana
pro dia do casamento.
Quando findou esse prazo
então Roberto casou
nos países da Europa
onde a notícia chegou
foi a festa mais galante
que o mundo realizou.
Ficou Roberto em Roma
feito império da nação
era muito generoso
amava a religião
governou com paciência
pela constituição.
Viveu Roberto casado
no seio da confiança
tiveram um filho único
que ficou como lembrança
foi Ricarte da Normândia
dos doze pares de França.
Fim
Biblioteca Nacional do Cordel.
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1973 - 1990
17 ANOS ENSINANDO E APRENDENDO
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
1200
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
edition
1ère, 2ème ou autre édition
Fundação Edson Queiroz, Universidade de Fortaleza
imprimerie
champ important pour indiquer les typographies
Gráfica Unifor
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Xilogravura
illustrateur_couv
Illustrateur de la couverture
Batista, Abraão (ABB)
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
sim
acrostiche
não
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
História de Roberto do Diabo
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Barros, Leandro Gomes de
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
48
Language
A language of the resource
português
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PDF Text
Text
Editor prop.: José Bernardo da Silva
HISTÓRIA
B
DO
Misterioso
��Prop.:-José Bernardo da Silva
Leitor, vou narrar um fato
dum boi da antigüidade
como não se viu mais outro
até a atualidade
aparecendo um dêsses hoje
era grande novidade
Durou vinte e quatro anos
nunca ninguém o pegou
vaqueiro que tinha lama
foi atrás dêle, chocou
cavalo bom e bonito
foi lá, porém estacou
Diz a história: êle indo
em desmedida carreira
caso engalhasse um chifre
num galho de catingueira
conforme fôsse a vergônte».
arrancava-se a touceira
�Êle nunca achou riacho
que dum pulo não saltasse
e nunca formou carreira
que com 3 léguas cansasse
como nunca achou vaqueiro
que em sua cauda pegasse
Muitos cavalos de estima
atrás dêles se acabaram
vaqueiros
que em todos cam
até medalhas ganharam
muitos venderam os cavalos
e nunca mais campearam
É preciso descrever
como foi seu nascimento
que é para o leitor poder
ter melhor conhecimento
conto o que contou-me 1 velho
cousa alguma eu acrescento
-Já completaram 30 anos
eu estava na flor da idade
uma noite conversando
com 1 velho da antigüidade
em conversa êle contou-me
o que viu na mocidade
Foi em mil e oitocentos
e vinte e cinco, êste caso
uma época em que o povo
só conhecia o atraso
quando a ciência existia
porém trancada num vaso
�No sertão de Quixelou
na fazenda Santa Rosa
no ano de vinte e cinco
houve uma sêca horrorosa:
ali havia uma vaca
chamada misteriosa
Isso de misteriosa
ficou o povo a chamar
porque um vaqueiro disse
indo uma noite emboscar
uma onça na carniça
viu isso que vou narrar
Era meia-noite em ponto
o campo estava esquisito
havia até diferença
nos astros do infinito
nem do nambu nessa hora
se ouvia o saudoso apito
Dizia o vaqueiro: eu estava
em cima dum arvoredo
quando chegou essa vaca
que me causou até mêdo
depois chegaram dois vultos
e ali houve um segrêdo
O vaqueiro viu que os vultos
eram de duas mulheres
uma delas disse à vaca:
parta por onde quiseres,
eu protegerei a ti
e as filhos que tiveres
�A£ um vaqueiro viu
um touro ali chegar
então disseram os vultos:
é hora de regressar;
disse o touro: montem em mim
que o galo já vai cantar
Aí clareou a noite
o vaqueiro pôde ver
eram duas moças lindas
que mais não podia haver
o touro era duma espécie
que êle não soube dizer
Ele viu elas montarem-se
viu quando o touro saiu
a vaca se ajoelhou
e atrás dêles seguiu
depois veio a onça e êle
atirou-lhe, ela caiu
Por isso teve a vaca
daí em diante êsse nome
uns chamavam feiticeira
outros, vaca lubisome
diziam qu'ela era a alma
dum boi que morreu de
O coronel Sezinando
fazendeiro dono dela
não quis que pegasse ela
disse que o morador dêle
não tirasse leite nela
fome
�No ano de vinte e quatro
pouca chuva apareceu
em todo sertão do norte
a lavoura se perdeu
até o próprio capim
faltou chuva e não cresceu
Então entrou vinte e cinco
o mesmo verão trincado
morreu muita vaca de fome
quase não escapa gado
escapou alguma rês
lá num ou outro cercado
A vaca misteriosa
não houve mais quem a visse
o dono não se importava
qu'ela também se sumisse
aodia até pegar fogo
que na fumaça subisse
A, vinte quatro de agôsto
data essa receosa
que é quando o diabo poda
soltar-se e dar uma prosa
pois foi nesse dia o parto
da vaca misteriosa
Dela nasceu um bezerro
um pouco grande e nutrido
preto da côr de carvão
o pêlo muito luzido
representando já ter
um mês ou dois de nascido
�Um vaqueiro da fazenda
assistiu êle nascer
foi à noite à casa grande
ao coronel lhe dizer
o coronel disse: então
se nasceu, deixe crescer
Em março de 25
o inverno estava pegado
o coronel Sezinando
mandou juntar todo gado
que êle queria saber
quantas reses tinham escapado
Então a misteriosa
pôde vir justo com o gado
trazia o dito bezerro
grande e muito bem criado
o que era de vaqueiro
vinha tudo admirado
Um índio velho vaqueiro
da fazenda do Destêrro
disse ao coronel: me falte
a terra no meu entêrro
quando aquela vaca velha
fôr mãe daquele bezerro
Ali mesmo o coronel
tomando nota do gado
tirou as vacas paridas
das que tinham escapada
só não a misteriosa
devido ficar cismado
�8(T)
Com ano e meio êle tinha
mais de 6 palmos de altura
uns chifres grandes e finos
com um palmo de grossura
o casco dêle fazia
barroca na terra dura
Sumiu-se o dito bezerro
e a vaca misteriosa
depois de 5 ou 6 anos
na fazenda Venturosa
viram êle com a marca
da fazenda Santa Rosa
«O vaqueiro conheceu
o boi ser do seu patrão
viu que devia pegá-lo
qu'era sua obrigação
ajuntou ambas as rédeas
esporeou o alazão
Partiu em cima do boi
andou perto de pegá-lo
com dezoito ou vinte passos
talvez pudesse alcançá-lo
era sem limite o gosto
que tinha de derribá-lo
Mas o boi se fêz no casco
e no campo se estendeu
gritou-lhe o vaqueiro: boi
tu não sabes quem sou eu
boi que lhe boto o cavalo
é carne que apodreceu
�Com menos de meia légua
estava o vaqueiro perdido
não soube em que instante
o tal boi tinha sumido
estava o cavalo suado
e já muito esbaforido
Voltou então o vaqueiro
sem saber o que fizesse
pensando em chegar em casa
então que história dissesse
se pegando com os santos
que o coronel não soubesse
Contou aos outros vaqueiros
o que se tinha passado
dizendo que aquêle boi
só sendo um bicho encantado
se havia mágica em boi
aquêle era batizado
No outro dia saíram
seis vaqueiros destemidos
em seis cavalos soberbos
dos melhores conhecidos
pois só de cinco fazendas
puderam ser escolhidos
Foi Noberto, da Palmeira
Ismael, do Riachão
Calixto, do Pé da Serra
Félix, da Demarcação
Benvenuto, do Destêrro
Zé Preto, do Boqueirão
�Tinha já ido dizer
na fazenda Santa Rosa
que o vaqueiro Apolinário
da fazenda Venturosa
tinha encontrado com o boi
da vaca misteriosa
O coronel duvidou
quando contaram-lhe o fato
disse a pessoa: os vaqueiros
já seguiram para o mato;
o coronel foi atrás
saber se aquilo era exato
Disse então Apolinário
que andava campeando
viu um boi preto muito grande
e dele se aproximando
viu do lado esquerdo o ferro
do coronel Sezinando
—Pois bem, disse o coronel
esse garrote encantado
quando desapareceu
índa não estava ferrado
foi-se orelhudo de tudo
nem sequer está assinado
—Pois tem na orelha esquerda
três mesas e um canzil
tem na orelha direita
brinco lascado a funil
o ferro de Santa Rosa
está nêle a marca buril
�Foram aonde Apolinário
à tarde tinha encontrada
pouco adiante êle estava
numa malhada deitado
levantou-se lentamente
como quem estava enfadado
Aí tratou em partir
em desmedida carreira
o coronel Sezinando
disse ao vaqueiro Moreira:
aquele não há quem p e g u e
voltemos, pois é asneira
Disse o vaqueiro Noberto:
eu não o posso pegar
porém só me desengano
quando o cavalo cansar
nunca vi boi na igreja
para padre batizar
Noberto tinha um cavalo
chamado Rosa-do-Campo
Calixto do Pé da Serra
um cbama-lo pirilampo
o de Apolinário, nice
era da raça do campo
O do vaqueiro Ismael
chamava-se perciano
o do índio Benvenuto
chamava-se Soberano
Félix tinha um poldro preto
chamava-se
riso-do-ano
�O do vaqueiro Zé Preto
tinha o nome de caxito
entre todos os cavalos
era aquêle o mais bonito
era filho dum cavalo
que trouxeram 'do Egito
Era meia-dia em ponto
quando formaram carreira
o boi fazia na frente
uma nuvem de poeira
nos riachos êle pulava
de uma a outra barreira
Zé Preto do Boqueirão
foi quem mais se aproximou
quase que lhe pega a cauda
porém não o derrubou
ficouu tão contrariado
que depois disso, chorou
Dizia que nunca viu
boi de tanta ligeireza
como no cavalo dêle
nunca viu tanta destreza
e disse que um boi daquele
para o sertão é grandeza
Perguntou o coronel:
o boi será encantado?
—Não senhor; disse Zé Preta
isto de encanto é ditado
é boi COMO outro qualquer
SÓ tem que foi bem criado
�Eram seis horas da tarde
já estava tudo suado
não havia um dos cavalos
que não estivesse molhado
porém mais de 5 léguas
dum fôlego tinham tirado
O coronel Sezinando
disse: vamos descansar
vaqueiro dagora em diante
tem muito em que se ocupar
eu só descanso a meu gôsto
quando êsse boi se pegar
Disse o índio Benvenuto:
coronel, se desengane
êsse boi não é pegado
nem que o diabo se dane
cavalo não chega a êle
inda que por mais se engano
—Tenho sessenta e dois anos
em cálculo não tenho êrro
e disse que me faltasse
terra para o meu entêrro
quando aquela vaca fosse
a mãe daquele bezerro
Disse o coronel: você
é um caboclo cismado
não deixa de acreditar
nisso de boi batizado
e mesmo aquele não é
o bezerro encantado
�—Não é? Ora não é!
veremos se é êle ou não
vossa senhoria ajunte
os vaqueiros do sertão
do Rio Prata ao Pará
depois me diga então
Disse o coronel: caboclo
Zé Preto não pegou êle?
—Ora... pegou, coronel
mas não sabe o que há nele
dou a vida se tiver um
que traga um cabelo dêle
—Eu digo de consciència
senhor coronel Sezinando
o boi é misterioso
para que está lhe enganando?
o boi é filho dum gênio
uma fada está criando
—A mãe dágua do Egito
foi quem lhe deu de mamar
a fada da Borborema
tomou-o para criar
na Serra do Araripe
foi êle se batizar
O coronel Sezinando
disse: eu não acredito
na fada da Borborema
e na mãe dágua do Egito
gênio e fada para mim
é um dito esquisito
�Quarenta e cinco vaqueiros
saíram para pegá-lo
dizia o índio: só hoje
vocês podiam encontrá-lo
no dia de sexta-feira
duvido de quem achá-lo
E de fato, nesse dia
nem o rastro dêle viram
voltaram para a fazenda
ao outro dia partiram
às nove horas do dia
no rastro dêle seguiram
Na garganta duma serra
-acharam êle deitado
na sombra duma aroeira
estava ali descuidado
pulou instantaneamente
na rapidez dum veado
O boi entrou na caatinga
que não procurava jeito
mororó, jurema branca
êle levava de eito
colava pedra nos cascos
leva angico no peito
Disse Fernando de Lima
um dos vaqueiros paulistas:
em todos êstes cavalos
não há um mais que resista
dirmiremos aqui; não convém
ninguém perdê-lo de vista
�Dormiram todos ali
naquele campo tão vasto
pearam a cavalgadura
deixaram ganhar o pasto
às seis horas da manhã
seguiram logo no rasto
O cavalo soberano
ao ver o rasto do boi
gemeu e pulou pra traz
e o índio gritou: o i ! . .
deixou os outros vaqueiros
correu para traz, se foi
Disse o índio Benvenuto:
eu não posso campear
o cavalo está doente
é preciso descansar .
faz muitos dias que corre
e eu preciso voltar
Então disse o coronel:
existe aqui um mistério
antes de haver êsse boi
você não era tão sério?
você faz do boi uma alma
e do campo cemitério!
Benvenuto respondeu:
dê licença, vou embora
querendo me dispensar
pode me dizer agora
vá quem quiser, eu não vou
não posso mais ter demora
�r i6)
Andaram duzentos metros
logo adiante foram vendo
um vaqueiro d'sse: oihem
o boi ali se lambendo!
íambém nüío teve 1 vaqueiro
que não partisse correndo
O capim tinha uma régua
sem ter nêle um pé de mata
o boi corria tanto
que só veado ou um gato
<então fazia uma sombra
pouco maior que a dum rato
Disse o Lopes do Exu:
juro à fé de cavaleiro
»não sairei mais de casa
a chamado de fazendeiro
vendo o cavalo e a sela
e deixo de ser vaqueiro
Às cinco horas da tarde
«e resolveram a voltar
antão os cavalos todos
ião podiam mais andar
os vaqueiros não podiam
tanta fome suportar
Voltaram para a fazenda
e tornaram a contratar
a 21 de novembro
<;ada um ali chegar
o coronel Sezinando
.mandaria os avisar
�[17]
O coronel Sezinando
homem muito caprichoso
tirou 3 contos de réis
disse: para o venturoso
que venha a esta fazenda
e pegue o misterioso
A 21 de novembro
venceu o prazo afinal
a fazenda Santa Rosa
estava como um arraial
ou uma povoação
numa noite de Natal
Já um criado chamava
o povo para o almoço
quando viram longe 1 vulto
divulgaram ser um moço
então vinha num cavalo
que parecia um colosso
Era um cavalo caxito
tinha uma estrela na testa
vaquejada que êle ia
ali tornava-se em festa
ganhou numa apartação
nome de rei da floresta
Chegou então o vaqueiro
saudou a todos dali
perguntou: qual dos senhores
é o coronel aqui?
apontaram o coronel
disseram: é aquêle ali
�O coronel perguntou-lhe:
de que parte, cavaleiro?
—Eu sou de Minas Gerais
disse o rapaz—Sou vaqueiro
vim porque soube que aqui
existe um boi mandingueiro
Disse o coronel: existe
êsse boi misterioso
tem-se corrido atrás dêle
êle sai vitorioso
já tem saído daqui
vaqueiro até desgostoso
—Queria vê êsse boi
disse sorrindo o vaqueiro
tenho vinte e quatro anos
nunca vi boi feiticeiro;
disse o coronel: pegando
ganha avultado dinheiro
—Quem pegá lo em pleno campo
(disse ai o coronel)
ganhará pago por mim
um relógio e um anel
tem mais 3 contos de réis
em jóia, prata e papel
—Salvo se alguém pegar
quando êle estiver doente
ou lha atirar de longo
isso é cousa diferente
há de pegar pelo pé
êle bom perfeitamente
�Disse o moço: não aceito
objeto nem dinheiro
eu só desejo ganhar
a vitória dum vaqueiro
este seu menor criado
é filho dum fazendeiro
Descansaram o dia de sábado®
domingo, segunda o têrça
disse o coronel: à tarde
quem fôr vaqueiro apareça
cairemos quarta-feira
antes que o dia amanheça
Na quarta-feira seguiu
como tinha contratado
o povo que o coronel
à tarde tinha avisado
eram dez horas do dia
inda acharam o boi deitado
Disse o vaqueiro de Minas:
perdi de tudo a viagem
eu pegando um boi daquele
não digo por pabulagem
para o cavalo que venho
inda dez não é vantagem
—Pensei que fôsse maior
segundo o que ouvi falar
parece até um garrote
que criou-se sem mamar
um bicho manso daquele
faz pena até derrubar!
�Porém o cavalo aí
viu o boi se levantar
estremeceu e bufou
afastou-se e quis recuar
que deu lugar ao vaqueiro
daquilo desconfiar
Aí chegou-lhe as esporas
e o cavalo partiu
em menos de dez minutos
o boi também se sumiu
deu uns 3 ou 4 pulos
ali ninguém mais os viu
O boi entrou na caatinga
e o vaqueiro também
por dentro-do cipoal
que não passava ninguém
tanto que o coronel disse:
socorro ali ninguém tem!
Eram seis horas da tarde
estava o grupo reunido
sem saberem do vaqueiro
que atrás do boi tinha ido
via-se a batida apenas
por onde tinha seguido
Um dizia: êle morreu
outros, que tinha caído
outros dizia: o vaqueiro
arrisca-se a ter fugido
não pôde pegar o boi
voltou de lá escondido
�Acenderam o facho e foram
por onde tinham entrado
acharam sempre o roteiro
por onde tinham passado
o coronel Sezinando
já ia desenganado
Passava de meia-noite
gritaram, êle respondeu
o coronel acalmou-se
e disse: êle não morreu;
porém o grito era longe
que quase não se entendeu
Três horas da madrugada
foi que puderam o achar
mas o cavalo caído
sem poder se levantar
e êle contrariado
sem poder quase falar
O coronel perguntou-lhe
o que tinha sucedido
respondeu que tal desgraça
nunca tinha acontecido
dizendo: antes caísse
e da queda ter morrido
—O cavaloem que eu vim
ninguém nunca o viu cansado
correu um dia seis léguas
inda não chegou suado
e da carreira de hoje
ficou inutilizado
�—Não volto à Minas Gerais
porque chego com vergonha
os vaqueiros de lá esperam
uma notícia risonha
eu chegando lá com essa
dão-me uma vaia medonha
—Menos de 50 passos
inda me aproximei dêle
ainda estirei a mão
mas não pude tocar nêle
apenas eu posso dizer
não sei que boi é aquêle
—Nunca vi bicho correr
com tanta velocidade
só lampejo de relâmpago
em noite de tempestade
nem peixe nágua se move
com tanta facilidade!
—Ele é um boi muito grande
tem o corpo demasiado
não sei como corre tanto
dentro do mato fechado
por isso é que muitos pensam
que é um boi encantado
O coronel aí disse:
acho bom tudo voltar
disse o vaqueiro de Minas:
não preciso descansar
vejam se dão-me um cavalo
que vou me desenganar
�O coronel Sezinando
chamou Mamede Veloso
e lhe disse: Mamede vá
à fazenda do Mimoso
diga ao vaqueiro que mande
o cavalo perigoso
—Diga que mate uma vaca
mande queijo e rapadura
e vá esperar por nós
na fazenda da Bravura
diga que somos sessenta,
leve jantar com fartura
O vaqueiro cumpriu tudo
que seu amo lhe ordenou
deu o cavalo a Mamede
puxou a vaca e matou
as onze horas do dia
então Mamede chegou
Trouxe um cavalo cardão
com espécie de rudado
disse o vaqueiro de Minas
oh! bicho do meu agrado!
lhe disseram o nome dele;
- F o i muito bem empregado
O vaqueiro levantou-se
com o guarda-peito no ombro
se aproximou do cavalo
passou-lhe a mão pelo lombo
o cavalo deu-lhe um sôpro
que quase oausa-lhe assombro
�Então o vaqueiro disse:
eu vou experimentar
se o cavalo perigoso
presta para campear;
disse então o coronel:
cuidado quando montar
—Veja qu'êle já matou
com queda 4 vaqueiros
os que causaram mais pena
foram dois piauizeiros;
então respondeu o Sérgio:
não eram bons cavaleiros
Quando o vaqueiro montou
o cavalo se encolheu
êle chegou-lhe as esporas
o sangue logo desceu
quase três metros de altura
êle da terra se ergueu
Mas o vaqueiro era destro
-ali não desaprumou
ohegou-lhe ainda as esporas
êle de nôvo pulou
êsse pulo foi tão grande
que tudo se admirou
Fêz uma curva no corpo
tirou pelos quartos a sela
o vaqueiro era um herói
�saltou aprumado nela
disse: hoje achei um testo
que deu na minha panela
Saltou, mas não afrouxando
ambas as rédeas do cavalo
sabia que se soltasse
ninguém podia pegá-lo
dizendo: o cavalo serve
vou logo experimentá-lo
Selou de nôvo o cavalo
e tornou a se montar
tanto que o coronel disse:
êste sabe cavalgar;
o cavalo conheceu
ali não quis mais pular
Passava do meio-dia
quando os vaqueiros saíram
acharam o rastro do boi
todos os vaqueiros seguiram
adiante encontraram êle
no limpo que todos viram
Sérgio o vaqueiro de Minas
foi o primeiro que viu
perguntou: será aquêle
que lá no mato saiu?
todos disseram: é aquêle!...
então o Sérgio partiu
�Deu de esporas no perigoso
e nada mais quis dizer
o boi olhou para o povo
também tratou de correr
o mato abriu e fechou
ninguém mais os pôde vê
Então quando o boi correu
procurou logo a montanha
todos disseram: hoje o boi
talvez não conte façanha
o cavalo perigoso
agora fica sem manha
Com meia légua se ouvia
galho de pau estalar
a atropelada do boi
pedras nos montes rolar
se ouvia perfeitamente
o perigoso bufar
Entraram o vaqueiro e o boi
nomatomais esquisito
de quando em vez o vaqueiro
por sinal soltava um grito
tanto que o coronel disse:
já vi campear bonito!
O boi subiu a montanha
sem escolher por onde ia
e
o vaqueiro já perto
�27J
de vista não o perdia
o cavalo perigoso
com mais desejo corria
Descambaram a Serra Verde
o boi entrou num baixio
depois subiu à campina
entrou na ilha dum rio
em lugar que outro vaqueiro
em olhar sentia frio
Porém o vaqueiro disse;
aonde entrares eu entro
se tu entrares no mar
viro-me peixe, vou dentro
alguém que for procurar-me
acha-me morto no centro
O boi com facilidade
o trancadilho rompeu
quase
no centro do
o vaqueiro conheceu
o cavalo perigoso
da carreira adoeceu
—Diabo! disse o vaqueiro
está doente o perigoso!
ah! boi do diabo!... enfim
te chamas misterioso
eu puxei a meu avó
que morreu por ser teimoso?
vão
�(28]
Voltou para o campa limpo
o cavalo tão suado
com um talho no pescoço
um casco quase furado
duma forma que o vaqueiro
não pôde voltar montado
Às oito horas da noite
vieram os outros chegar
a estrada que o boi fêz
deu para todos passar
cinqüenta e nove cavalos
sem nem um se embaraçar
—Colega, quedê o boi?
perguntou o Sezinando
O Sérgio se levantou
e respondeu espumando:
coronel, eu já pensei
que só me suicidando?
-Suicidar-se!... porquê?
o Sérgio então respondeu:
o coronel não está vendo
o que já me sucedeu?
matei meu cavalo aqui
e inutilizei o seu
Disse o coronel: faz pena
Perigoso se acabar
porém é nosso, paguei-o
�Ninguém vem mais o cobrar
e dou vinte pelo seu
se dois ou três não pagar
Eram sessenta cavalos
uns de diversos sertões
e todos êsses não iam
a todas repartições
em vaquejadas garbosas
mostraram lindas ações
Havia um cavalo ruço
chamado paraibano
carioca, riograndense
paturi e pernambucano
vitoriano e paulista
flor-do-prado e sergipano
Pombo-roxo e papagaio
flor-do-campo e catingueiro
socó-boi e canário-verde
pantola e piauizeiro
águia-branca e bentivi
flecha-peixe e candeeiro
E outros que aqui não posso
seus nomes mencionar
era também impossível
quem me contou se lembrar
é melhor negar o nome
do que depois se enganar
�Não havia um dêsses todos
que não fôsse conhecido
em diversas vaquejadas
já não tivesse corrido
até seus donos já tinham
medalhas adquirido
Voltaram para a Bravura
onde a gente era esperada
ainda estava esperando
o povo da vaquejada
porém não houve 1 vaqueiro
que se servisse de nada
Assim que deu meia-noite
foram para Santa Rosa
a mulher do coronel
os esperava ansiosa
sabia que a vaquejada
era muito perigosa
Quando foi no outro dia
antes de terem almoçado
disse Sérgio: coronel
eu estou dando cuidado
me arrume qualquer cavalo
ou vendido ou emprestado
O coronel mandou ver
um cavalo e lhe ofereceu
foi ver um conto de réis
�em ouro e prata e lhe deu
êle pedindo licença
não quis, lhe agradeceu
—Eu vim atrás desse boi
não devido ao dinheiro
eu vim porque tenho gosto
nesta vida de vaqueiro;
mostrarei se eu não morrer
quanto vale um cavaleiro
O coronel disse a êle:
eu fico penalizado
não digo que se demore
porque seu pai tem cuidado
veja se volta em janeiro
que me acha preparado
Então o Sérgio saiu
não pôde mais demorar
o coronel Sezinando
não mais deixou de pensar
porque forma aquêle boi
ninguém podia pegar
Chamou um escravo e disso:
monte num cavalo e vá
à fazenda do Destêrro
diga ao vaqueiro de lá
que mando dizer a êle
que sem falta venha cá
�O escravo cumpriu todo
o dever de portador
achou a casa fechada
perguntou a um morador
se sabia do vaqueiro
êsse disse: não senhor
Então o morador disse:
na noite de sexta-feira
o índio foi ao curral
deixou aberta a porteira
saiu montado a cavalo
e levou a companheira
Voltou o escravo e disse
tudo que tinba sabido
que na sexta-feira à noite
o índio tinha saído
e carregou a mulher
como quem sai escondido
—Ainda mais essa agora!
o coronel exclamou
aquele bruto saiu
e nem me comunicou
que diabo teve êle
que até o gado soltou?
No outro dia foi lá
achou a porta fechada
então a porta da frente
�Boi Misterioso
—33—
tinha ficado ceifada
até a mala de roupa
inda estava destrancada
O fazendeiro com isso
ficou muito constrangido
pensava logo em um crime
que pudesse ter havido
o índio não tinha causa
porque saísse escondido
Então mandou gente atrás
pelo mundo a procurar
não achou uma pessoa
que dissesse: eu vi passar;
em todo sertão que havia
ele mandou indagar
Então o povo dizia
que o índio era feiticeiro
e uma fada pediu-lhe
que não fòsse mais vaqueiro
a fada transformou êle
em um veado galheiro
Os faladores diziam
qu'êle foi assassinado
e talvez o coronel
tivesse mesmo mandado
matar êle e a mulher
para ficar com o gado
�Outros diziam ao contrário
até julgavam que não
os 2 cavalos do índio
aonde botaram eatão
mesmo assim o coronel
não fazia aquela ação
Bom encostadinho ao índio
uma velha fiandeira
morava numa casinha
e fiava a noite inteira
disse que quase se assombra
ali numa sexta-feira
Disse: meia-noite em ponto
eu ainda estava fiando
em casa de Benvenuto
eu ouvi gente faiando
espiei por um buraco
vi chegar um boi urrando
A velha disse: Deus mande
a cascavel me morder
se de lá de miaha casa
não ouvi o boi dizer:
boa-noite, Benvenuto
eu só vim aqui te ver
—O boi disse outras palavras
que eu não pude ouvir
o caboclo e a mulher
�disso ficaram a sorrir
o boi, o índio e a mulher
tudo junto eu vi sair
—Aí fui guardar o fuso
a cêsta e o algodão
—Credo em cruz! dizia eu
aquilo é arte do cão
são coisas do fim do mundo
bem diz Frei Sebastião!
O coronel a princípio
Inda não acreditou
porém depois refletiu
uma ação que o índio obrou
quando rastejava o boi
o índio não foi, voltou
Então dêsse dia em diante
ninguém ali mais o viu
não houve mais quem soubesse
aonde êle se sumiu
foi igualmente a fumaça
que pelos ares subiu
Como o índio e a mulher
tudo desapareceu
tanto que diziam muitos
que o diabo os escondeu
durante dezesseis anos
novas dêle ninguém deu
�Sérgio, vaqueiro de Minas
todos os meses escrevia
perguntando ao coronel
se o boi inda existia
dizendo: quando quiser
escreva marcando o dia
Faziam dezesseis anos
que o boi estava sumido
até por muitas pessoas
êle já era esquecido
quase todos já pensavam
que êle tivesse morrido
Ó coronel Sezinando
tinha como devoção
festejar todos os anos
a imagem de S. João
todo ano era uma festa
não havia excepção
Uma noite de S. João
na fazenda Santa Rosa
só a noite de Natal
estaria tão formosa
porque em todo sertão
é aquela a mais garbosa
Três classes ali dançavam
em redobrada alegria
no salão da casa grande
�os lordes da freguezia
em latadas de capim
a classe pobre que havia
O leitor deve lembrar-se
do estilo do sertão
o que não fizer fogueira
nas noites de S. João
fica odiado do povo
tem fama de mau cristão
O coronel Sezinando
derrubou uma aroeira
e vinte e oito pessoas
carregaram essa madeira
para o pátio da fazenda
e fizeram uma fogueira
Estava a noite vinte o três
do mês do Santo Batista
como outra no sertão
nunca tinha sido vista
só faltava ali a música
discursos e fogos de vista
Estão o povo dali
uns dançando outros bebendo
um prazer demasiado
em tudo estava se vendo
mais de 50 pessoas
a s s a n d o milho e comendo
�Meia-noite irais ou menos
pôde o povo calcular
o galo pai do terreiro
estava perto de cantar
quando viram um touro preto
no pátio se apresentar
Meteu os cascos na terra
cobriu tudo de poeira
e deu um urro tão grande
que reboou na ribeira
deixou em cima da casa
tôda brasa da fogueira
Dos cachorros da fazenda
nem um sequer acudiu
o gado urrava de mêdo
parte do povo fugiu
o coronel Sezinando
foi o único que saiu
Ainda viu o vulto dêle
que pelo pátio ia andando
chamou os cachorros todos
êsses fugiram uivando
o povo todo em silêncio
já muitos se retirando
Então acabou-se a festa
o povo se debandou
os moradores de perto
�lá um ou outro ficou
aquêle salão garboso
em escuro se tornou
No outro dia às dez hôras
o coronel Sezinando
estava com a esposa
no alpendre conversando
quando o índio Benvenuto
chegou e foi se apeando
O coronel exclamou:
índio velho desgraçado
você saiu escondido
me dando tanto cuidado
por sua causa até hoje
eu vivo contrariado!
Então perguntou o índio
pegaram o misterioso
que atrás dêle morreu
o cavalo perigoso?
respondeu o coronel:
sumiu-se aquêle tinhoso
Então disse o coronel;
você hoje há de dizer
aquêle boi o que é
que só você pode saber
se fizer êste favor
tenho que lhe agradecer
�—De nada sei, coronel
o índio lhe respondeu
—Sabe, disse o coronel
e contou o que se deu
disse: quando você sumiu-se
êle desapareceu
—Eu andava viajando
disse o índio Benvenuto
respondeu-lho o coronel:
ora, você é muito bruto
que motivo foi que houve
que você saiu oculto?
—No motivo há um segredo
que não posso revelar
é o boi misterioso
voltou ao mesmo lugar
anda aí pùblicamente
quem quizer pode pegar
—Eu atrás dêle não vou
«Só lhe trago no engano
pois não quero desgostar
meu cavalo soberano
por eu ir lá uma vez
tive castigo de um ano
Zé Preto do Boqueirão
naquela hora chegou
perguntou ao coronel:
�o que foi que se passou?
respondeu o coronel:
o diabo se soltou!
Disse Zé Preto: eu também
venho aqui tão receoso
o coronel me conhece
não sou homem mentiroso
inda agora quando eu vim
vi o boi misterioso
—Na fazenda do Balão
passei, vi êle deitado
foi o boi que veio aqui
eu fiquei desconfiado
porque vi um chifre dele
e parece estar queimado
Sérgio, o vaqueiro de Minas
nesse momento chegou
disse: senhor coronel
às suas ordens estou
pois recebi o recado
que o coronel me mandou
Disse o Sérgio: eu recebi
do coronel um recado
que ao dia vinte e sete
estava o povo contratado
pois o boi misterioso
J á tinha sido encontrado
�Então disse o coronel:
que o recado não mandou
ali contou a miúdo
a cena que se passou
e disse: Zé Preto agora
me disse que o encontrou
Nisso chegou um vaqueiro
um caboclo curiboca
o nariz grosso e roliço
em forma duma taboca
em cada lado do rosto
tinha uma grande papoca
—Bom-dia, senhor coronel
disse o tai recém-chegado
—Tenho o mesmo, cavalheiro
respondeu desconfiado
dizendo dentro de si:
de onde é êste danado?
O coronel perguntou:
de onde é, cavalheiro?
—Do sertão de Mato Grosso;
respondeu o tal vaqueiro
—A que negócio é que vem?
perguntou o fazendeiro
—Venho à vossa senhoria
a mando do meu patrão
ver um boi misterioso
�queexiste aqui no sertão
o coronel quer que pegue
me dê autorização
—Meu patrão é bom vaqueiro
(lhe disse o desconhecido)
soube que nessa fazenda
um boi tinha se sumido
mandou-me ver se êsse boi
já havia aparecido
—E se o coronel quisesse
qu'eu fosse ao mato pegá-lo
eu garanto ao coronel
vendo, hei de derrubá-lo
o patrão por segurança
mandou-me neste cavalo
—Êste cavalo não sai
daqui desmoralizado
neste só monta o patrão
ou eu quando sou mandado
é um poldro, está mudando
porém é condecorado
O cavalo era mais preto
tio que uma noite escura
até os outros cavalos
temiam a sua figura
o corpo muito franzino
com 8 palmos de altura
�(44 )
Tinha os olhos côr de brasa
os cascos como formão
marcado com 7 rodas
das juntas do pé à mão
e tinha do lado esquerdo
sete sinos salomão
—Pois bem, disse o coronel
amanhã temos que ir
mande avisar aos vaqueiras
creio que tudo há de vir
às seis horas da manhã
nós havemos de sair
Cinqüenta e nove vaqueiros
às oito horas chegaram
todos tiraram as selas
e seus cavalos pearam
cearam, armaram as redes
no alpendre se deitaram
Mas o caboclo não quis
pear o cavalo dêle
não quis cear e passou
a noite encostado a êle
dizendo que não peava
não confiava-se nêle
De manhã todos seguiram
o caboclo foi na frente
o coronel notou logo
�nêle um tipo diferente
e disse: se houver diabo
aquêle é um certamente
Foram aonde Zé Preto
na véspera tinha o deixado
naquele mesmo lugar
inda estava êle deitado
levantou-se espreguiçando
e não ficou assustado
Depois de se levantar
cavou o chão e urrou
o urro foi tão esquisito
que tudo ali se assustou
o cavalo do caboclo
cheirou o chão e rinchou
Tratou o boi de correr
e subiu logo um oiteiro
lugar que era impossível
subir nêle um cavaleiro
de cinqüenta e nove homens
só foi lá e tal vaqueiro
Então o caboclo disse:
pode correr, camarada
veremos quem tem mais fôrça
se é meu patrão ou a fadá
eu não chego a meu patrãfr
contando história furada
�—Você bem vê o cavalo
que eu venho montado nêle
e conhece o meu patrão
sabe que o cavalo é dele;
o boi aí se virou
e olhou bem para êle
Aí desceu do outeiro
em desmedida carreira
deixando por onde ia
uma nuvem de poeira
o curiboca gritou-lhe:
não corra que é asneira!
Então seguiram no campo
onde tudo se avistava
o cavalo do caboclo
fogo da venta deitava
dava sôpro nas campinas
que tudo ali assombrava
O coronel disse a todos:
devemos seguir atrás
está decidido que ali
anda a mão de satanás
convém agora é ir vermos
que resultado isso traz
Bem no centro da campina
havia uma velha estrada
feita por gado dali
�porém estava apagada
depois com outra vereda
fazia uma encruzilhada
Iam o vaqueiro e o boi
pela dita cruz passar
ali enguiçava a cruz
ou tinha então que voltar
devido os outros vaqueiros
não havia outro lugar
Mas o boi chegando perto
não quis enguiçar a cruz
tudo desapareceu
ficou um foco de luz
e depois dela saíram
uma águia e dois urubus
Tudo ali observou
o fato como se deu
viu-se que o chão se abriu
e o campo estremeceu
pela abertura da terra
viram, quando o boi desceu
Voltaram todos os homens
o coronel constrangido
o boi e o tal vaqueiro
terem desaparecido
a terra abriu-se e fechou-se
pôs feudo surpreendido
�Julgam que a águia era o boi
que quando na terra entrou
ali havia uma fada
em uma águia o virou
o vaqueiro e o cavalo
em 2 corvos os transformou
O coronel Sezinando
ficou tão contrariado
que vendeu tôda fazenda
e nunca mais criou gado
houve vaqueiros daqueles
que um mês ficou assombrada
Lá inda hoje se vê
Em noites de trovoadas
A vaca misteriosa
Naquelas duas estradas
Das mulheres falando
Rangindo dentes, chorando
Oude as cenas foram dadas
— FIM
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Ésaa Santa Luzia, 263-269
luâzefro do ?lorte-Ceará
REVENDEDORES:
João José da Silva
Travessa de S- José N. 87 -- Reeife-Pe.
Benedito Antonlo.de Maios
Ca£é S. Miguel, dentro do Mercado CeaíraL
Pôííaleza-Cearâ
Lírio Ferreira Neto
Msrcftdo Público N. 19 - Bacabal
Ma.
Antônio Alves da Silva
Rua Clodoaldo Freitas, 767 -- Terezina-Fi
AT
L N
ÇÃOi
Se o amigo deseja o seu Horóscopo
Completo;
mande a aata do seu nascimento,
acnmpaahada de Cr 2.000,00 com urgência
enviaremos
o
'..•éüãtiGiiia com tôda orientação
'. d Jíip:'São
Francisco,
Rua Santa Luzia, 263
jHàaeiro do Narte — Ce.
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
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2651
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Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
imprimerie
champ important pour indiquer les typographies
Tipografia São Francisco de José Bernardo da Silva
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Lieu d'édition
Juazeiro do Norte - CE - Brasil
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Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Desenho
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Illustrateur de la couverture
Avelino
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acrostiche
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The nature or genre of the resource
Folheto
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História do boi misterioso
Creator
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48
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português
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Silva, José Bernardo da (Ed. prop.)
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Silva, José Bernardo da (Ed. prop.)
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Nome do autor advinhado a partir do acróstico.
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Text
LEANDRO
GOMES
DE
BARROS
H I S T O R I A DA
DONZELA TEODORA
PREÇO:
..
..
..
2$i000
��LEANDRO G. DE BARROS
HISTORIA DA
D Teodora l a
onze
Eis a real descrição
Da historia da donzela
Dos sabios que ela venceu
E apostas ganhas por ela
Tirado tudo direito
Da historia grande
Houve no reino de Tuniz
Um grande negociante
Era natural da Hungria
E negociava ambulante
A quem podia chamar-se
Uma alma pura e constante
Andando ura dia na praça
M'uma praça poude ver
Uma donzela cristã
Ali para ge vendar,
O mercador viu aquilo
Não poude maisseconter
�Tinha feições do fidalga.
Era uma hespanhola bela
Ele perguntou ao mouro
Quanto queria por ela
Entraram então em negocio
Negociaram a donzela
O húngaro conheceu nela
Formato de fidalguia
Mandou educal-a bem
Na melhor casa que havia
Em pouco tempo ela soube
O que ninguem mais sabia
Mandou encinar primeiro
Musica e philosopbia
Ela sem mestre aprendeu
Metaphysica e astrologia
Descrevercomdestinção
Historia e anatomia
Ela que já era um ente
Nascido por excelencia
Como que tivesse vindo
Das entranhas da ciência
Tinha por pai o saber
E por mãe a inteligencia
Em pouco tempo ela tinha
Tão grande adiantamento
Que só Salomão teria
�Um igual conhecimento,
Cantava musica e tocava
Qualquer um instrumento
Estudou e conhecia
As sete artes liberais
Conhecia a natureza
De todos os vegetais
Descrevia muito bens
A carta dos animais
Descrevia os doze signos
De que é composto o ano
Da cabeça até os pés
Conhecia o corpo humano
E dava definição
De tudo do oceano
Admirou todo mundo
O saber desta donzela,
Tudo que era ciência
Podia se encontrar nela
O professor que encinou-a
Depois aprendeu com ela
Mas como tudo no mundo
E' mudável e inconstante
Esse rico mercador
Negociava ambulante
E toda sua fortuna
Perdeu no mar num instante
�Atraz do bem vem o mal
Atraz da honra a torpeza
Quando ele saiu de casa
Levava grande riqueza
Voltou trazendo somente
Uma extremosa pobreza
Só via em torno de si
O vil manto da mazela
Em casa só lhe restava
A mulher e a donzela
Então chamou Teodora
Pediu o parecer dela
Disse ele: minha filha
Bem vez minha natureza
E sabes que o oceano
Sepultou minha riqueza
Espero que teus conselhos
Ma tirem desta pobreza
Ela quando ouviu aquilo
Sentiu no peito uma dor
E lhe disse: tenha fé
Era Deus nosso salvador
Vou estudar um remedio
Que salvará o senhor
E disse: meu senhor saia
Procura um amigo seu
E' bom ir logo na casa
�Do mouro que me vendeu
Chegue lá converse com ele
Conte o que Ibe sucedeu
O que ele oferecer-lhe
De muito bom grado aceito
E veja se ele lhe vende
Vestidos que me endireite
Compre a ele todas as joias
Que uma donzela se enfeite
Seo mouro vender-lhe tudo
Com que possa me compor
Vossa mercê vai daqui
Vender-me a rei Almançor
E' esse o único meio
Que salvará o senhor
El-rei ibe perguntará
Por quanto vai me vendar
Por dez mil dobras de ouro
Meu senhor ha de dizer
Quando ele se admirar
Veja o que vai responder
Dizendo: alto senhor
Não fiqueis admirado!
Eu vendo-a com precisão
Não peço preço alterado.
Dobrado a esta quantia
Tenho com ela gastado
�E' esse o único meio
Para a sua salvação,
Sa o mouro vender-lhe tudo
Descanse seu coração
D'aqui para o fim da vida
Não terás mais precisão
O mercador seguiu tudo
Quanto a donzela ditava
Chegou ao mouro contou-lhe
O desespero em que estava
Então o mouro vendeu-lhe
Tudo quanto precisava
Roupas, objetos e joias
Para enfeitar a donzela
As roupas vinham que só
Sendocortadas p'ra ela,
Ela quando botou tudo
Pareceu ficar mais bela
O mercador aprontou-se
S seguiu com brevidade
Falou ao guarda da corta,
Com muita amabilidade
Para deixal-o falar
Com a real magestade
Então subiu um vassalo
Deu parte ao rei Almançor
O rei chegou á escada
�Perguntou ao mercador:
Amigo qual o negocio
Que tem comigo o senhor?
Então disse o mercador
Com muita grande humildade:
—Senhor venho a vossa alteza
Com grande necessidade
Ver se vendo esta donzela
A sua real magestada
O rei olhou a donzela
E disse dentro de si:
-Foi a mulher mais formosa
Que neste mundo já vi...
Trinta ou quarenta minutos
O rei mirou ela ali
Perguntou ao mercador:
Por quanto vende a donzela?
Por dez mil dobras d.e ouro
E' o que peço por ela;
E não estou pedindo caro
Visto a habilidade dela
Disse el-rei ao mercador:
— Senhor estou surpreendido
Dez mil dobras de bom onro
E' preço desconhecido
Ou tú não queres vendel-a
Ou estás tora do sentido
�Disse o mercador: El-rei
Não é cara esta donzela,
Dobrado a essa quantia
Gastei para ensinar a ela
Excede a todos os sábios
A sabedoria dela
O rei mandou chamar logo
Um grande sábio que havia
O instrutor da cidade
Em física e astronomia
Em matematica e retorica
Historia e filosofia
Esse veiu e perguntou-lhe:
Donzela estás preparada
Para responder-me tudo
Sem titubear em nada?
Se não estiver seja franca
Se não sae envergonhada
Então ela respondeu:
Mestre pode perguntar
Eu lhe responderei tudo
Sem coisa alguma faltar
Farei de baixo de lei
Tudo que o senhor mandar
O sábio ali preparou-se
Para entrar em discussão
Ela com muita vergonha
�Mas não teve alteração
Pediu licença a el-rei
E ficou de prontidão
- D i z - m e donzela o que Deus
Sobre o céo primeiro fez?
respondeu: o sol e a lua
A lua por sua vez
E' por uma obrigação
Cheia e nova todo mez
Alem do sol e da lua
Doze signos foram feitos
Formando a constelação
Sendo ao sol, todos sujeitos
Desiguais nas naturezas
Com diversos preconceitos
Como se chama esses signos?
Perguntou ao missario
A donzela respondeu:
- E' Capricornio e Aquário,
Tauro, Câncer, Libra Virgo
Pices, Scorpio e Sagitario
Existe outros tres signos;
Aries, Léo e Geminis,
No signo Léo quem nascer
Será um homem feliz
Inclinado a viajar
Por fora do seu paiz
�Disse-lhe o sábio: Donzela,,
E' necessario dizer
Que condições tem o homem
Que em cada signo nascer
Por influencia do signo
De que forma pode ser
Disse ela: o signo Aquário
Reina no mez de Janeiro
O homem que nascer nela
Tem crescimento vasqueiro
Será amante as mulheres
Venturoso e lizonjeiro
Pices reina em Fevereiro
Quem nesce signo nascer
E' muito gentil de corpo
Muito gulozo em comer
Risonho, gosta da viagens
Não faz o que prometer
Em Março governa Aries
Nesse signo nascerão
Homens nem ricos nem pobres
Por nada se zangarão
Neles se nota uns defeito
Falando sós andarão
Em Abril governa Tauro
Um signo bem conhecido
O homem que nascer nele
�Será muito presumido
Altivo de coração
Será rico e atrevido
Gemnis governa em Maio
Sua qualidade é quente
O homemquenascernele
Será fraco e deligente
Para os palacios e côrtes
Se inclinam constantemente
Em Junho governa Cancer
Sua qualidade é fria.
O homem qua nascer nele
E' gentil tem muita força
E sempre tem alegria
Em Julho governa Léo,
Por um Leão figurado
O homem que nascer nele
Será calvo e muito honrado
Altivo de coração
Inteligente e letrado
Em Agosto reina Virgo
T e m de terra a natureza
O homem que nascer nele
Aos principios tem riqueza
Depois se descuidará
Por isso cai na pobreza
�Em Setembro reina Libra
A Venus assinalado
O homem que nascer nele
Será um pouco inclinado
A viajar pelo mar,
E' lutador e honrado
O que nascer em Outubro
Será homem falador
Inclinado aos maus costumes?
Teimoso e namorador
Pouco licito nos negocios
Falso, grave e enganador
Então no mez de Novembro
Sgitario é o reinante.
O homem que nascer nele
Será sinico e inconstante
Desobediente aos pais
intratavel assim por diante
Em Dezembro é Capricornio
Tem natureza de terra,
O homem que nascer nele
Será inclinado a guerra
Gosta de falar sozinho
E por qualquer coisa imperra
O sábio ali levantou-se
Disse ao rei: esta donzela
Não ha sabio aqui no mundo
�Que tenha a ciencia dela
Eu confesso a vossa alteza
Que estou vencido por ela
O rei ali ordenou
Que fosse o sabio segundo
Foi um matematico e clinico
Um genio grande e facundo
Reconhecido por um
Dos sabios maior do munda
Chegou o segundo sabio
Que inda estava orelhudo
E disse: donzela eu tenho
Dezoito anos de estudo
Não sou o que tú venceste,
Conheço um pouco de tudo
A donzela respondeu:
Com a licença de el-rei
Tudo que me perguntares
Aqui te responderei
Com brevidade e acerto
Tudo vos explicarei
Perguntou o sábio ela:
-Em nosso corpo domina
Qualquer um dos doze signos
Que a donzela descremina?
Terá alguma influencia
Os signos cora a medicina?
�Então a donzela disse
=Discreto mestre direi
Sabes que os signos são doze
Como eu já expliquei
Compara com a quimica
Quer saber? Eu lhe direi
Aries domina a cabeça
Uma parte melindrosa
Para quem nascer em Março
A sangria é perigosa
A pessoa que sangrar-se
Deve ficar receiosa
Libra domina as aspaduas
Cancer domina os peitos
Para os que são-desses signo
Purgantes tem maus efeitos
E as sangrias tambem
Não serão de bons proveitos
Tauro domina o pescoçoL é o domina o coração
Capricornio influe nos olhos
Scorpio na organização
Geminis domina os braços
Influe na musculação
Virgo domina o ventre,
E Aquario nas canelas,
Para os que são dessesigno
�Purgas e sangrias são belas
Então Sagitario e Pices
Ambos tem iguaes tabelas
O sabio centro de si
Disse muito admirado:
- Onde esta tdescutir
Ninguem poder ser letrado
Esta só vindo a proposito
Do planeta adiantado
O sábio disse: Donzela
Eu quero que se poderes
Isto é: eu creio que podes
Não dirás se não quizeres
O peso, idade e conduta
Que tem todas as mulheres
Disse a donzela: A mulher
E' sempre a arca do bem
Porem, só quem a creou
Sabe o peso que ela tem
E' uma cousa ignota,
Dela não sabe ninguem
- Que me dizes das donzelas
De vinte anos de idade?
Respondeu: Sendo formosa
Parece uma divindade;
Principalmente ao homem
Que lhe tiver amizade
�As de trinta e de quarenta
Que dizes tú que elas são?
Disse a donzela: uma dessa
E' de muita consideração
As da cincoenta o que dizes
—Só presta para oração
— Que dizes das de setenta?
— Deviam está num castelo
Resando por quem morreu
Lamentando o tempo belo
— Que dizes das de oitenta?
Só prestam para cutelo
— Então classificas as velhas
Tudo de mal a peior?
E nos defeitos de tantas
Não encontra-se um mênor?
Disse ela: Deus te livre
De ser visinho da melhor
Donzela: o sábio lhe disse:
Sei que és espirituosa
Entre todas as pessoas
E's a mais estudiosa...
Diga que sinais precisam
Para a mulher ser formosa
Então a donzela disse:
— Para a mulher ser formosa
Terá dezoito sinais
�Não tendo é defeituosa
A obra por seu defeito
Deixa de ser milindrosa
Ha de ter trez partes negras
De cores bem rezulentes
Sobrancelhas olhos e cabelos
De cores negras e ardentes
T e r branco os lagrimar dos olhos
Branco a face e branco os dentes
Será comprida em trez partes
A que tiver formusura
Comprido os dedos das mãos
O pescoço e cintura.
Rosado beiços e gengivas
Labios cor de rosa pura
Terá trez patas pequenas
O nariz, a boca e pé,
Larga as cadeiras e hombros
Ninguém dirá que não è
Cujos sinais teve-os todos
Uma virgem em Nazareth
O sabio quando ouviu isso
Ficou tão surpreendido
Disse a e1-rei Almaçor:
—Confesso que estou vencido
E quem argumentar com ela
Se considere perdido
�-
18
El-rei mandou que outro sabio
Entrasse em discussão
Então escolheram um
Dos de maior instrução
A quem chamavam na Grecia
«Professor da creação
Abrahão de Trabador
Veiu argumentar com ela
E disse logo ao entrar:
Previno-te bem, donzela
Dizendo dentro de si:
Eu hoje hei de zombar dela
Então a donzela disse:
Sr. mestre, estarei disposto
De todas as suas perguntas
O senhor terá resposta
Se tem confiança em si
Vamos fazer uma aposta
Minha aposta é a seguinte:
—De nós o que for vencido
Ficará aqui na corte
Publicamente despido
Ficando completamente
Como quando foi nascido
O sabio disse que sim;
Mandaram o termo lavrar
E a donzela pediu
�í§
-
Ao rei para assinar
Para a parte que perdesse
Depois não se recusar
Lavraram o termo e foi
A's mãos do rei Almançor
Para fazer valido o trato
E ficar por fiador
Obrigando a quem perdesse
Dar a roupa ao vencedor
O sabio ali perguntou-lhe:
Qual a cousa mais aguda?
Disse a donzela: é a lingua
De uma mulher linguaruda
Que corta todos os nomes
E o corte nunca muda
— Donzela qual é a coisa
Mais doce do que o mel?
O amor d'um pai a um filho
Ou de uma esposa fiel
A ingratidão de um desses
Amarga mais do que fél
O sabio disse: donzela
Conheces os animais?
Quero que agora discreva
Alguns irracionais
Me diga qual é o bicho
Que possue pito sinais?
�Mestre, isto é gafanhoto
Viva de baixo de oiteiro
Tem pesçoço como touro
Esporas de cavaleiro
Tem olhos como marel
Um passaro do estrangeiro
Focinho como de vaca
Tem pés como de cegonha
Tem cauda como de vibora
Uma serpente medonha
Que é infeliz o vivente
Que a boca dela se ponha
Tem peitos como de cavalo
E não ofende a ninguem
Tem azas como de aguia
»
A que vôa mais alem,
São estes os oito sinaes
Que o gafanhoto tem
Perguntou o sabio a ela:
- Que homem foi que viveu
Porem nunca foi menino
Existiu mais não nasceu
A mãe dele ficou virgem
Até que o neto morreu?
— Esse homem foi Adão
Que da terra se gerou
Foi feito já homem grande
�Nãonasceu,Deus o formou
E nela se sepultou
Foi feita mais não nascida
Essa nobre creatura
A terra era a mão dele
Serviu-lhe da sepultura
Para Abel o neto dela
Fez-se a primeira sepultara
Donzela qual è a cousa
Que pode ser mais ligeira?
Respondeu: O pensamento
Que vôa de tal maneira
Que vai ao cabo do' mundo
Num segundo que se queira
'O sábio fitou-a e disse:
— Donzela diga-me agora
Qual é o prazer de um dia?
Qual é o gosto de uma hora?
D'um negocio que se ganha
D'um passeio que dá-se fora
Tornou a lhe perguntar.:
—Qual è o gosto da um mez?
Disse um homem viajando
E se bom negocio fez
E' um dos grandes prazeres
Que terá por sua vez
�- Donzela: o que é a vida?
Disse ela: um cai de torpeza
Que pode se assemelhar
A vela que está aceza
As vezes está tão formosa
E apaga-se de surpreza
- Donzela por quantas formas
Mente a pessoa afinal?
Respondeu: mente por trez
Tendo como essencial
Exaltar a quem quer bem
Por taxa em quem quer mal
- Donzela: o que é velhice?
Respondeu com brevidade:
E' a mãe da mocidade!
O que mais aborrecemos?
Respondeu: é a idade?
Donzela qual é a coisa
Que quem tem muito inda quer
Disse a donzela: é dinheiro
Que o homem ou a mulher
Não se farta de ganha-lo
Tenha a soma que tiver
Qual é a coisa que o homens
Possue e não pode ver?
Disse ela: o coração
�V e r a raiz de seus olhos
Não ha quem possa obter
— Donzela, qual foi o homem
Que por dois ventres passou?
Disse a donzela foi Jonas
Que uma baleia o tragou
Conservou dentro trez dias
Depois disso o vomitou
O sabio lhe perguntou:
Qual o homem mais de bem?
Disse a donzela é aquele
Que menos defeito tem
— Quem terá menos defeitos?
— Isso nãoosabealguem
— Donzela qual é a coisa
Que não se pode saber?
O pensamento do homem
Se ele não quiser dizer
Por mais que a mulher procure
Não poderá obter
Donzela -o que é a noite
Cheia de tantos terrores?
Disse a donzela: E descanço
T
Dos homens trabalhadores
E' capa dos assassinos
Que encobre os malfeitores
�Onde a primeira cidade
No mundo foi construída?
A cidade de Ninive
A primeira conhecida
Que depois de certos tempos
Foi pela Grecia batida
Perguntou: Qual o guerreiro
Que teve a antiguidade?
Respondeu: Foi Alexandre
Assombro da humanidade
Guerreou vinte e dois anos
E morreu na flor da idade
— Donzela, falaste bem
Do maior conquistador
Diga dos homens qual foi
O maior sentenciador?
— Pilatos, que deu sentença
A Cristo Nosso Senhor
— De todos os patriarcas
Qual seria o mais valente?
— O patriarca Jacob
Que lutou heroicamente
Com os anjos mensageiros
Do monarca onipotente
—Qual foi a primeira nau
Que foi para o estaleiro?
— Foi a arca de Noé
�A que no mar foi primeiro
Qnde escapou um casal
De tudo do mundo inteiro
O que é que corta mais
Do que a navalha afiada?
-- E' a lingua da pessoa
Depois de está irada
Corta com mais rapidez
Que qualquer lamina amolada
- Qual é o maior prazer
Com que se ocupa a historia?
Respondeu:quando ! guerreiro
No campo ganha vitoria
Sabei que não pode haver
Tanto prazer tanta gloria
O sabio disse: Donzela
Tens falado muito alem
Me diga que condições
O homem no mundo tem?
Disse a donzela: Tem todas
Para o mal e para o bem
- E' manso como a ovelha
E' feroz como o leão
Seboso como o suino,
Limpo como o pavão
E' falço como a serpente
E' toão leal como o cão
�E' fraco como o coelho
Arrogante como o galo,
Airoso como o furão
Forçoso como o cavalo
E mais te digo que o homem
Ninguem pode decifra-lo
E' calado como peixe
Fala como papagaio
E' lerdo como a preguiça
E' veloz igual ao raio
O sabio quando ouviu isso
Quase que dá-lhe um desmaio
O sabio inventou um meio
Para ver se a pegaria
Perguntou: o sol de noite
Terá luz que ate ou fria?
A donzela respondeu-lhe:
- De noite sol não havia
Com a presença do sol
E' que se conhece o dia
Se de noite houvesse sol
A noite não existia
E sem o sereno dela
Todo vivente morria.
Sem agua, sem ar, sem luz
A terra não tinha nada"
Não tinha os seres que tem
�-
U7 -
Seria deshabitada
A própria vegetação
Não podia ser creada
Os reinos do natureza
Cada um possue um genio
E' necessario o azoto
Precisa o oxigenio
Para a infusão disto tudo
O carbonico e o hidrogenio
O dia Deus o fez claro
a noite fez bem escura
Se de noite houvesse sol
Estava o homem na altura
De notar este defeito
E sensurar a natura
O sabio baixou a vista
E ouviu tudo calado
Nada teve a dizer
Porque já estava exgotado
E tinha plena certeza
Que ficava injuriado
Disse ao publico: senhores
A donzela me venceu
Não sei com qual professor
Esta mulher apredeu!
Ahi a donzela disse:
Então o mestre perdeu...
�Ele vendo que já estavam
Exgotado os seus recursos
Eioou tremulo e muito pálido
Fugindo-lhe até os pulsos
Prostou-se aos pés de el-rei
Sufocando-se em soluços
E disse: senhor confesso
A sua real magestade
Que vejo nesta donzela
A. maior capacidade
Ela merece ter prêmio
Pois tem grande habilidade
A donzela levantou-se
Foi ao soberano rei
Beijando a mâo do monarcha
Disse: Vos suplicarei
Que mand'o sabiu entregar-me
Tudo que dele ganhei
O rei ali ordenou
Que o sabio se despojasse
Todos vestidos que tinha
E a donzela entregasse
O geito que tinha ali
Era ele envergonhar-se
O sabio poz-se o despir-se
Gomo quem estava doente
Frak, colete, camisa.
�Ficando muito indecente
Pediu então p'ra ficar
Com a ceroula somente
Depois sufocada em prantos
Prostou-se aos pés da donzela:
- R e s t a - m e apenas a ceroula
Não posso me despir dela;
A donzela perguntou-lhe
~ O senhor nasceu com ela?
O trato que nós fizemos
Foi de quem fosse vencido
Perante a todos da corte
Havia de ficar despido
Como quando veio ao mundo
Na hora que foi nascido
El-rei foi o fiador
Nosso ajuste foi exato
O senhor terá que despir-se
E me dar fato por fato
Ficando com a ceroula
Não tem efeito o contrato
E não quiz dar a ceroula
O rei mandou que ele desse
Ou pagaria a donzela
O tanto que ela quizesse
Tanto que indenizasse-a
Embora que não podesse
�- Donzela quanto quereis?
Perguntou o sábio emfim
A donzela ali fitou-o
E lhe respondeu assim:
— A metade do dinheiro
Que meu senhor quer por mim
El-rei ali conhecendo
O direito da donzela
Vendo que toda razão
Só podia caber nela
Disse ao sabio: mande ver
O dinheiro e pague a ela
Cinco mi! dobras de ouro
A donzela recebeu
O sabio tambem ali
Nem mais satisfação deu;
Aquilo foi um exemplo
Que a donzela lhe vendeu
O rei depois disse a ela:
—Donzela, podes pedir
Dou-te palavra de honra
Fazer-te o que exigir
De tudo que pertencer-me
Poderás tú te servir
Ela beijando-lhe as mãos
Disse: pesso que dê-me
A quantia do dinheiro
�Que meu senhor quer vender-me
Deixando eu voltar com ele
Para assim satisfazer-me
O rei julgou que a donzela
Pedisse para ficar
Tanto que se arrependeu
De tudo lhe franquear
Mas a palavra de rei
Não pode se revogar
Mandou dar-lhe o dinheiro
Discutiu tambem com ela
Ficou ciente de tudo
Quanto podia haver nela
E disse: vinte mil dobras
Não paga esta donzela
Voltou ela e o senhor
A sua antiga morada
Por uma guarda de honra
Voltou ela acompanhada
E o senhor dela trazendo
Uma fortuna avultada
Ficaram todos os sadios
Daquilo impresaionados
Pois uma donzela escrava
Vencer trez homens letrados
Professores da ciencias
Doutores habilitados
�Abrahão de Trabador
Com todos não discutia
Já tinha vencido muitos
Em musica e philosopbia
Em historia natural
Matematica e astronomia
Ele descrevia a fundo
Os reinos da natureza
Era enhenheiro perito
De tudo tinha certeza
Descrevia o aceano
Da flor d'agua a profundeza
Tanto que quando ele entrou
Que ficou bem a donzela
Calculou dentro de
A força que havia nela
Confiado em sua força
Por isso apostou com ela
Cara leitor, escrevi
Tudo que no livro achei
Só fiz rimar a historia
Nada aqui acrescentei
Na historia grande dela
Muitas coisas consultei
�N"MM
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
__________________________
(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
3281
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
sim
type_ill_couv
Type d'illustration pour la couverture (xilogravure, dessin, photo...)
Fotografia
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
não
acrostiche
sim
Dublin Core
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Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
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História da Donzela Teodora
Creator
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Barros, Leandro Gomes de
Format
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32
Language
A language of the resource
português
Description
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Nome do autor acrescentado sobre a capa
-
https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/files/original/ad3d57f8ac1d4f429e4f770613ba403a.pdf
bc717d528761355a5a5dd14ec3821bd8
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Text
��Morte de Alonso
Vingança de Marina
HISTORIA
COMPLETA
Preço, 1 $ 0 0 0
��E A
VINGANÇA
DE M A R I N A
Alonso eMarinasão
Conhecidos do leitor
Aquella que tinhaogenio
De um leão devorador.
O título do livro della
E' A força do amor
O leitor deve ter lido
O u ter ouvido contar
O que Marina soffreu,
Para poder se casar.
De duas mortes que fez
Mesmo no pé de um altar.
Estas mortes foram feitas.
Com grande publicidade,
Perante os maiores homens
Alli d'aquella cidade,
Onde estava o presidente,
A maior auctoridade.
O pai quiz casal-a a força,
Com quem ella não queria
Ella esclarece ao pai
Tudo quanto pretendia.
Dizendo que fora de Alonso
Com outro não casaria.
�2
O barão já tinha dado,
A um sobrinho a mão d ' e l l a ;
O moço veio com um i r m ã o ,
Para casar-se com ella,
Ella matou todos dois,
Encheu de sangue a capella.
Então eram quatro i r m ã o s :
O s dois que ella matou,
A baroneza de Ajil,
Que um peixe devorou,
Braulino, que era pequeno
Dos quatro foi quem ficou.
O conde de
Montalvão,
Sabendo do occorrido,
Adoeceu de repente;
Quasi que perde o sentido.
A mulher quasi que morre,
Pelo que tinha sortido.
O barão tinha-lhe escripto,
Contando todos os passados
Mandou-lhe o punhal com que
Foram os filhos assassinados,
Dizendo o barão:—Foi eu
Quemfezelles degraçados.
Porem aquella assassina,
Um dia há de me pagar
Essa. affronta que soffri,
�D'ella hei de me vingar,
Embora saia depois.
Pelo m u n d o a mendigar.
— O conde disse á mulher:
Condessa, nossa esperança,
Firma-se toda em Braulino,
Embora seja criança,
Mas elle ainda ha de ser homem
Nós teremos a vingança.
Elle n ã o há de saber
De nada desse occorrido,
Ninguem há de lhe tratar,
O que foi acontecido,
Q u a n d o elle tiver idade
Eu lhe farei um pedido.
Estepunhal eu o guardo,
O n d e elle n ã o o possa ver,
D a q u i só posso tiral-o.
Se estiver para morrer,
S ó o tiro da bainha,
Q u a n d o elle me prometter.
Depois disso, 12 annos.
A condessa adoeceu
Atacada de u m a febre,
N ã o teve cura e morreu,
Pediu que o conde a vingasse.
O conde lhe prometteu.
�4
Uns oito annos depois,
O conde de Montavão,
Cahindo muito doente
Viu que era occasião
De chamar o filho a si
Lhe fazer declaração.
Chamou Braulino e lhe disse:
— F i l h o do mey, coração.
Quero fazer-te um pedido,
Promettes fazel-o então?
O pedido provará
Que és um distincto irmão
Prometto e assim o juro
Pois, são direitos sagrados.
O conde asssim mesmo rio-se
Com olhos muito fitados.
Perguntou: Vingas meus filhos.
Oue foram assassinados?
Meu pae! e eu tive irmãos ?
Braulino lhe perguntou.
Tiveste, disse-lhe o conde, ,
E uma féra os matou,
E por isso tua mãe
Tão depressa se acabou,
Pois bem ! Como me promette
Escuuta
-me attentamente
Um irmão de tua mãe
�O barão de S. Vicente.
Que ha mais de 18 annos
Desta terra está ausente.
Tinha u m a única filha
Que se chamava Marina,
De uma figura elegante,
Porém de uma alma ferina;
Morreram teus dois irmãos
Pela mão dessa assassina.
Enamorou-se de um bandido,
Sujeito até engeitado.
O pai d'ella prendeu elle
Ella peitou um soldado,
Tirouelleoccultamente
Botou-o noutro reinado.
Então o barão teu tio
Chamou teu irmão, Reinou
E deu-a em casamento
Ella porém regeitou,
No dia do casamento
No altar ella o matou.
Floresmundo, outro irmão teu
Que com elle tinha ido,
V i u quando ella o cravou,
Envesti-a enfurecido,
Ella cravou-lhe o punhal
Elle cahiu sem sentido.
�Teu tio, o barão, pae d'ella,
A h i a encarcerou,
O noivo, esse tal Alonso,
Sabendo disso voltou,
Matou o guarda do carcere
Tirou-a e a carregou.
Braulino escutava tudo
Quando seu pae lhe dizia,
Pois da morte dos irmãos
Elle ainda não sabia;
Jurou ao pae que Alonso
Com juro lhe pagaria
E ' necessario contar
Tudo quanto aconteceu
Tudo que o conde pediu
E Braulino prometteu
Para poder se entender
Toda questão em que deu
O conde de Montalvão
Vendo que não escapava
E conhecendo que o filho
Muitas coisas ignorava,
Pois elle era o instrumento
Que ao conde tudo vingava
A condessa morreu logo
E o conde ainda ficou
Ao cabo de quatros annos
�A molestia o atacou,
Elle conhecendo a morte
Ao filho junto chamou
Porque elle conhecia
Que dessa não escapava
Sabia que era seu fim
Dalli não se levantava
Outras recommendações
A o filho ainda faltava
Ha mais de desoito annos,
A ' desenove ou á vinte,
Que o conde de Moltavão
Tinha guardado este acinte
C h a m a n d o o filho p'ra junto
Disse a historiia seguinte:
— M e u filho j á contei
Meus sentimentos passados,
Tu j á sabes teus irmãos,
Por quem foram assassinados,
Quero entregar-te o punhal
Com que foram traspassados
E abrindo uma gaveta,
Tirou d'ella u m a caixinha,
E dentro da dita caixa
U m punhal velho continha
Com umas nodoas de ferrugem
Da falha até a
bainha.
�Com os olhos cheios de lagrimas
Em alta voz exclamou:
— M e u filho vez estas nodoas
Que aqui te mostrando estou?
Foi sangue dos teus irmãos
Que em ferrugem se tornou
Tua mãe antes da morte
Foi o que mais me pedio,
Suas ultimas palavras
Quando ella se concluiu
Foi-me pedir que a vingasse
Já morrendo repetiu.
Braulino se ajoelhando
Exclamou!—oh pae descança!
Porque o que tu me pedes
Eu escrevo na lembrança
Juro botar em. teu tumulo
O sangue desta vingança
O conde, estirando o braço,
Os olhos nelle fitou
—Meu filho pega esta ar. . .
A palavra não findou,
Fez aceno com a mão
Nesse momento expirou.
Braulino tomou-lhe o pulso
De repente entristeceu,
Encontrou o pai sem vida
�U m grande gemido deu,..
Dizendo eu sem pae e sem
Em que estado estou e u !
mãe
Meu pae, meu primeiro amigo, _
Este que me deu o
Deixou ao orotar da vida
Quem não deseja viver,
Pois. que a vida é tão volúvel
Melhor fora não nascer.
Eu hoje sou um visconde,
Sou por diversos., cercado
Morro amanhã ou depois
Já ahi estou isolado,
O que mais cercou-se de mim
A g o j a foge assombrado
Riquesa, opulência, orgulho,
Tudo é cegueira da.,vida.
0 sentimento moral
Abre na alma ferida,
Vingança é uma. loucura,
Soberba é sempre abatida,
Eu prometti a rneu pae
E hei de cumprir a'jura,
Embora ella me leve
A borda da sepultura,
Farei isto, mais sabendo
Que não, ha maior loucura
�Quem sabe se essa loucura
Não vem trazer-me o momento
• Que eu desço a escada triste
Do leito vil, crapulento,
Me atirando com urgehcia,
Ao chão do esquecimento
Mas a jura hei de cumqrir,
Não posso disto afastar
O que prometti a meu pae.
Não posso mais revogar.
E promessa que se faz
E' obrigado a pagar.
Se eu morrer por causa disto
E fór ao Juiz Divino,
Se for exacto que o homem,
Morrendo toma um. destino,
Direi a Deus: foi meu pae
Quem fez de mim assassino,
Fez o enterro do pae,
Depositou o dinheiro,
Disse ao creado: eu morrendo
Você será meu herdeiro
Preparei i,neus documentos
Deixei-o testamenteiro
E na cava do cullete
Poz logo o dito punhal
Dizendo este objecto
�oão
E ' o meu memorial
Emquanto houver mundo eu ando
Afim de ver meu rival.
E largou-se pelo mundo
Sem saber por onde ia
Sem direção nem destino,
Sem pensar no que jazia,
Nem esperou pela missa.
D o pae no sétimo dia.
Andou em muitos paizes
Correu a Oceania
Depois votou á Europa
Porem de nada sabia
A todos que elle indagava
Nem um só o conhecia
•
,
)
Correu a America Latina
Depois voltou a Europa,
Disse-lhe um turco que Alonso
Estava em Constantinopla,
Tinha lá sentado praça
Era capitão de tropa.
Foi elle a Constantinopla,
Chegando lá não o achou,
U m viajante lhe disse
Que ha dois annos viajou
Com um homem chamado Alonso
Que no Egypto
ficou.
I
�Braulino, foi ao Egypto
Como o viajor dizia
Chegou lá encontrou outro
Oue com Alonso parecia.
Era também hespanhol
E Braulino o conhecia.
O hespanhol disse a elle
Que se não estava enganado
Alonso era um individuo
Que j á tinha naufragado,
Perto da Azia Menor
E por lá tinha ficado
Disse Braulino: eu corri
America e Oceania,
Procurei em toida Europa
Tive de encontrar um dia
U m a noticia incerta
Q u e quasi nada valia.
Disse o hespanhol a elle:
Quem sabe até se o barão
Não tenha feito esquecida
Da filha a ingratidão,
E Alonso se casasse
E não estejam em união.
Pelo que diz o visconde
Alonso foi prevenido
Se elle casou-se e ainda vive
�Estará estabelecido
Com casa commercial.
De nome bem conhecido.
Disse Bráulio : eu corri
Parte da Azia Maior.
— J á correu todo o Japão?
Parte da Azia Menor ?
Bráulio disse: ainda n ã o !
Disse o tal: foi o peior!
Esse maldicto hespanhol
Parece que advinhava
Era mesmo uma certeza
Os calculos que elle formava,
Só quem sabia de tudo
Ou alguem o informava.
Braulino acceitou o plano
Tomou uma embarcação Que ia no mesmo dia
Com destino ao Japão,
Embarcou c'um passageiro
Q u e conhecia o barão.
Disse a elle o passageiro
O barão é meu conhecido
Mora no Japão com o genro
Que é iá estabelecido,
Chama-se Alonso cie tal
-Dois nomes estou esquecido.
�Então Braulino pensou
Que estava bem dirigido,
A vantagem era não ser
Por alguem lá conhecido.
Assentou todos seus planos
Para chegar prevenido.
Então chegou no Japão,
Hospedou-se n'um hotel,
L á achou um japonez,
U m tal Zurubabel,
Que lhe pareceu ter caracter,
De um servo mui fiel.
Então perguntou a elle:
— T u queres ser meu criado ?
Zurubabel respondeu:
—Quero e lhe fico obrigado
Pode contar com seu servo,
Lhe servirei com cuidado,
Disse Braulino: é preciso,
Eu lhe expor a condição.
Eu preciso de um .criado,
Homem de disposição
Que seja até assassino
Quando houver occasião
Lhe disse Zurubabel:
— E u não encaro terror
E só seres assassino
�Em defeza do senhor
Pois o crime para mim
E' uma scena de horror.
Disse Braulino : eu não queroO senhor para instrumento
Apenas vou prevenil-o
Se chegar este momento
E ' necessário fazer-lhe,
U m grande esclarecimento
E' preciso o senhor
Guardar bem esse segredo
Esse facto é quasi um drama
E' perigoso o enredo,
Disse o servo a não ser roubo
O patrão diga sem medo,
O senhor conhece Alonso,
U m hespanhol que aqui mora ?
Elle morava na Hespanha
H a annos que veio embora
—Conheço muito é banqueiro
Passou por alli agora.
Conheci o sogro delle
Que já é morto o barão :
Conheço a senhora d'elle
E' até um figurão,
E' a mulher mais. bonita,
Que
j á entrou no Japão.
�16
Pois bem: Esse tal Alonso,
Tem uma conta a pagar-me,
Elle uma, a mulher outra
Dos dois eu quero vingar-me
Desejo saber se o senhor
Se dispõe acompanhar-me.
Não exijo que o senhor
No crime se vá metter.
Só quero que me acompanhe
E faça o que eu mandar fazer,
Tenha cuidado e se aguarde,
Para o que puder haver.
Perguntou elle ao criado .
Eu o que devo fazer?
Qual será o melhor ponto
Para eu o conhecer ?
Disse o servo: No t e a t r o ,
Onde melhor pode o ver.
Sim, senhor; disse Braulino
Elle o pode frequentar
Todas as noites. Disse o servo:
Eu tenho visto elle entrar
De braço com a mulher,
E é muito raro falhar.
Disse Braulino ao criado:
Pois bem, você me acompanha
Depois que isso conseguir
�Embarco para a Allemanha.
Você embarca commigo,
E depois vamos a Hespanba
V á contratar logo um carro,
Bolieiro habilitado
Cavallos que sejam bons.
Pague logo adiantado
Mas veja como faz isso,
E u quero muito cuidado.
Tirou vinte e cinco libras
E deu-as todas ao criado
Dizendo: Tome dinheiro,
Se aprompte ande aceiado.
Seja fiel, que meu cofre,
Para si está recheiado.
Vamos logo ao theatro
N ã o percamos as monções,
Eu quero conheeer elle,
Tomar-lhe bem as feições,
Tanto d'elle como della,
Traços, caracter e acções.
Estavam elles no theatro
Chegaram Alonso e Marina.
Braulino, aos vel-os ficou
C o m o quem não se domina,
Exclamou com sigo só,
Quanto é bella essa assassina
�Depois reflectindo o caso,
Dizia: Teve razão,
Complico mais nesse crime
O orgulho do barão
E a grande cobardia,
Que apresentou meu irmão.
Se eu não me considerasse
Hoje, um homem criminoso,
Se podesse inda dispor,
De liberdade e repouro.
Somente uma mulher digna
Teria a mim como esposo.
U m a que por si somente
Empregasse em mim amor,
Quer feia como avisão,
Quer linda como uma flor,
Mas que risse em meu prazer,
E chorasse em minha dor,
Não exigia que o pae,
Fosse um rei ou um criado,
E ella não possuisse
Nem o valor de um cruzado,
Só exigia um caracter,
Que nunca fosse manchado.
Se meu irmão desprezasse
O orgulho e a ambição,
Não desse tanto valor
�A dinheiro e a brazão,
Ainda estaria vivo,
Tanto elle como o irmão.
Cuja ambição obrigou,
A marchar p'ra sepultura,
E fazer quem não queria
Cometter uma loucura,
A mesma que hoje me obriga
A passar tanta amargura.
Porque jurei a meu pae,
Na hora que elle morreu,
Que a vingança, inda que
Grande o sacrificio meu
Quebrar uma jura dessa,
E ' o que não faço eu.
fosse
Depois pensava consigo,
Como poderei fazer
Esse crime injustamente?
Que resultado hei de ter?
Matar um e deixar outro,
Estou no risco de morrer.
Mas como meu pae pediu-me,
E dizem que o promettido
E ' um compromisso sagrado
Como um debito contrahido,
E u faço embora depois
Fique disso arrependido.
�Foi elle para o theatro,
Aguardando o occasião
Para commetter o crime,
De que j á tinha intenção
Depois, no mesmo theatro,
Fez outra combinação.
Terminou o espetáculo,
Braulino se recolheu
Chegou em casa deitou-se,
Porem não adormeceu,
Pensando como cumpria
O juramento que deu.
Não era por que temesse,"
Se sahir mal da empreza
E ' por que repugnava
Crime da tal natureza.
Fazer dois assassinatos,
Era um crime sem defeza,
Então no dia seguinte
Combinou com o criado
E ' hoje a noite do crime
Você esteja preparado.
Não saia hoje do carro,
Porque o crime hoje é dado
Depois de ter dito isso.
Viu elle Alonso chegar
Braulino encostou-se ao carro
�Sem nada lhe perguntar,
Cravou-lhe o punhal no peito
N ã o o deixou se apear.
E partiu para Marina,
Porem, esta se livrou.
Marina com uma lanceta
O braço lhe traspassou,
Tanto que o punhal cahio,
E elle não o apanhou.
Marina acudio Alonso
Que cahira desmaiado.
Apanhou logo o punhal
Que no chão tinha ficado,
Conheceu-o perfeitamente.
Pois ella o tinha comprado
Braulino evadiu se logo
Nem mais no Castello entrou
Quando commeteu o crime
Na mesma hora embarcou
A policia o perseguio
i Porem não o encontrou
A deligencia foi feita
Porem foi toda percida;
Marina acudio Alonso.
Que estava ultimando a vida
E não dava demonstração,
De que estava tão sentida.
�Allonso chamou-a e disse;
Oh
! minha esposa querida
Eu morrendo, você cuide,
E m tratar de sua vida,
Já que a sua dura sorte,
Sempre foi tão perseguida,
Marina fitou Allonso.
E em voz alta exclamou:
Hoje a vida para mim
Foi moda que se acabou,
Tratarei delia depois
Que matar quem te matou.
Allonso disse a Marina
Tenho a pedir-te um favor
Para tu não te vingares
Daquelle infame trahidor.
Que m ematou innocente
Como Christo Redemptor.
Marina lhe disse : Alonso
Tudo te posso fazer,
Mas não vingar tua morte
Não posso te prometter,
Inda querendo não posso,
Meu gênio contrafazer.
Disse-lhe Alonso : Marina
E melhor voce casar,
Antes de mim se esquecer,
!
�'
23
D o que sahir a luctar,
Entregue esse crime a Deus
Pois Deus o sabe vingar.
—Casar-me com outro homem?
Só se fôr por um castigo!
Disse Marinna : Eu jurei
Viver e morrer comtigo,
T u morres, mas em meu peito
Pulsa um coração amigo.
Minha vida está em ti,
Se nutre com teu amor,
Logo que tu não existas,
Ella murcha como a flor,
Sem ti Deus pode matar-me,
Seja de que morte fôr.
Eu não conhecia amor,
Teu amor foi o primoiro,
Não procurei ver mais outro,
Elle foi o derradeiro,
Fiz d'elle u m a flor de estima,
Fiz do meu peito um canteiro.
Estou com 42 annos,
Pouco da vida gosei.
Apenas os vinte annos
Que unida a ti desfructei,
Esses foram como um sonho,
Perdi-os quando acordei.
�A vingança hoje domina-me
Sempre activa me rodeia,
Meus dias são como trevas,
A lua torna-se feia.
Sinto sêde mas não d'agua,
O sangue é quem me saceia.
Nestas ultimas palavras
Alonso olhou-a e sorriu;
Fazendo um pequeno gesto
Logo ahi se concluiu,
Marina gemeu tão alto
Que muito longe se ouviu.
A policia averiguando
Com attenção e cuidado,
Sem saber porque motivo,
rinha sido o crime dado,
Alonso naquella terra,
Não tinha um só intrigado.
Disse Marina ao juiz :
—Esse crime succedeu
Por vingança de outro crime,
Que ha vinte annos se deu,
Nelle Alonso era innocente,
Quem fez o crime foi eu.
E mettendo a mão no seio,
Tirou um velho punhal.
Disse: Eu com este matei
�U m cobarde sem igual:
Fssa ferrugem foi sangue,
Olhem que vê o signal.
Ahi narrou a historia,
Q u e com ella se passou,
Dizendo : Isso foi o irmão
De quem eu matei que ficou,
Vingou-se em quem não devia
Quem teve culpa escapou.
Ellle vá aonde fôr
Sua viagem é pequena,
Se encante como a lagarta,
Póde criar até penna.
Inda no ceu eu o mato,
Os anjos verão a scena.
Porque hoje a vida delle,
Me pertence por herança,
O sangue delle é meu ouro,
Não sae da minha lembrança,
A morte não é capaz
De esquecer-me essa vingança.
Fez e enterro de' Alonso,
Sem se mudar a feição,
Botou um retrato delia,
Por lembrança no caixão,
E disse: quando eu vingar-me,
Choro e boto luto então,
�26
Perguntou ao guarda-livros :
Então voce me acompanha.
Atreve-se a andar commigo
Em Paris e na Allemanha,
Em Portugal, na Italia,
Em Dinamarca e Hespanha?
Respondeu o guarda-livros :
— Se tem confiança em mim
Eu acompanho a senhora,
Até um de nós ter fim.
Então respondeu Marina :
Me serve é um homem assim,
Agora, caro leitor,
Vamos tratar do Braulino,
Quando praticou o crime,
Ficou quasi em desatino,
Sem acertar para onde
Devia tomar o destino,
Braulino poude levar,
De Alonso sangue num lenço,
Foi o sepulcro do pae
Com esse objecto immenso
Olhando os ossos do pae
Ficou d'aquillo suspenso,
Meu pae (disse elle ao tumulo)
Eis o sangue da promessa
E ' obrigado a um filho
�T u d o que seu pae lhe peça,
Está o que eu prometti
Não é minha divida essa ?
Nisso Braulino sentiu
A sepultura se abrir
O esqueleto do pae,
Erguer se e do pó sahir,
Quiz falar alli tombou :
Foi ao mesmo pó se unir.
Uma voz triste e fanhosa
E m ecbos tristes bradou
Tira daqui este sangue
Não quero vel-o onde estou
Essa maldita vingança
Agora me magoou.
O pedido que te fiz
No momento agonisante
Se transformou numa seta
De uma ponta penetrante
Lançando isso em meu rosto
Toda a hora e todo instante.
A's noites sou visitado
Por espectros de terror,
Infelizes que passaram,
Por meu glaudio vingador
Me mostrando todo o crime.
Me accusando ao Creador.
�Esqueletos de creanças
Pedindo os paes que eu matei,
Viuvas pedem os maridos
Que eu os assassinei,
-Os pobres mostram as contas
Que emquanto vivo roubei.
Sou medonho como as trevas
Triste como a voz de um sino
Vem lá da eternidade,
U m echo medonho e fino
Me chamando de malvado
Ladrão, malvado e assassino.
Braulino j á estava alli
A perder a pasciencia
Pensando em ter morto um homem
Que só continha innocencia
Sem escutar os conselhos
Que lhe dava a consciencia.
Agora caro leitor,
Deixemos aqui Braulino
Vamos ver Marina agora.
Como tomou seu destino
E como fez a viagem
E m busca do assassino.
Deixou os negocios entregues
Ao seu antigo empregado
Disse a e l l e t o m e conta
�Applique todo o cuidado
Faça e desfaça de tudo
E marque seu ordenado.
Então disse ao guarda-livros,
— V a m o s entrar em campanha
O assassino talvez
Se demore na Allemanha
Se nós n ã o achai-o lá
Vamos depois á Hespanha.
Foi Marina á Allemanha, .
Não encontrou mais Braulino,
Soube que elle esteve alli
Mas tomou outro destino,
Disse ella : na Hespanha
E u encontro o assassino.
Chegou Marina em Hespanha
Alugou um torreão.
Depois de dias tratou
De tirar informação,
Onde ficava o castello
D o conde de Montalvão.
Foi lá no dito castello
Mas Braulino não estava
Perguntou aos criados
Se sabiam onde elle andava
Disse o' criado mais velho
Tudo aquillo ignorava.
�Então dizia Marina :
— Q u e desejava falar
Com Braulino Montalvão
Tinha um negocio a tratar,
De uns bens que possuia
E queria hypothecar.
Então pediu a um criado
Quando o visconde chegasse
Procurasse um portador
Com urgencia a avisasse.
Porem preveniu a elle
Q u e a Braulino não tratasse.
D e u tres libras a o criado,
E l l e agradeceu-lhe m u i t o ,
Disse Marina comsjgo:
Essas tres libras é um unto,
P o r esse m e i o é q u e p o s s o
Obter qualquer assumpto.
Dias depois o criado,
Mandou á ella um cartão,
Lhe dizendo : sr. visconde
Já chegou em Montalvão
Se ainda quer lhe falar
E ' própria a occasião,
Marina chamou Abel
E lhe disse: Meu amigo,
Quero saber se está prompto,
�01
01
Se encara a morte c o m m i g o .
Disse Abel : Para servil-a
A moite não é perigo.
Disse Marina : Pois bem,
V a m o s primeiro pensar,
O Castello de Montalvão,
Dois só n ã o podem o cercar,
O certo é ir pela porta,
Resulte o que resultar.
Marina achou na Hespanha,
Tres rapazes do Japão,
Que estavam morrendo á fome
Sem acharem proteção,
Marina chamando-os disse-lhe
Dou-lhes roupa, casa e pão.
S ó quero que vocês guardem
U m segredo que direi,
N ã o revelem o meu nome,
N ã o digam onde eu moreí,
Q u e quando eu sahir d'aqui,
Para o Japão os levarei.
E n t ã o disse ao guarda-livos :
— A b e l , temos precisão
De duas ou tres pessoas
Que tenham disposição,
V a m o s vêr se conduzimos
O s rapazes do Japão,
�E ' bom, respondeu Abel,
Ir daqui bem prevenido,
Quem deve vive assustado
Não deixa de estar munido,
Se erra o primeiro golpe,
Vae alterar-lhe o sentido.
Chamou ella os tres rapazes
Marcos, Angelo e Salvador,
Perguntou a todos tres :
—Vocês fazem-me um favor,?
Responderam todos tres :
—Fazemos seja o que fôr.
— E' perigoso,- ella disse.
— N ã o ha perigo, senhora,
Para um de nós lhe servir
Não temos dia nem hora
Precisa de nossas vidas
Póde tiral-as agora.
Pois bem, respondeu Marina,
Sou obrigada a dizer:
Trata-se de uma vingança,
U m crime que hei de fazer,
Mas eu, exclusivamente,
Sou quem hei de commetterSeja como fôr senhora,
(Responderam todos tres)
Damos as vidas por si,
�Morremos de uma só vez,
Então Marina ainda disse:
Eu agradeço a vocês.
Marina disse a A b e l :
— N ã o devemos demorar,
No porto hontem chegou
A barca « Viagem Polar»,
Eu escrevo ao capitão
Para por mim esperar.
Leve dinheiro d'aqui,
Quantia que a elle illuda,
Com dinheiro e sympathia
Não precisa mais de ajuda;
Com a presença do dinheiro,
Tudo se desfaz e muda,
Abriu uma das gavetas
E tirou delia u m cartão,
Escrevendo nestes termos :
« Dignissimo capitão
Quero fretar sua barca
Da Hespanha para o Japão».
Abel foi ao porto e veio,
Deixando tudo arrumado,
Chegou e disse a Marina.
Deixei tudo preparado,
Na barca só vamos nós,
Assim ficou contractado.
�Era meia noite em ponto,
Estava o mundo envolto em trevas
Piava um ou outro môcho
Nas rochas daquellas selvas,
Como tambem alguns grilos,
Chiavam em cima das relvas.
Chegaram então ao castello
Sem alguém os presentir,
Marina trazia um pó
Que obrigava a dormir,
Quem sentisse o cheiro delle
Não podia resistir.
Marina queimou o pó
Deixou a fumaça entrar
Abriram uma janella
Para a nella penetrar
Marina seguiu na frente
Com cuidado a procurar.
Ahi Braulino acordou,
Ergueu-se, foi ver quem era.
Marina, conheceu elle
E gritou—é este a féra !
Braulino então conheceu
Que a cousa estava devera.
Ainda atirou duas vezes,
Mas nenhum tiro attingiu,
Marina atirando nelle,
�Alli mesmo elle cahiu,
Dos criados que elle tinha
Nenhum o barulho ouviu.
Levaram elle nos braços
E foram logo embarcar,
Marina narcotisou-o.
Tratou logo de o curar,
Desembacaram no Japão
E ninguém os viu chegar.
Braulino tinha essa tarde
Uma viagem formada,
E tinha dito aos criados
Que ia de madrugada,
Deu toda determinação;
Deixou a mala arrumada.
Os criados de manhã
Julgaram elle ter ido
Visto a sala estar trancada
E a barca ter sahido
Nem podiam imaginar
Ter aquillo succedido.
A's tres horas da m a n h ã
Elles no porto chegaram,
Marina, Abel e os rapazes
Na barca todos entraram;
Então pegando o ca ; xão
Occultamente o levaram.
�Então Marina levou-o
Mas elle narcotisado;
Desembarcaram no Japão
Da barca elle foi tirado
Foi para um subterrâneo
Oue já estava preparado.
Marina deu-lhe um remedio,
Fez elle voltar a si,
Lhe perguntou ;—assassino
Sabes porque estás aqui ?
Pois não ? Respondeu Braulino
Eu sei o que commetti
E conheces quem sou eu,
Intestinos infernaes ?
Conheço, disse Bralino.
E's filha de Satanaz,
Mataste meus dois irmãos
Acabrunhastes meus paes.
—Porque razão assassino
Tu mataste meu marido?
Disse elle : Por meu pae
Me ter feito este pedido,
Inda preso como estou
Não estou arrependido.
Marina lhe perguntou :
— J á sabe que vae morrer ?
Eu suponho, disse Braulino,
�Mas. falando sem tremer
E' o menos que a senhora
C o m m i g o pode fazer.
Marina se retirou,
Deixou-o só na prisão
E depois no carcere delle
Mandou por um lanpião,
E mandou pelos criados
Levar-lhe a refeição.
Braulino estava com fome
Porém em nada tocou,
No. outro dia Marina
Inda no carcere voltou,
Estava a comida da forma
Que o criado deixou.
Marina lhe perguntou :
Então como quer morrer ?
— T o d o systema me serve
Mate lá como entender
Morro muito satisfeito
Porque cumpri meu dever,
Ella ainda perguntou :
Aonde quer se enterrar?
Braulino olhou-a e disse :
Eu não escolho lugar
Dê meu cadaver aos cachorros
Que é o mesmo que sepultar.
�Pois bem respondeu Marina,
Já que não quer escolher,
Eu só te mato, assassino,
Depois de te ver soffrer,
Quando te pareça festa
O dia que has de morrer.
Marina então retirou-se
Disse comsigo Braulino :
Morrerei de fome e sede,
Assim cumpro o meu destino,
Comtanto que não dê gosto
A aquelle gênio assassino.
Passou seis ou sete dias
Sem aceitar alimento,
Marina casualmente,
Entrou no seu aposento,
Disse : A fome a este monstro
Ainda não causa tormento.
Ordenou que os criados
O puzessem sobre o chão,
E a força lhe botassem
Pela bocca agua e pão.
Que elle se alimentasse
Quer quizesse aquillo ou não.
Os criados executaram
O que Marina ordenou,
A custa de muita força
�Braulino se alimentou,
Vendo que comia sempre
Depois o pão aceitou.
Depois de cinco ou seis dias
Já elle estava mais forte
Disse Marina—eu faço
Arrepender-se da sorte,
Elie ha de curvar-se a mim,
Pedindo que lhe dê a morte.
Mandou pôr agua no carcere
Até que fizesse lama,
Para elle não achar
Onde fazer uma cama,
Dizendo—elle ha de curvar-se
Ou dentro d'agua ou em chama.
Deitaram agua no cárcere
Que ficou todo alagado
Braulino quando viu agua
Ficou até animado,
Dizendo : Eu agora aqui
Talvez que morra afogado.
Mas a agua era tão pouca,
Oue nem mesmo os pés cobria
Elle ahi conheceu.
Que afogado não morria
E aquelle enorme tormento,
Crescendo de dia para dia.
�Seis dias passou na lama,
Lhe pareceu inchação;
Então Marina mandou
Botal-o em outra prisão,
N'um quarto á fórma de estufa
Com pouca respiração.
O quarto era muito estreito
Com grossas taboas forrado,
E m cima duma fornalha,
Era o cárcere collocado
Qualquer ser nesta prisão,
Morreria asphyxiado. . .
Marina mandou botar
Na fornalha um fogo lento,
Que fosse a pouco e pouco
Aquentando o aposento.
Então alli na prisão
Não aparecia vento.
Braulino rangiu os dentes
Como a féra engaiolada
Exclamando—Oh ella ainda
Não acha que está vingada !
Acha que minha existencia
Não está bem amargurada !
Então a acção do fogo,
Já tinha tanto crescido
E Braulino com o calor
�41
Estava tão enfurecido,
Blasphemava contra tudo,
Já desvairando o sentido.
E exclamou—foi mentira,
Jesus por mim não morreu,
Mil vezes maldita seja
A mãe que me concebeu.
Maldito pae que gerou-me,
Que tal conselho me deu.
Maldito o primeiro leite
Que meu estomago ingeriu,
Maldito seja esse monstro
Que como pae me serviu !
Ahi lhe deu um ataque
Não sustentou-se e cahiu.
Assim mesmo ainda exclamou :
— O h D e u s ! tem pena de mim
Toca- aquelle coração,
De tyrannia sem fim,
Que venha logo matar-me
Não faça eu soffrer assim.
Se eu pudesse vel-a agora
Lhe pediria perdão
Pela alma do esposo
Que assassinei sem razão.
Talvez que o nome de Alonso
Lhe abrandasse o coração.
�42
Marina então poude ouvir
Toda aquella exclamação,
Ouviu falar em Alonso
Doeu-lhe no coração,
Então mandou os criados
Botal-o em outra prisão.
Q u a n d o elle sahiu do quarto
Estava quasi sem sentido.
Exclamava : por Alonso
Fui hoje favorecido,
Deus perdoai este crime,
De que estou arrependido.
Ao cabo de quatro dias
Elle sempre melhorou,
Pelas dez horas do dia
Marina se apresentou,
Braulino se ajoelhando,
Prostrado a seus pés chorou.
Dizendo : Minha senhora,
Quero fazer-lhe um pedido,
Eu sei que ainda não paguei
A morte de seu marido,
Por elle crave-me o ferro
Com que elle foi ferido.
Marina naquella hora
Suspendendo a colera immensa
Ora tremia-lhe o corpo.
�Ora ficava suspensa,
Disse—eu solto este assassino
Deus que lhe marque a sentença.
Assassino eu te perdóo,
A morte de meu marido
Pois elle antes da morte,
Me deixou este pedido,
No tribunal do eterno
Teu crime será punido.
Summa-se da minha vista
Então Braulino sahiu,
Embarcou no mesmo dia.
Para a Hspanha seguiu.
Sem poder fazer um calculo,
Nem quem foi que o acudiu.
Q u a n d o chegou na Hespanha
Pegou elle a reflectir,
C o m o do glaudio da morte
Podia elle sanir,
U m covarde como eu
N ã o vale a pena existir,
Já perto de meia noite,
Pegou Braulino a pensar
Em abrir o tumulo do pae
E ir se suicidar,
U m nome negro e covarde
Devia se liquidar
�Fez uma carta a Marina
Dizendo: Minha senhora,
A morte de seu marido
Ha de ser vingada agora.
Creio que vou morrer já,
Não duro mais meia hora.
Fui um covarde em matar
A quem nunca me offendeu,
Devido a um pae miseravel
Q u e seus conselhos me deu,
Matei um homem que era
Mil vezes melhor que eu.
Lançando mão ds um revolver,
Correu desesperado,
Metteu o ferro no tumulo,
Onde o pae estava enterrado,
Dizendo—Ergue-te do pó,
Esqueleto desgraçado.
Veja se esta alma negra,
Do pó que está reduzida,
Vem escutar a minha voz,
Tão maguada e sentida.
Ouve o producto que me deu
Tua imprudencia exigida
Por tua causa soffri,
Todo a especie de amargura,
Estiva em prisões infernaes,
�45
Mais feia que a sepultura,
Mettido em gelo e em chammas
Com a maio desventura.
Porque não me assassinaste
Emquanto eu era pequeno?
Não tinha tão bons punhaes,
Tantos frascos com veneno,
Maldito sejas mil vezes,
O teu agoureiro terreno.
Braulino estava falando,
Viu os ossos se juntarem
Surgiram dois esqueletos
E a elle se botaram,
Com boccas tintas de sangue,
Rangindo os dentes e uivaram
—Fomos quem te deu o ser!
Então os vultos diziam,
Com dentes enferrujados,
Am ao outro se mordiam,
Duas linguas negras e seccas
Dos esqueletos sahiam.
Braulino inda atirou nelles,
Porém não os offendeu,
Os dois vultos o pegaram,
E elle á valla desceu,
Ahi a terra fechou-se
Tudo desapareceu
�46
Marina sabendo disto
Ficou muito arrependida,
Dizendo: Eu obrei mal
Fincando tão enfurecida,
Cinco ou seis mezes depois,
Deixou tambem ella a vida.
No tumulo dos Montalvão,
Ninguem podia chegar,
Q u e a meia-noite em ponto,
Via-se um echo acordar,
Gemer um, suspirar outro,
Outro a sorte praguejar.
FIM
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Dublin Core
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Title
A name given to the resource
Acervo Raymond Cantel
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
CRLA-Archivos - Université de Poitiers
Description
An account of the resource
(Português)
Acervo Raymond Cantel foi formado a partir da coleção de folhetos reunida por Raymond Cantel durante as suas viagens ao Brasil, desde 1959 até o início dos anos 80, sendo constituída por mais de 4000 documentos. Trata-se da maior coleção francesa e uma das maiores coleções europeias de literatura de cordel brasileira.
Foi doada à Universidade de Poitiers, sob a custódia do CRLA-Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), em 2001, por Paulette e Jacques Cantel, mulher e filho do pesquisador. Encontra-se, atualmente, na sala 124 da Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), com previsão de mudança para o setor de Acervos Antigos da Biblioteca Universitária da Faculdade de Letras, em 2023. Karina Marques e Sandra Teixeira, professoras do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, são as responsáveis científicas pelo acervo.
Os folhetos foram os primeiros documentos do acervo catalogados, digitalizados e disponíveis para consulta a um público alargado através da “Biblioteca Virtual Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), que foi ao ar 2014, ano de comemoração do centenário de nascimento de Raymond Cantel. Além dos folhetos brasileiros, parte mais numerosa e fundadora da coleção, documentos de outras origens vieram a ser incluídos: 121 livretos portugueses; 80 franceses (sendo 1 em provençal e 1 em pictavo-sântone); 22 em espanhol; 18 em catalão; 18 italianos e 1 em alemão. Todas as fichas catalográficas dos documentos do acervo estão disponíveis no portal, juntamente com alguns folhetos digitalizados. Os demais documentos poderão ser solicitados através do email karina.marques@univ-poitiers.fr , mediante análise do pedido, que, se autorizado, implicará na assinatura de um termo de confidencialidade, com valor jurídico para a proteção da propriedade intelectual da obra em questão.
A essa coleção original, vieram somar-se outras que se encontram em tratamento:
- “Coleção biobibliográfica Cantel/cordel” : composta por manuscritos de artigos escritos pelo pesquisador; matérias sobre a sua figura e trabalho publicadas em jornais brasileiros e franceses; e a correspondência trocada com escritores e cordelistas brasileiros – este material enriquece sobremodo o conjunto, visto que revelador do contexto em que a coleção se formou e de sua inserção no fluxo de intercâmbios culturais e científicos entre a França e o Brasil (digitalizada e catalogada em sua quase totalidade, mas aberta à inclusão de documentos relevantes, ainda não disponível on-line).
-“Coleção audiovisual Cantel/cordel”: registros sonoros de conferências proferidas por Cantel no Brasil; apresentações em vídeo e áudio de poetas, cantadores e repentistas gravadas pelo pesquisador e seus colaboradores; gravações de música popular brasileira (apenas a parte sonora foi digitalizada, ainda não disponível on-line).
- “Col. Nélida Piñon”: coleção constituída por 48 documentos, composta, na sua grande maioria, por títulos clássicos da literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 70 e reeditados pela Editora Luzeiro. A doação foi feita aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa à escritora pela Universidade de Poitiers, em 1997 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Neuma Fechine Borges”: coleção composta por 7 folhetos de grandes nomes de literatura de cordel, escritos entre os anos 50 e 80, doados pela professora de literatura brasileira da Universidade Federal da Paraíba, aquando da entrega do título de Doutor Honoris Causa a essa escritora brasileira pela Universidade de Poitiers, em 2005 (inteiramente digitalizada e catalogada, apenas as fichas catalográficas estão disponíveis on-line).
- “Col. Marcelo Soares”: 30 xilogravuras do artista Marcelo Soares doadas ao acervo aquando da sua participação em exposições montadas no âmbito das festividades programadas durante o Ano do Brasil na França, em 2005 (ainda não digitalizada, nem catalogada).
- “Col. Francisca Pereira dos Santos (Fanka)”: coleção de autoria feminina reunindo 213 folhetos, escritos sobretudo entre os anos 90 e a primeira década do século XX, dentre os quais foram identificadas 34 ilustradoras e xilogravadoras e 62 cantadoras repentistas. A coleção foi constituída entre 2011 e 2013, aquando da estadia para pesquisa desta professora e pesquisadora de biblioteconomia da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers entre 2011 e 2013. (ainda não digitalizada e nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal da autora publicado em livro: O livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020).
- “Col. Augusto Nobre”: constituída por 137 folhetos, além de livros e livretos que carregam a estrutura de poesias rimadas em estrofes. Esses documentos foram coletados entre setembro de 2012 e maio de 2013, durante a estadia deste professor de física da Universidade Regional do Cariri (UCA) na Universidade de Poitiers (ainda não digitalizada, nem catalogada pelo CRLA-Archivos; catálogo pessoal do autor publicado em livro: Folhetos de cordel científicos: um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo: Trajetos Editorial, 2017).
Desde o fim de 2018, com o registro da literatura de cordel e dos seus bens conexos (cantoria e xilogravura) como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os esforços da equipe lusista do CRLA-Archivos têm se voltado à catalogação e digitalização da “coleção biobibliográfica Cantel/cordel” de forma a dar a conhecer a figura desse pesquisador cujo papel no processo de patrimonizalização do cordel é inquestionável. Juntamente com essa coleção, duas conferências proferidas pelo pesquisador no Brasil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) foram catalogadas e digitalizadas.
Para reconstituir o espírito de sinergia criado por Cantel e no respeito aos direitos autorais dos múltiplos atores sociais envolvidos, os demais documentos da “Coleção audiovisual ssCantel/cordel” serão, igualmente, objeto de tratamento posterior, para eventual publicação on-line – aberta ou restrita – na “Biblioteca Virtual de Cordel” (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consulta local na Universidade de Poitiers. O mesmo ocorrerá com a “Coleção de xilogravura Marcelo Soares” e com as demais coleções de cordel doadas por outros colecionadores.
Todo esse corpus numérico será armazenado na plataforma digital francesa Huma-Num de forma a ser estocado de forma perene, acessível de forma rápida e segura, e disponível facilmente para pesquisa e interação de metadados.
Sobre Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986), eminente professor e pesquisador francês, lecionou durante anos na Universidade de Poitiers, onde dirigiu a faculdade de Letras e fundou o Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA), em 1966, antes de concluir sua carreira em Paris na Universidade Sorbonne. Entre o final dos anos 1950 e os anos 1960, após análises marcantes sobre o padre Antônio Vieira, começou a reunir uma coleção de folhetos, além de diversos materiais relativos à literatura de cordel produzida no Brasil (gravações, vídeos, etc.).
Desde então, a paixão de Cantel pela cultura popular brasileira tornou-se cada vez mais forte, desdobrando-se em uma série de estudos, e, principalmente, não cessando de alimentar sua coleção de cordel, que cresceu ao longo de inúmeras viagens e por intermédio de uma ampla rede de contatos naquele país.
Com o passar dos anos, tal acervo, hoje sob a guarda do CRLA desde a doação oficial em 2001, transformou-se em uma das mais importantes coleções europeias de literatura de cordel brasileira, e constitui um testemunho ímpar da história da produção do cordel. A valorização deste patrimônio permite interrogar a noção de cultura “popular” e adotar uma perspectiva multidisciplinar quanto à diversidade dos suportes semióticos em jogo: folheto, cantoria, desenho, gravura…
A partir do registro da Literatura de Cordel na lista do patrimônio cultural imaterial brasileiro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia 19 de setembro de 2018, houve um recrudescimento do interesse por parte dos pesquisadores, cordelistas e leitores de cordel pelos agentes históricos envolvidos nesse processo de patrimonialização. Dentre eles, encontra-se a figura de Raymond Cantel cuja importância para a historiografia do cordel é ponto assente, tanto entre acadêmicos, quanto no seio da comunidade produtora e difusora dessa arte. Nesse sentido, Ulpiano T. Bezerra de Meneses afirma que a Cantel devemos a própria fixação do termo “cordel” para identificação desse bem cultural brasileiro: “já o termo cordel […] não é atestado como norma corrente, nem como denominação exclusiva, senão a partir de 1950s, por influência de Raymond Cantel, um especialista na littérature de colportage […] De todo modo a expressão ‘cordel’ é bastante usual e cômoda para abrigar os múltiplos componentes desse bem.” (“Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro”, Portal do Iphan, 19/9/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
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(Français)
Le Fonds Raymond Cantel a été créé à partir de la collection de livrets de littérature de colportage brésilienne réunie par Raymond Cantel pendant ses voyages au Brésil, de 1959 jusqu’au début des années 80. La collection est constituée de plus de 4000 documents. Il s’agit de la plus grande collection française et de l’une des plus grandes collections européennes de littérature de Cordel.
Il fut légué à l’Université de Poitiers en 2001, sous la tutelle du CRLA- Archivos (Centre de Recherches Latino-Américaines-Archivos), par Paulette et Jacques Cantel, respectivement épouse et fils du chercheur. Actuellement, la collection se trouve dans la salle 124 de la Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (MSHS), mais son déménagement vers le secteur du Fonds Ancien de la Bibliothèque Universitaire de la Faculté de Lettres et Langues est prévu en 2023. Karina Marques et Sandra Teixeira, enseignantes du Département d’études portugaises et brésiliennes, sont les responsables scientifiques du Fond.
Les livrets de Cordel, connus sous le nom de folhetos, furent les premiers documents du Fonds à être catalogués, numérisés et mis à disposition pour consultation d’un large public à travers la « Biblioteca Virtual Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/), mise en ligne en 2014, année de célébration du centenaire de la naissance de Raymond Cantel. En plus des livrets brésiliens, qui constituent la partie fondatrice de la collection, et la plus conséquente, des documents d’autres origines y ont été inclus : 121 livrets portugais ; 80 français (dont un en provençal et un autre en poitevin-saintongeais) ; 22 en espagnol ; 18 en catalan, 18 en italien et 1 en allemand. Toutes les fiches des catalogues des documents du Fonds sont disponibles en ligne avec quelques livrets numérisés. D’autres documents peuvent être sollicités à l’adresse électronique karina.marques@univ-poitiers.fr. Un terme de confidentialité juridiquement valable pour la protection de la propriété intellectuelle de chaque ouvrage envoyé devra être signé, après analyse de la demande et une décision favorable.
À cette collection originale sont venues s’ajouter d’autres collections, en cours de traitement :
- « Collection biobibliographique Cantel/cordel » : composée de manuscrits d’articles écrits par le chercheur, des reportages sur sa personne et son travail publiés dans des journaux brésiliens et français, ainsi que sa correspondance échangée avec des écrivains et des auteurs de Cordel brésiliens. Ce matériel enrichit grandement tout l’ensemble, puisqu’il est révélateur du contexte dans lequel s’est formée la collection et de son insertion dans le flux d’échanges culturels et scientifiques entre la France et le Brésil (numérisée et cataloguée dans sa quasi-totalité, mais ouverte à l’inclusion de documents pertinents ; pas encore mise à disposition en ligne).
- « Collection audiovisuelle Cantel/cordel » : des enregistrements sonores de conférences prononcées par Cantel au Brésil ; des présentations de poètes, cantadores et repentistas en vidéo et audio, enregistrées par le chercheur et ses collaborateurs, ainsi que des enregistrements de musique populaire brésilienne (seule la partie sonore a été numérisée, mais n’est pas encore disponible en ligne).
- « Collection Nélida Piñon » : collection constituée de 48 documents, composée, en majorité, par des classiques de la littérature de colportage, écrits entre les années 50 et 70 et réédités par la maison d’édition Luzeiro. Léguée lors de la remise du titre de Docteur Honoris Causa à cette écrivaine en 1997 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Neuma Fechine Borges » : collection composée de 7 livrets de grands noms de la littérature de colportage brésilienne, écrits entre les années 50 et 80, légués par cette professeure de littérature brésilienne de l’Université Fédérale de la Paraíba lorsqu’elle a reçu le titre de Docteur Honoris Causa en 2005 par l’Université de Poitiers (entièrement numérisée et cataloguée, mais seules les notices bibliographiques sont disponibles en ligne).
- « Collection Marcelo Soares » : 30 xylogravures (gravures sur bois) de l’artiste Marcelo Soares léguées au Fonds lors de sa participation à des expositions organisées dans le cadre des festivités programmées pendant l’Année du Brésil en France en 2005 (pas encore numérisée ni cataloguée).
- « Collection Francisca Pereira dos Santos (Fanka) » : collection constituée d’ouvrages écrits par des auteurs femmes, qui réunit 213 livrets, écrits surtout entre les années 90 et la première décennie du XXème siècle, parmi lesquels furent identifiées 34 illustratrices et xylograveuses et 62 repentistas. La collection fut réunie entre 2011 et 2013, au moment du séjour de recherche de cette professeure et chercheuse en bibliothéconomie de l’Université Régionale du Cariri (UCA), à l’Université de Poitiers entre 2011 et 2013 (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; le catalogue personnel de l’auteure est publié en livre sous le titre : O livro Delas : Catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina, Fortaleza : IMEPH, 2020)
- « Collection Augusto Nobre » : constituée de 37 livrets de Cordel en plus de livres et d’autres types de livrets écrits sous la forme de poésie de poésies rimées en strophes. Ces documents furent collectés entre septembre 2012 et mai 2013, pendant le séjour de ce professeur de physique de l’Université Régionale du Cariri (UCA) à l’Université de Poitiers (pas encore numérisée ni cataloguée par le CRLA-Archivos ; catalogue personnel de l’auteur publié en livre sous le titre : Folhetos de cordel científicos : um catálogo e uma sequência de ensino, São Leopoldo : Trajetos Editorial, 2017).
Depuis fin 2018, avec l’inscription de la littérature de colportage et de ses biens connexes (xylogravure et cantoria) au patrimoine culturel immatériel brésilien par l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), les efforts de l’équipe lusiste du CRLA-Archivos ont été consacrés au catalogage et à la numérisation de la « collection biobibliographique Cantel/ Cordel », de façon à faire connaître ce chercheur dont le rôle dans le processus de patrimonialisation du Cordel est indéniable. Avec cette collection, deux conférences prononcées par le chercheur au Brésil (Bahia, 1965 (?)/ Brasília, 1970) ont été cataloguées et numérisées.
Pour reconstruire l’esprit de synergie créé par Cantel et dans le respect des droits d’auteur des divers acteurs sociaux impliqués, les autres documents de la « Collection audiovisuelle Cantel/Cordel » feront également l’objet d’un traitement ultérieur, pour une éventuelle publication en ligne – en accès ouvert ou restreint – dans la « Bibliothèque Virtuelle Cordel » (https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/) ou consultation présentielle à l’Université de Poitiers. La même procédure est prévue pour la “Collection de xylogravure Marcelo Soares” ainsi que pour les autres collections de littérature de Cordel léguées par d’autres collectionneurs.
Tout ce corpus numérique sera stocké sur la plateforme numérique française Huma-Num pour être sauvegardé de façon pérenne, rapidement accessible en toute sécurité, et facilement disponible à la recherche et à la communication de métadonnées.
À propos de Raymond Cantel
Raymond Cantel (1914-1986) fut un éminent professeur et chercheur français. Il enseigna pendant des années à l’Université de Poitiers, où il dirigea la faculté de Lettres et Langues et fonda le Centre de Recherches Latino-Américaines (CRLA) en 1966, avant de conclure sa carrière à Paris à l’Université de la Sorbonne. Entre la fin des années 1950 et 1960, après de mémorables études sur le Père Antônio Vieira, il commença à réunir une collection de livrets en plus de divers matériels relatifs à la littérature de colportage produite au Brésil (enregistrements audio et vidéo, etc.)
Depuis lors, la passion de Cantel pour la culture populaire brésilienne devint de plus en plus forte, se déployant en une série d’études et, surtout, en alimentant continuellement sa collection de Cordel, qui ne cessa de s’agrandir au long de nombreux voyages et par l’intermédiaire d’un large réseau de contacts dans ce pays.
Au fil des années, ce Fonds, qui aujourd’hui est sous la responsabilité du CRLA depuis son legs officiel en 2001, se transforma en l’une des plus importantes collections européennes de littérature de colportage brésilienne, et constitue un témoignage unique de l’histoire de la production du Cordel. La valorisation de ce patrimoine permet de s’interroger sur la notion de culture « populaire » et d’adopter une perspective multidisciplinaire concernant la diversité des supports sémiotiques en jeux : folhetos, cantoria, dessin, gravures…
A partir de l’inscription de la littérature de Cordel dans la liste du patrimoine culturel immatériel brésilien de l’IPHAN (Institut du Patrimoine Historique et Artistique National), le 19 septembre 2018, il y eut une augmentation de l’intérêt de la part des chercheurs, auteurs et lecteurs de Cordel pour les agents historiques impliqués dans ce processus de patrimonialisation. Nous retrouvons, entre eux, Raymond Cantel dont l’importance pour l’historiographie du cordel est reconnue aussi bien entre les intellectuels qu’au sein des communautés de production et diffusion de cet art. En ce sens, Ulpiano T. Bezerra de Meneses affirme que c’est justement à Cantel que l’on doit la fixation du terme « cordel » pour l’identification de ce bien culturel brésilien : « le terme cordel […] n’est attesté comme norme courante ou dénomination exclusive qu’à partir des années 1950 sous l’influence de Raymond Cantel, un spécialiste de la littérature de colportage […] En tout état de cause, l’expression ‘cordel’ est assez habituelle et commode pour abriter les multiples composantes de ce bien. » (« Solicitação de registro da ‘Literatura de Cordel’ como patrimônio cultural brasileiro», Portail de l’Iphan, 19/09/2018, p. 2 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/cordel.pdf>).
Folheto
fonds
Fonds auquel appartient le document (ex.: Fonds Raymond Cantel, Nouvelles Acquisitions, Fonds de Femmes, …).
FRC
numero_dans_le_fonds
3742
auteur1_normalise
Barros, Leandro Gomes de
auteur1_genre
Homem
lieu_edition
Lieu d'édition
Recife - PE - Brasil
ill_couv
Présence d'une illustration de couverture
não
ill_4_couv
Présence d'une illustration en 4ème de couverture
não
acrostiche
não
Dublin Core
The Dublin Core metadata element set is common to all Omeka records, including items, files, and collections. For more information see, http://dublincore.org/documents/dces/.
Type
The nature or genre of the resource
Folheto
Title
A name given to the resource
Morte de Alonso, vingança de Marina
Creator
An entity primarily responsible for making the resource
Não Informado
Format
The file format, physical medium, or dimensions of the resource
46
Language
A language of the resource
português
Publisher
An entity responsible for making the resource available
A Editora